especialistas recomendam que pais participem da vida digital dos adolescentes

Fernanda Danelon
Especial Para o Estado

Na semana passada, a novela América, da Globo, resolveu tocar num tema espinhoso: a pedofilia. E a porta de entrada para o pedófilo que assedia o garoto Rique (Matheus Costa) é justamente um programa de mensagem instantânea. A autora da novela, Glória Perez, resolveu retratar um caso extremo de assédio de um adulto sobre uma criança.

Mas, mesmo entre adolescentes, a troca de mensagens pode entrar em terrenos minados. Foi o caso real de Roberto (nome fictício), que após o jantar, sentou na sala para usar o computador da família. "Mexi no mouse, o salva-telas sumiu e vi que minha filha de 11 anos tinha deixado a janela do Messenger aberta, no meio de uma conversa. A foto desse amigo dela era uma imagem pornô horrenda."

Ele chamou a filha na hora para identificar quem era. Ela disse que era um colega de escola e contou que outro amigo tinha feito o mesmo. "Eu peguei o telefone e liguei para a mãe dos dois na hora. A grande dificuldade foi as mães entenderem o que o filhos tinham feito."

A empresária Fernanda Toledo também não tem boas experiências com crianças e internet. Certa vez pegou seu filho com seis amigos, todos com idades que iam de 5 a 12 anos, conversando com um estranho sobre sexo.

"A solução foi limitar o acesso a cinco sites pré-selecionados por mim e meu marido", afirma. Para seu filho Pedro, de 9 anos, o pior foi ficar sem o Messenger, mas ele contornou o problema acessando o software na casa de sua avó.

"Esse programa é um perigo. É impossível controlar os temas das conversas e com quem estão conversando. Nós liberamos alguns sites, para ele brincar. O Messenger está proibido, mas na casa da avó não há controle", diz Fernanda. Não apenas o controle, mas o envolvimento na hora de acompanhar a vida digital dos filhos tem sido o principal conselho dos especialistas.

"Os pais escolhem o colégio, o bairro que suas crianças vão freqüentar e o círculo de amigos, mas se esquecem de que na esquina da escola tem um cyber café que os alunos costumam freqüentar", alerta o dr. Ulysses Doria Filho, médico pediatra do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas/FMUSP. "E o adolescente tem um risco acrescido porque é incontrolável, tem gosto por aventura e curiosidade sexual. Eles adoram programas de fazer novos amigos e bater papo", afirma.

O especialista em segurança de crianças e adolescentes na internet ressalta que a melhor solução é dialogar, instruir, alertar: "Antigamente, você saía com seu filho na rua, ensinava a olhar para atravessar, não falar com estranhos... Hoje, tem um mundo eletrônico imprevisível e muito perigoso. Os pais têm que se preparar para educar seus filhos a andar nesse vasto mundo da web."

"Meu filho fica horas no computador, se relacionando com pessoas desconhecidas, e eu não tenho a menor idéia do que ele está fazendo", conta o dentista Luís, pai de Gustavo (nomes fictícios), de 16 anos. O garoto chega da escola e segue direto para o computador. "Antes, eu ficava tranqüilo porque sabia que ele estaria em casa. Mas as circunstâncias mostraram que ele não estava tão seguro assim."

O computador começou a dominar a vida de Gustavo há três anos, quando ele ganhou um PC só seu. "Fui me isolando do mundo real, só tenho amigos na web. Sou capaz de passar 7, 8 horas no Messenger. Estou tomando remédios e fazendo terapia pra me livrar do vício. A internet é a doença do século. Eu a odeio mas não consigo me livrar dela."

A psicóloga Luciana Nunes, estudiosa da antropologia do mundo virtual, dá algumas dicas para os pais: "Se você ainda não entrou na era digital, entre! Conheça o ambiente onde as crianças estão navegando. Participe da realidade delas. É mais um meio de aproximação entre gerações. Fique de olhos abertos para utilização exagerada da internet, além de estabelecer um parâmetro no uso do computador. E não use a internet como babá eletrônica."

 
 
 

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