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Bode que produz leite
vira atração no RN
Quem disse que bode não dá leite? Pelo menos na zona rural do sertão
de Apodi, no Rio Grande do Norte, sim, bode dá leite. Há quase três
anos o pequeno pecuarista Paulo Luciano Ferreira Gomes, 42 anos,
percebeu que o animal de raça parda alpina começou a andar com as
pernas abertas além do normal. Ao verificar o problema, percebeu que o
bicho estava com duas tetas inchadas, e ao apertá-las, a surpresa: era
leite. Desde então o animal vem sendo a sensação da localidade de
Melancias II.
Paulo diz que comprou o bode ao preço de R$ 1 mil quando o animal
tinha dois anos e meio de idade. "Ele já tinha duas tetas
pequenas", comenta o homem, acrescentando que esse detalhe não
influenciou na compra, uma vez que seu interesse era apenas na raça.
Hoje, a raça é importante, mas o fato de ser o único bode capaz de
produzir leite mudou o conceito de importância. O pecuarista diz que já
recebeu várias ofertas, mas nenhuma foi capaz de convencê-lo a vender
o animal.
Ele afirma que existem apenas dois bodes no curral voltados à produção,
e o que dá leite é um deles. "Esse bode é de raça e já tem até
netos", diz, acrescentando que o que é considerado um problema de
ordem genética no bode favorece às pequenas cabras.
O bode virou atração e, de tanto se falar do animal, o dono recebeu
convite para expor o bicho na Caprifeira do Vale do Apodi, realizada
pela Associação de Fomento aos Criadores de Caprinos e Ovinos da Região
de Apodi (ASFOCO). "Ele chamou a atenção de todo mundo", diz
o homem, sem disfarçar o orgulho.
O pecuarista lembra que quando comprou o animal muitas pessoas se
revoltaram pelo fato de o bode apresentar a anomalia. As reclamações
pararam quando as tetas do bicho incharam e delas saíram esguichos de
leite.
A ordenha do bode só acontece quando as glândulas mamárias estão
muito inchadas, o que acontece a cada oito dias. No entanto, técnicos
da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER/RN),
orientaram o pecuarista a não estimular a produção de leite no
animal, pois esse fator poderia provocar a perda do interesse pelas
cabras.
"Se eu estimular a produção de leite os ubres dele vão
crescer mais", diz o proprietário, comentando que muita gente
ainda duvida de que exista um bode que tem característica de fêmea.
O rebanho do pequeno pecuarista é formado por 125 cabeças, sendo 40
filhos e netos do velho bode.
Fator genético
O veterinário Faviano Moreira explica que o bode nasceu com alteração
ginecomastia - fator genético que aumenta as glândulas mamárias nos
machos, provocado por alteração hormonal. Segundo ele, até a
puberdade as glândulas mamárias crescem, e depois, na fase adulta, não
apresentam aumento. No caso específico do bode, o nível de protactina
- um tipo de hormônio - é presente além do normal.
"Bode não pode
ter leite. Esse leite não tem característica boa", diz o
veterinário. Moreira afirma que o caso do animal pode ser analisado por
professores da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA).
"Se houver interesse e o proprietário permitir, o sangue e o leite
do bode podem ser estudados", disse.
Tribuna do Norte
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