Veja os erros e acertos de Gates como futurólogo

Pela décima vez, Bill Gates irá inaugurar o International Consumer Electronics Show (CES) em Las Vegas ao falar sobre produtos da Microsoft e descrevendo sua visão do futuro da computação.

Antes de você correr para a poltrona no domingo, considere isto: Gates não é exatamente um bom prognosticador. Sendo justo, como diz a velha piada, predições são difíceis, principalmente aquelas sobre o futuro. Acompanhar a tecnologia no horizonte é uma coisa, outra completamente diferente é prever problemas de execução, de negócios e de competitividade que podem aparecer pelo caminho.

E, afinal, é Bill Gates. O cara experiente que passou mais de 30 anos no topo do que resta (por enquanto, pelo menos) da entidade dominante em computação pessoal, uma empresa que despeja US$ 7 bilhões por ano em pesquisa e desenvolvimento. Seu poder é tão grande que os organizadores da CES sempre dão a ele o lugar mais importante do evento. E então, como este é o último ano de Gates antes de deixar suas atividades na Microsoft para se dedicar à filantropia, é uma boa época para analisar seu histórico.

Vamos restringir o exame aos discursos de Gates na CES e na Comdex, uma feira extinta rival da CES. Se formos adiante, teríamos que citar o caso de 2004 onde Gates disse no World Economic Forum que o spam estaria "resolvido" até 2006. E isso não ficaria bem para ele.

Primeiro, os pontos altos, ou acertos. Eles incluem a estréia do Xbox na CES de 2001. O console se tornou o hardware de maior sucesso da Microsoft.

Em 2000, Gates corretamente explicou a importância crescente de dispositivos móveis em rede, mesmo quando os PCs ainda estavam prevalecendo. No ano seguinte ele previu que a porcentagem de casas americanas com PC iria crescer apenas 50% e em 2010 75%.

Dependendo de onde você fizer sua pesquisa, Gates mais ou menos acertou. Empresas de analistas como a IDC e a Forrester Research dizem que o número já atingiu 75%, enquanto a Gartner diz que estão quase lá.

E se você estivesse prestando atenção em Gates em 1999, você teria ouvido sobre a importância do XML e de um sistema de programação que facilitaria o compartilhamento de informações.

E vamos aos pontos baixos...

- Na CES em 1995, Gates descreveu uma forma de fazer a "experiência computacional" melhor. Seu nome era Bob. Bob era um programa de US$ 100 que tentava fazer editores de texto, contabilidade e e-mail mais intuitivos. Com imagens de salas em uma casa e personagens como Java, um dragão maluco por cafeína, Bob deixava que os usuários clicassem em algo tipo uma folha de papel em uma mesa para rodar um programa para escrever uma carta. A idéia era bem da época: alguns analistas se impressionaram e disseram que a Microsoft estaria muito à frente da Apple em uma corrida crucial para a incorporação de personagens animados no uso do PC. Mas Bob requeria o dobro da memória dos PCs normais da época, encontrou poucos compradores e se tornou uma bomba infame.

- Em 2002, Gates disse na CES que "o entrenimento nunca mais será o mesmo". Por que não? Por causa de um dispositivo sem fio chamado Mira. Era uma tela sensível ao toque, portátil, capaz de mostrar conteúdo da Internet e enviar arquivos de música de um computador em um ambiente mais relaxado como a sala ou a cozinha. Mas não funcionou com a Home Edition do Windows XP; requeria a versão Pro. E não mostrava vídeo. A Microsoft licenciou a tecnologia Mira para empresas para a criação de "monitores inteligentes", gerando mais expectativa na CES 2003. Mas com preços na mesma média dos laptops, acima de US$ 1 mil, telas inteleigentes eram raras e em 2004 a Microsoft abandonou o projeto.

- Na Comdex de 2002, Gates disse que a próxima revolução incluiria SPOT - a "smart personal objects technology" (tecnologia de objetos pessoais inteligentes) da Microsoft. A idéia era que canetas, relógios e outros objetos do cotidiano pudessem conectar-se à Internet e mostrar pequenos pedaços de informação, como manchetes, clima ou resultados de esportes. A Microsoft e empresas parceiras tiveram que fazer um sistema operacional para chips de baixo consumo para os objetos e mais um sistema de transmissão de dados. Os primeiros aparelhos - alguns relógios, um dispositivo para previsão do tempo e uma cafeteira - eram longe de serem revolucionários. Somente agora a tecnologia SPOT está mostrando o verdadeiro valor em dispositivos de navegação.

- Mesmo quando Gates esteve certo, ele esteve errado. Pegue o discurso em 2001, em que ele profetizou que 75% das casas americanas teriam PCs. Ele também disse que, em cinco anos, o computador mais popular seria o Tablet, um aparelho que responde a comandos de escrita. Gates não chegou nem perto. O IDC contou 3,3 milhões de vendas de Tablet PCs no mundo em 2007, apenas 1,2% de todos os computadores.

A seu favor, Gates tem ainda um bom senso de humor, então provavelmente leva na boa sua fraqueza como um oráculo. Mas uma porta-voz da Microsoft disse que ele não estava disponível para comentar a questão.

AP

 

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