Decreto de Lula vai baratear compra de PCs a prazo

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JOÃO SANDRINI
da Folha Online

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve assinar em até 15 dias um decreto que amplia as possibilidades de concessão de crédito para as empresas de varejo e, dessa forma, vai baratear o custo dos financiamentos para a compra de computadores populares pelos consumidores.

Segundo Cézar Alvarez, o assessor especial da Presidência da República responsável pelo programa 'Computador para Todos', o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) e o Ministério do Desenvolvimento já deram o aval necessário para que o decreto modifique uma lei de 1962 que restringe a concessão de crédito a empresas de varejo.

O BNDES é hoje a principal fonte de financiamento a custos baixos para as empresas brasileiras e tem reservado R$ 300 milhões para a compra de PCs. A única rede de varejo que já conseguiu fechar acordo com o banco para financiar a compra de computadores de até R$ 1.400 foi o Magazine Luiza, que nos últimos dez dias de dezembro vendeu 15 mil máquinas e chegou a ficar sem estoques.

Alvarez afirmou que outras grandes redes de varejo, como o Ponto Frio, já tentaram ter acesso a linhas de crédito semelhante, mas, de acordo com a lei 4.131/62, as empresas cujo acionista majoritário tenha residência no exterior estão proibidas de tomar empréstimos no BNDES com juros atrelados à TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo).

Restou às grandes redes de controle estrangeiro a opção de tomar empréstimos no BNDES com juros atrelados à oscilação cambial de uma cesta de moedas estrangeiras. "Apesar de ter um custo hoje semelhante ao dos empréstimos atrelados à TJLP, as linhas de crédito que oscilam com o dólar são evitadas pelos empresários, que não têm como repassar esse risco ao consumidor', afirmou Alvarez à Folha Online.

Ele lembrou que o decreto 2.133, assinado durante o governo FHC, limitou o alcance da lei 4.131/62 e permitiu que multinacionais de diversos setores pudessem ter acesso a linhas de crédito atreladas à TJLP. "O que estamos fazendo agora é apenas incluir nessa lista de exceções o setor de varejo, que tem boa parte de seu capital em mãos de estrangeiros", disse.

Ele também afirmou que o grande diferencial do Magazine Luiza no último Natal foi conseguir oferecer prestações com juros menores que os concorrentes. 'Acho que temos então de dar condições iguais de competição às empresas', disse.

Após a edição do decreto, o BNDES poderá emprestar recursos aos varejistas com um custo máximo de TJLP (hoje em 9% ao ano) mais até 6,5% (já incluída a taxa cobrada pelos bancos pelo repasse do empréstimo do BNDES).

Dessa forma, os computadores podem chegar ao consumidor com um juro de 2% a 3% ao mês, taxa bastante abaixo das praticadas no mercado.

Bancos como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil já oferecem empréstimos para a compra de computadores populares com juros de 2%. No entanto, essas linhas exigem o pagamento de uma taxa de abertura de crédito. Além disso, o cliente deve possuir cartão de crédito ou débito com a bandeira Visa para tomar crédito no BB. Já o empréstimo da Caixa é restrito a proprietários de conta corrente ou poupança no banco.

Internet

Também nos próximos dias o Planalto espera receber do Ministério das Comunicações uma nova proposta para que as empresas de telefonia passem a oferecer tarifas mais baixas para a utilização pela população de baixa renda da internet por meio de linhas discada.

Desde o início da elaboração do programa 'Computador para Todos', o governo sempre planejou que as teles facilitassem a inclusão digital dos mais pobres cobrando apenas R$ 7,50 por 15 horas de acesso mensal à internet --em sua primeira fase o programa chamava-se 'PC Conectado'.

Essa proposta ganhou importância com as mudanças determinadas pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) para as tarifas da telefonia fixa. Entre março e julho, as teles deverão modificar a fórmula de cobrança das chamadas locais, com a substituição do atual sistema de pulsos por minutos.

A alteração vai baratear o custo de ligações inferiores a três minutos, mas encarecerá em 117% uma ligação de dez minutos, por exemplo. Como o usuário de linha discada geralmente gasta bem mais de três minutos quando navega na internet, cresceu a importância de o governo negociar com as teles uma forma de dar um acesso mais barato para a população de baixa renda.

No ano passado, o governo não chegou a um acordo com as teles. A proposta do ministério previa o oferecimento desse tipo de serviço apenas ao mais pobres --solução que poderia ser questionada juridicamente, uma vez que a Lei Geral de Telecomunicações estabelece que o serviço não pode ser oferecido apenas a uma parcela determinada da população.

Alvarez prevê que o Ministério das Comunicações chegue a um acordo com as teles ainda no primeiro trimestre. Ele também afirma que no prazo de 12 meses transcorridos a partir da MP do Bem --editada inicialmente em julho de 2005-- os brasileiros deverão ter consumido 1 milhão de novos PCs.
 
 

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