Governo dos EUA usa convenção para recrutar hackers
 

Andy Sullivan

Hackers, atenção: o Tio Sam quer vocês. Enquanto estelionatários, quadrilhas e outros malfeitores encontram abrigo na Internet, as autoridades federais dos Estados Unidos estão visitando conferências de hackers para angariar talentos e alardear as glórias de uma carreira na linha de frente da guerra da informação.

"Se você quer trabalhar com problemas de ponta, se quer participar de questões realmente importantes da nossa época, convidamos você para trabalhar conosco", disse o secretário-assistente de Defesa Linton Wells aos hackers em uma recente conferência em Las Vegas.

Não que Wells e outros "federais" tenham exatamente se misturado aos participantes da Defcon, uma reunião anual de especialistas em segurança de computadores e adolescentes especializados em violá-la.

O mundo engravatado de Washington parece ser o oposta da Defcon, batizada em alusão ao código de "condição de defesa" (defense condition), um preparativo militar do Pentágono. Os banheiros da convenção são cobertos de grafites, a música eletrônica rola até o amanhecer e os hackers que denunciam os funcionários públicos presentes ganham camisetas.

No painel chamado "Encontre os Federais", destinado a aproximar os dois mundos, um rapaz agitava um manifesto e exigia saber "por que o governo federal, especialmente algumas agências policiais, estão destruindo este país".

Apesar das aparências, os hackers e o governo têm há muito tempo uma relação simbiótica. Verbas públicas financiaram o desenvolvimento da Internet e de muitas outras tecnologias de ponta, e muitos hackers aprenderam seus macetes no serviço militar, antes de entrarem para a iniciativa privada.

As autoridades participam da Defcon desde sua primeira edição, em 1992, embora sejam orientados a não ficarem nos mesmos hotéis dos demais.

Além de recrutar especialistas, os funcionários também conseguem nesse evento criar fontes e se manterem atualizados com a tecnologia. "Estou aprendendo enquanto estou aqui, mas também estou pegando os nomes das pessoas que talvez eu chame mais tarde para termos uma melhor compreensão dos casos", disse Don Blumenthal, que supervisiona o laboratório de Internet para investigadores na Comissão Federal de Comércio.

A tensão entre as autoridades e os hackers chegou ao auge em 2001, quando o FBI prendeu o programador russo Dmitri Skylarov durante a conferência, por ele escrever um programa que poderia quebrar a proteção autoral de livros eletrônicos.

Mas nos últimos anos o relacionamento entre os dois lados melhorou, e agora as autoridades são quase metade do público.

"A gente não pode se enganar pelos uniformes", disse o analista de tecnologia Richard Thieme. "Falei no Pentágono, e um terço das pessoas na platéia eu já conhecia da Defcon."

Isso não significa que o evento se institucionalizou. A capacidade de romper códigos é valorizada acima de tudo, e os participantes que têm seus computadores atacados pelos colegas são apresentados num "mural dos tontos".

Alguns hackers passaram o final de semana inteiro no hotel tentando achar uma nova forma de controlar os roteadores da Cisco Systems, dos quais depende grande parte da Internet.

Muitos defendem essas ações, argumentando que ataques que provocam danos em curto prazo podem conscientizar sobre as ameaças online e, portanto, melhorar a segurança da rede como um todo.

Mas as autoridades deixam claro que não querem trabalhar com as pessoas que violam códigos sem permissão. "Estamos procurando gente que não tenha cruzado essa linha ainda", disse Jim Christy, diretor do Instituto do Cybercrime do Pentágono. "É preciso pegar o pessoal com a moral correta."
 
Reuters

 
 
 

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