EUA: universidade cria laser mais potente do mundo

Um feixe de laser de intensidade inédita foi desenvolvido na Universidade do Michigan. Mas qual é sua potência efetiva, e para que finalidade ele será utilizado? A Nature ouviu os responsáveis pelo projeto para responder algumas das principais questões envolvendo o tema.

Estamos mesmo falando do laser mais intenso do universo?
Sim. É isso que os cientistas que estão trabalhando no laser "Hercules", da Universidade do Michigan em Ann Arbor, alegam. "Trata-se do laser de maior intensidade que já foi demonstrado", afirma Karl Krushelnick, membro da equipe que está conduzindo a experiência.

A intensidade de um feixe de laser é o volume de energia que ele produz por unidade de tempo e unidade de área. O feixe recordista na verdade tem baixo nível energético - apenas 20 joules, ante os cerca de oito mil que um drops comum armazena - mas essa energia é comprimida em um ponto muito pequeno, com cerca de 1,3 micrômetros de diâmetro, ou cem vezes mais fino que um cabelo humano, por um prazo de apenas 30 femto-segundos (quatrilionésimos de segundo). Assim, o feixe tem uma intensidade duas ordens de magnitude superior à mais alta que havia sido atingida anteriormente.

O feixe também pode pulsar uma vez a cada 10 segundos. Outros lasers, mais poderosos, podem na melhor das hipóteses, pulsar uma vez por minuto, e não podem ser concentrados em um ponto tão pequeno.

Como os pesquisadores conseguiram esse resultado?
Usaram uma técnica chamada de amplificação de pulso trinado. O feixe de laser é distendido com um amplificador óptico que o torna muito mais longo que o habitual, e depois comprimido de volta a um pulso menor. Isso elevou a potência do laser "Hercules" de titânio-safira de 50 terawatts a 300 terawatts, e essa potência foi concentrada em um ponto reduzido a fim de produzir o feixe de intensidade recorde.

É o mais poderoso feixe já produzido?
Não. Existem lasers na faixa dos petawatts, ou quatrilhões de watts. Por exemplo, o laser Astra-Gemini, do Laboratório Rutherford Appleton, em Harwell, no Reino Unido, inaugurado em novembro de 2007, conta com um laser de 0,5 petawatt.

O que será feito com esse feixe superintenso?
Um laser dessa intensidade representa território inexplorado. Os elétrons de qualquer material que o feixe atinja seriam acelerados até perto da velocidade da luz, o que os levaria do mundo da física clássica para o da física relativista ou quântica. Teoricamente seria possível fazer com que elétrons viajem rápido a ponto de aumentar suas massas.

Mas, por enquanto, as aplicações do feixe "Hercules" de alta intensidade provavelmente estarão na melhora da tecnologia de laser atual. Por exemplo, um feixe intenso como esse poderia tornar possível ferramentas poderosas como a fonte de luz Diamond, do laboratório Rutherford Appleton, mas no espaço de um pequeno laboratório, e não de cinco campos de futebol.

Há também a chance de que o feixe de alta intensidade possa ser investigado em termos de poder de fusão. No momento, é possível deflagrar fusão nuclear com um laser de alta energia. Kruselnick diz que o feixe do "Hercules" poderia ser usado para ajudar a compreender a física desse processo.

E se o feixe me apanhar?
"Você sairia seriamente queimado", diz Krushelnick, mas não de modo terrível - lembre-se de que o feixe contém pouca energia e só dura 30 femto-segundos. E você terá 10 segundos para se mover o 1,3 micrômetro necessário a escapar do próximo pulso.
 

 

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