LONDRES - Milhares de pessoas vêm
acompanhando o destino de um soldado
britânico que combateu nas trincheiras
da 1a Guerra Mundial, lendo num site,
exatamente 90 anos mais tarde, as cartas
que ele escreveu para sua família.
Como fez a família de William Henry
Bonser ("Harry") Lamin quase um século
atrás, o leitor moderno que visita o
site www.wwar1.blogspot.com não sabe
quando a próxima carta vai chegar, nem
se a carta que está lendo será de fato
sua derradeira.
Muitos já preparam seus espíritos
para ler o temido telegrama do exército
notificando os familiares da morte de um
soldado.
"Muitas pessoas vêm dizendo que
torcem por Harry", comentou Bill Lamin,
59 anos, o professor de informática que
encontrou as cartas de seu avô quando
era menino e decidiu convertê-las num
blog.
"Elas ficam fascinadas, como se tudo
estivesse acontecendo hoje."
As missivas mais recentes de Harry,
que serviu no Regimento de Yorkshire e
Lancashire, foram escritas em 30 de
dezembro de 1917, depois de ele ser
enviado dos campos de batalha do norte
da Inglaterra para a Itália.
Ele agradece a seu irmão, Jack, pela
caixa de biscoitos que enviou e deseja
um feliz Natal e ano Novo a sua irmã
Kate.
Muitas das cartas falam de assuntos
corriqueiros e focalizam a mulher e a
filha de Harry, na Inglaterra, mas
algumas oferecem vislumbres dos horrores
da guerra das trincheiras.
"Passamos por mais momentos terríveis
esta semana", escreveu Harry em 11 de
junho de 1917, descrevendo sua
participação na batalha de Messines
Ridge.
"Os homens aqui dizem que foi o pior
momento desde a ofensiva do Somme, em
julho passado. Perdemos muitos homens,
mas chegamos a onde fomos mandados. Foi
horrível. Eu estou bem. Fiquei soterrado
e fui contundido, mas agora estou bem e
espero continuar assim."
"É duro esperar o tempo passar para
sairmos das trincheiras, e sem bebida. O
comandante foi morto e nosso capitão
também, foi uma maravilha termos
escapado."
Em outra carta de outubro do mesmo
ano, detalhes sobre mortos do lado
britânico foram riscados, possivelmente
por censores militares interessados em
impedir que a moral dos britânicos em
casa desabasse.
Lamin disse que o número de visitas
diárias a seu site chegou a 20 mil na
semana passada, depois de serem
publicadas informações sobre o blog na
imprensa, mas que normalmente há menos
visitas.
"A 1a Guerra Mundial sempre fascinou
as pessoas devido a seus horrores",
disse ele.
Dezenas de pessoas escreveram ao site
para comentar as experiências de Harry,
incluindo muitas dos EUA.
Um leitor anônimo escreveu: "Quando
eu era menino, me ensinaram que a guerra
é gloriosa. Agora sei que é exatamente o
contrário e ensinarei isso a meus
filhos."
Lamin se negou a dar pistas quanto ao
que aconteceu com Harry, dizendo apenas
que ele nasceu em 1887.