Fones de ouvido do futuro terão som tridimensional

A música dos meus anos de adolescência chegava por rádio AM. Agora, quando ouço música, ela vem em formato digital, distribuída por fones de ouvido. Diante do barulho enlatado e repleto de estática de minha juventude, como eu poderia desejar som melhor? Talvez isso seja surpresa para vocês, mas especialistas já estão trabalhando na próxima geração de produtos de som. E eles obedecerão ao tamanho e formato de suas orelhas.

Em empresas iniciantes e laboratórios de pesquisa de todo o mundo, a reprodução de música vem sofrendo uma transformação fundamental. Em um laboratório nas cercanias de Paris, por exemplo, os pesquisadores estão trabalhando em como recriar de maneira precisa o som que os engenheiros pretendiam quanto estavam no estúdio mixando discos.

Mas o objetivo do projeto é reproduzir esse nível de fidelidade em fones de ouvido simples como os que carregamos conosco, e não por meio de equalizadores e alto-falantes que custam milhares de euros, como pode ser o caso para um bom sistema doméstico de som ou em uma sala de cinema.

Brian Katz, do Centro Nacional de Pesquisa Científica francês, afirma que seu trabalho se baseia no princípio de que nossa percepção do som é individual, e é determinada pelo tamanho e forma de nossas orelhas e crânios, uma distinção que os fones de ouvido atuais não levam em conta.

Ele está trabalhando com a Arakmys, uma empresa de Paris, em um projeto de três anos cujo objetivo é levar som tridimensional aos fones de ouvido. A idéia vem sendo alardeada pela Arakmys com a definição "ouça com seus próprios ouvidos", em oposição a ouvir música por meio de fones que talvez funcionem melhor em orelhas de outras pessoas.

No sentido comercial, a idéia funcionaria assim: você usaria o seu celular para fotografar a lateral de sua cabeça e seus ouvidos. As fotos seriam enviadas pela rede de telefonia móvel a um serviço que as analisaria em comparação a um banco de dados repleto de imagens tridimensionais de orelhas.

O serviço descobriria que modelo é mais semelhante ao de suas orelhas, e enviaria ao seu aparelho software personalizado que alteraria a música ouvida de uma maneira que permita recriar precisamente as intenções do artista.

Com o tempo, de acordo com Philippe Tour, presidente-executivo da Arakmys, o software poderia ser integrado diretamente a aparelhos móveis pelos seus fabricantes, com os quais a empresa está colaborando no momento, sem exigir que os usuários alterassem ou modificassem de qualquer maneira os seus fones de ouvido.

Katz apresentará na metade do ano um estudo que prova algo que todos nós já suspeitamos um dia: a existência de imensas diferenças entre os diversos tipos de fones de ouvido, dos que recobrem as orelhas aos usados dentro do ouvido, dos baratos aos caros, dos fechados aos abertos.

"O que se contata é que, sim, existe muita diferença entre eles", afirma Katz, "porque a resposta física do fone de ouvido e a física de seu funcionamento não são as mesmas em todos os modelos. Mas isso também demonstra que, por meio de equalização suficiente, pode-se produzir fones de ouvido pequenos e baratos com qualidade som semelhante à dos aparelhos de maior porte e mais dispendiosos".

"Não digo que tenham a mesma fidelidade, mas é possível abandonar os velhos parâmetros em termos de som espacial", disse Katz. "No entanto, continuará a existir um limite físico para a capacidade de um pequeno alto-falante".

Os benefícios da melhora de um fone de ouvido podem se estender a usos não relacionados ao entretenimento, além disso. O som tridimensional dos fones de ouvido poderia ser usado como assistência à navegação para cegos, o que permitirias que celulares dotados de sistemas GPS e som tridimensional oferecessem orientação.

Outra aplicação não musical seria tornar mais realistas as teleconferências realizadas com celulares. "Em uma sala, o cérebro humano foi desenvolvido para separar vozes. A pessoa não encontra problemas para distinguir quem está falando, se todos estão sentados à mesma mesa", afirma Katz. "Já pelo telefone todas as vozes parecerão vir do mesmo lugar". Com o som tridimensional, é possível recriar essa distribuição física de uma reunião real enquanto a pessoa está sentada em um banco de parque, ele diz.

Hoje, pesquisas militares estão investindo milhões para determinar o melhor uso do som tridimensional para propósitos de defesa. O esforço da Arakmys e do CNRS é levar os resultados dessas pesquisas multimilionárias ao mercado comercial de massa.

Herald Tribune

 

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