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Vírus digitais vão ficar ainda piores", diz especialista
JULIANO BARRETO
da Folha de S.Paulo
O discurso dos especialistas em segurança é sempre muito
parecido. Começa falando das ameaças que assolam a internet e
termina com a sugestão: "Compre nossos produtos e tudo será
resolvido". O canadense John Howell, 43, especialista em
segurança da Nortel, foge um pouco da regra. Sua missão é fazer
apresentações mostrando os problemas da rede e o perfil dos
hackers. Vender programas, segundo ele, é uma tarefa secundária.
Em visita ao Brasil para demonstrar produtos de sua empresa, que
acaba de firmar parceria com a Microsoft para desenvolver
produtos de segurança, Howell conversou com a Folha e
demonstrou pessimismo em relação ao cenário atual da segurança
digital. Confira a seguir.
Folha - Nas sua apresentação, o senhor mostra casos reais de
problemas criados por ataques realizados pela internet. Quais
sãos os mais graves?
John Howell - Creio que são os ataques a empresas de
comunicação. Temos exemplos de companhias de conteúdo, como
redes de televisão e editoras de revistas, que desenvolveram
sites que custaram centenas de milhares de dólares e foram
tirados do ar. Imagine os prejuízos de um portal que tem dezenas
de seções e, de repente, perde completamente seu conteúdo. É
devastador, porque abala a confiança do consumidor naquela marca
e custa muito caro para consertar. Os gastos para restaurar a
estrutura de servidores e de dados após um ataque bem aplicado
podem ultrapassar US$ 1 milhão. Certos invasores profissionais
podem fazer a coisa mais assustadora de todas: ver e não tocar.
Eles acumulam conhecimento sobre uma empresa, e essas
informações se transformam em poder e em dinheiro. Com
conhecimento, poder e dinheiro, há muito pouco que não possa ser
feito.
Folha - Qual é o maior ponto fraco da internet?
Howell - As pessoas, definitivamente. São humanos, e
humanos erram. Quando consertamos um problema, as pessoas vêm
novamente e fazem coisas erradas de novo.
Folha - Nos próximos dez anos, continuaremos a ter problemas
como falhas de segurança em programas e ataques de negação de
serviço?
Howell - Sim, absolutamente. Sempre teremos problemas
novos e diferentes. Use como exemplo o vírus da gripe. Em todos
os anos, aparecem novas variações, geralmente mais resistentes,
que mudam um pouco em relação à versão anterior. Os vírus de
computador um dia vão acabar? Não. Eles vão sofrer mudanças?
Sim. Se continuarmos a comparação entre as pragas virtuais e as
reais e lembrarmos da gripe do frango, acho que os vírus de
computador podem piorar muito. O mesmo podemos dizer sobre os
ataques de negação de serviço, os cavalos-de-tróia e outras
ameaças. Eles não vão acabar, mas ganharão sofisticação e
ficarão mais inteligentes.
Folha - É possível quantificar os prejuízos causados por
softs espiões e pelo spam?
Howell - Isso depende . Acredite ou não, mesmo os
profissionais de segurança não sabem até onde um hacker pode ir.
Além dos gastos com programas de proteção, a segurança digital
pode envolver prejuízos incalculáveis. Imagine que existem
invasores que não apenas enviam dados para uma rede. Eles já
podem controlar a estrutura e também receber informações
confidenciais. Conhecemos o princípio de networking (rede), mas
já existem as redes de hacking. São invasores reunidos tirando
proveito de várias máquinas comprometidas. As pessoas parecem
achar que uma invasão é como uma cirurgia no cérebro. Um médico
abre a cabeça do paciente e coloca ou remove coisas lá de
dentro. Não é assim. Os hackers atingiram um nível profissional
para compreender e tirar proveito das redes e dos sistemas
operacionais vulneráveis.
Folha - Atualmente a motivação dos invasores é o dinheiro ou
a fama?
Howell - Certamente é o dinheiro. Hoje existe um número
muito maior de hackers profissionais do que de aventureiros. São
adolescentes que brincavam nos porões há 15 anos e hoje são
adultos, são especialistas que atingiram a maturidade. Mesmo
assim, ainda existe aquela imagem de que os hackers são garotos.
No meu emprego, eu lido com esse público com freqüência, e é
engraçado. Eu vejo um cara com mais de 30 anos e digo: "Você não
me parece ser um adolescente".
Nesse grupo de adultos, temos aqueles que evoluíram de uma
maneira positiva e aqueles que escolheram o caminho do mal, do
crime.
Os hackers de "white hat" sabem o que estão fazendo e podem
explicar como uma empresa pode se defender. Eles dão aulas ou
trabalham em empresas de segurança. Já os "black hats" empregam
vários expedientes para roubar empresas. Há casos até de grupos
que usaram pessoas infiltradas em uma companhia para ter acesso
a uma rede e fazer chantagem com seus donos.
Do outro lado desse ambiente, estão os "script kiddies", que,
geralmente, são muito mais jovens e apenas seguem receitas de
como invadir computadores ou derrubar sites.
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