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Debilitada militarmente, Al Qaeda resiste graças à internet
JÉROME BERNARD
da France Presse, em Washington
Embora debilitada militarmente, a rede terrorista Al Qaeda
resiste graças à internet, que lhe permite manter contato com
seus partidários e difundir sua ideologia para atrair novos
recrutas, advertem especialistas americanos em terrorismo.
"Mesmo que seus membros estejam dispersos, a Al Qaeda é uma
organização hierarquizada, capaz de ordenar, planejar e executar
audazes golpes terroristas", disse Bruce Hoffman, especialista
da Universidade de Georgetown, em uma audiência recente em
frente ao Congresso americano, em Washington.
"É a internet que permite a esta rede de jihadistas
[fundamentalistas islâmicos] continuar existindo, apesar da
potência militar dos EUA", declarou durante esta audiência Rita
Katz, diretora do Instituto Site, que vigia os sites extremistas
na rede.
"Os jihadistas têm cada vez mais dificuldades em se comunicar e
coordenar utilizando meios de telecomunicação tradicionais
facilmente detectáveis, como os telefones celulares ou via
satélite. A internet, ao contrário, lhes dá um meio de
comunicação flexível e imediato", acrescentou.
Segundo Katz, os sites na internet, blogs, serviços de mensagem
instantânea e outras ferramentas da internet permitem à Al Qaeda
doutrinar, comunicar, recrutar e planejar seus ataques.
Apesar de seu isolamento, o líder da Al Qaeda, Osama bin Laden,
e seu "braço direito", Ayman al Zawahiri, "continuam em contato
com seus partidários, difundindo declarações via internet
destinadas a uma audiência mundial", afirmou.
Segundo Katz, o grupo que coordena a distribuição na rede das
declarações de Bin Laden e Zawahiri se chama Centro Al Fajr.
Este centro publica programas e manuais que explicam aos
jihadistas como se comunicar entre si na internet "de forma
segura, utilizando métodos de criptografia".
Esta capacidade da Al Qaeda de se coordenar graças à internet
inquieta os especialistas, que pedem para que não se subestime a
ameaça que a rede terrorista representa.
Mais de cinco anos depois do 11 de Setembro, "a ameaça
terrorista se tornou mais variada, mais complexa e mais difícil
de entender do que nunca", advertiu durante a mesma audiência
Daniel Benjamin, especialista da Brookings Institution.
"Apesar das conquistas significativas e reais no desmantelamento
das redes terroristas, a ameaça terrorista subsiste e não parece
diminuir", acrescentou Katz.
As redes terroristas "evoluíram ao ponto de que nenhuma arma,
bomba ou assassinato podem danificá-las de forma permanente",
acrescentou.
Segundo Benjamin, a experiência iraquiana mostra que o uso da
força militar apresenta um problema quando se trata de lutar
contra "um movimento impulsionado pela ideologia" como o dos
jihadistas.
Desta forma, para ganhar, os especialistas recomendam atacar a
Al Qaeda em seu ponto forte: a ideologia.
"O sucesso da estratégia americana dependerá da capacidade de
Washington de contrabalançar a atração ideológica da Al Qaeda",
disse Hoffman.
"Sem conhecer nosso inimigo, não podemos penetrar em suas
células com sucesso", acrescentou.
A batalha no campo das idéias é essencial, afirmou Jarret
Brachman, especialista em terrorismo da academia militar de West
Point.
Brachman sugere que o governo americano estabeleça um centro de
pesquisas "cujo único objetivo seja identificar defensores
influentes do terrorismo, analisar seus trabalhos estratégicos e
ideológicos e divulgar a análise a outras áreas do governo
implicadas nesta batalha". |
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