Telefone popular pode beneficiar 5 milhões de residências

PATRÍCIA ZIMMERMANN
da Folha Online, em Brasília

O projeto de telefone popular, que está em discussão entre governo federal e operadoras de telefonia fixa, tem um público potencial de 5 milhões de residências.

A Folha Online apurou que dos 50 milhões de domicílios existentes no país, cerca de 35 milhões já possuem linhas telefônicas fixas e não teriam inicialmente direito ao novo serviço. Dos 15 milhões restantes, apenas 5 milhões estariam em áreas urbanas.

Segundo um executivo que participou ontem de reunião com o ministro das Comunicações, Hélio Costa, as empresas consideraram positiva a proposta de buscar um novo serviço para levar a telefonia para população que não é atendida pelo serviço. Esse telefone popular, segundo disse ontem o ministro, seria uma evolução do AICE (Acesso Individual Classe Especial), em discussão na Anatel.

Pela proposta do AICE o custo da assinatura básica poderia cair de R$ 38 em média para R$ 26, mas o valor da ligação ficaria mais alto. O ministro pediu aos empresários que estudem uma fórmula de reduzir ainda mais o valor dessa assinatura sem elevar o custo da chamada.

As empresas aceitaram a proposta de discutir a criação de um serviço com tarifa mais baixa, mas os executivos do setor avaliam que a redução da assinatura deve servir primeiro para atrair quem ainda não tem telefone.

Por enquanto, nenhuma possibilidade está descartada. As teles defendem o uso de recursos do Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações) para financiar parte da redução de custos do novo serviço para a população de baixa renda.

Um grupo de trabalho foi formado para discutir o assunto. A idéia é tentar negociar também com os Estados a redução do ICMS para o "novo telefone popular" a fim de reduzir a mensalidade sem precisar aumentar o custo da ligação telefônica.

Universalização

Enquanto o ministro tenta reduzir a assinatura básica paga mensalmente pelos 40 milhões usuários da telefonia fixa (incluindo comercias), as empresas aproveitam para negociar a retomada do processo de universalização com uso do Fust.

As teles reclamam que até hoje foram arrecadados cerca de R$ 3,6 bilhões desde que o Fust foi criado e nada foi reinvestido no setor, como prevê a lei. O fundo é composto pelo repasse de 1% da receita operacional das empresas de telecomunicações e também de parte da arrecadação com a venda de licenças.

O executivo ouvido pela Folha Online reconheceu a dificuldade em negociar a liberação do que já foi arrecadado, mas disse que as receitas futuras poderiam ser usadas para subsidiar o telefone popular, o que já significaria cerca de R$ 600 milhões por ano.

Ao defender primeiro a universalização para depois reduzir a assinatura dos atuais usuários, o executivo disse que as negociações e fórmulas encontradas para ampliar a base de clientes as empresas poderiam abrir caminhos para avançar em outras etapas.

Mesmo reconhecendo que é difícil para um Estado reduzir sua arrecadação com 40 milhões de linhas telefônicas diminuindo a alíquota de ICMS, as empresas acreditam que seria viável convencer os Estados a abrirem mão de uma arrecadação que ainda não existe, relativa aos novos telefones populares que seriam instalados.

O executivo argumentou que em uma segunda etapa das discussões, poderia haver uma negociação em torno do custo das ligações nos telefones públicos (orelhões), e também sobre a assinatura básica mensal, evitando um impacto instantâneo para os Estados e também para as empresas.

Planos alternativos

A Telefônica e a Brasil Telecom já possuem planos alternativos que permitem ao usuário um custo fixo menor que o das linhas convencionais. Juntos, esses planos correspondem a 2,66 milhões de linhas instaladas, sendo 1,79 milhão da Telefônica e 871 mil da BrT.

As duas empresas oferecem aos seus clientes planos híbridos, em que parte da conta é pós-paga e parte pré-paga. Nesses planos, o cliente paga uma assinatura mensal cerca de 30% mais barata que a convencional, com uma franquia de pulsos também menor (50 na Telefônica e 60 na BrT) que dá direito apenas a chamadas locais para telefones fixos. Para fazer ligações para celulares e interurbanas, é preciso comprar um cartão pré-pago. A BrT também tem planos completamente pré-pagos.

A Telemar não tem planos específicos para a baixa renda, mas 15% das suas linhas residenciais (cerca de 2,25 milhões) contam com algum tipo de controle de gastos, como limitações de uso e bloqueio de chamadas para celular ou interurbanas. De acordo com a assessoria da empresa, enquanto a conta média residencial é de R$ 80, as faturas mensais dos planos de controle têm um custo médio 50% menor

 

 
 

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