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Viciados
em internet conversam para superar doença
SÉRGIO VINÍCIUS
da Folha de S.Paulo
O Proad e a clínica da PUC tratam de pacientes por linhas
diferenciadas. Na entidade mantida pela Unifesp, os tratamentos
são presenciais. Na clínica da PUC, a maior parte dos
atendimentos é realizado via e-mail, mantendo o anonimato dos
pacientes. Entretanto ambas tem um ponto em comum: atendem
gratuitamente quem procura ajuda.
O Proad, inicialmente, tratava de casos como vício em jogos,
compulsão para sexo e para compras, todos enquadrados no quesito
dependências comportamentais. Há cerca de um ano, percebendo que
havia um problema crescente ligado às novas tecnologias, a
entidade incluiu em seus quadros o auxílio a viciados em
internet.
Atualmente, há dois pacientes sendo tratados devido ao problema.
No total, quatro já passaram pelo programa que, por meio de
psicoterapia, tenta reverter a situação dos doentes. A
psicoterapia é um tipo de tratamento da psicologia que abrange
diferentes métodos. A comunicação verbal e não-verbal e a
relação do paciente com o psicoterapeuta, entretanto, estão
presentes em qualquer tipo de psicoterapia. Esse modo de auxílio
pode ser realizado individualmente, com casais, famílias ou em
grupo, como ocorre na clínica.
"As sessões reúnem dependentes da internet e pessoas com outros
vícios", contou Aderbal Vieira Júnior, que coordena o programa
de atendimento. "Os grupos são de até oito pessoas e, em geral,
há melhora inicial depois dos primeiros três meses de terapia."
Embora o tratamento coletivo de pacientes passe a impressão, em
um primeiro contato, de ser igual ao que ocorre com grupos de
auxílio a outros viciados, como o A.A. (Alcoólicos Anônimos),
Júnior explica que a psicoterapia é diferente. Em comum, ambos
os processos só tem o fato de serem eventos realizados
coletivamente.
"Na psicoterapia, todo o tratamento é monitorado por
profissionais", conta o psicólogo. Já em grupos como o A.A., a
base do auxílio é formada pelas experiências dos próprios
viciados, que contam suas histórias pessoais e tentam se apoiar
no problema comum para alcançar a cura.
PUC
Na clínica da PUC, às segundas-feiras e quintas-feiras, oito
psicólogos voluntários se reúnem e debatem assuntos ligados à
psicologia e informática. Os estudos renderam um livro
("Psicologia e Informática - O ser humano diante das novas
tecnologias", vários autores, editora Oficina do Livro).
Além da troca de experiências, eles se dedicam a atender
pacientes por e-mail. Durante o auxílio eletrônico, eles não
pedem quaisquer dados pessoais do paciente, nem mesmo nome ou
sexo.
O atendimento eletrônico não exclui o atendimento pessoal, mas o
grupo revela que pacientes com problemas ligados a internet
preferem se manter no anonimato e enviar e-mails.
"Se a pessoa chegar à clínica, poderemos atender, mas o forte
mesmo é o auxílio eletrônico realizado por e-mail", informou a
professora Rosa Farah, coordenadora do projeto.
"Muitas vezes, quem entra em contato conosco são amigos e
parentes da pessoa com problemas, pedindo orientações."
O grupo trabalha com assuntos relacionados com tecnologia desde
1995 e já respondeu a cerca de 5.400 e-mails em todos esses anos
de atividade. Os casos variam de acordo com a época, mas a maior
parte tem relação com traições on-line, jogos digitais e, claro,
o excesso de tempo que pessoas passam na rede.
"Quando há preocupação com o tempo que alguém fica conectado,
dificilmente é o próprio doente, mas alguém próximo que entra em
contato conosco", conta Rosa. "Não há um padrão de ajuda. Cada
caso reportado é avaliado de forma individual, e recebe um
tratamento diferenciado."
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