Reuters
SÃO PAULO - A internet, disseminada
em grande parte do país nos últimos
dez anos, ainda gera polêmica quando
se trata do uso por políticos em
época de eleição.
De um lado, a Justiça quer
restringir sua utilização na
campanha municipal deste ano. De
outro, candidatos defendem liberar o
uso da rede com o argumento de que
as regras do mundo real devem ser
aplicadas ao mundo virtual, sem
diferenciações.
Alegam ainda que a rede mundial
de computadores é um instrumento
barato e portanto democrático de
contato com os eleitores. Cerca de
40 milhões de brasileiros têm acesso
à Internet, segundo estimativas.
"A resolução da Justiça eleitoral
é equivocada no mérito. Ao invés de
estimular, inibe o uso da Internet,
e causa situação de instabilidade
jurídica", disse à Reuters o
deputado Julio Semeghini (PSDB-SP),
membro da Comissão de Ciência e
Tecnologia, Comunicação e
Informática da Câmara.
A comissão vai agendar na semana
que vem um encontro com o presidente
do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
para tentar alterar a determinação
do órgão.
A resolução 22.718, que traz as
regras para a campanha eleitoral
deste ano, prevê que a propaganda
eleitoral na Internet seja realizada
apenas em um site em nome do
candidato, nada mais.
Em uma consulta sobre a
resolução, quando se questionavam
detalhes, os ministros do tribunal
preferiram não se manifestar de
maneira formal e decidiram que
caberá às instâncias da Justiça
eleitoral analisar caso a caso as
demandas dos políticos que se
sentirem atingidos negativamente por
informações veiculadas da Internet.
Ex-ministro do TSE, Torquato
Jardim concorda de forma irônica com
a decisão da Justiça de decidir
pontualmente sobre eventuais
excessos na Internet.
"Sábia a decisão do TSE de
decidir caso a caso. Se alguém for
tão incompetente a ponto de ser
identificado (na Internet), então
poderá sofrer sanção da lei", disse.
Para ele, a rede é "uma anônima
global".
Alberto Rollo, advogado
especializado em direito eleitoral,
enfrenta demandas de clientes que se
sentem atingidos por sites abrigados
em outros países, como os Estados
Unidos, onde a lei brasileira não
chega. "Não tem como regulamentar",
afirma.
Para a comissão da Câmara, os
candidatos devem ter o direito de
fazer campanha de todas as formas
--em um site próprio, em salas de
bate-papo, em um blog, na rede
social (Orkut, YouTube), por e-mail.
"Se pode mandar carta pelo
correio não pode mandar e-mail?",
questiona Semeghini, para quem o
Congresso Nacional não legislou
sobre o tema para não cercear o uso
da rede.
Especialistas têm recomendado a
candidatos que frequentem
comunidades como o Orkut para
interagir com os usuários, formados
principalmente por jovens e na
maioria avessos a temas políticos.
Seria um espaço para o diálogo e não
para o costumeiro discurso.
DOAÇÕES ONLINE
O deputado Jorge Bittar (PT-RJ),
também membro da comissão da Câmara,
vai ainda mais longe e defende que o
simpatizante possa fazer doações em
sites de candidatos. Pelo cartão de
crédito, o eleitor faria sua doação
online, o que seria transmitido para
um terminal da Justiça eleitoral que
faria o controle. O deputado tem um
projeto de lei neste sentido.
"Seria uma forma de os pequenos
doadores participarem", disse Bittar.
O caso do candidato democrata à
Presidência dos EUA, Barack Obama, é
citado por políticos e
especialistas. Ele faz grande uso da
rede tanto para recrutar militantes
para sua campanha quanto para obter
financiamento. Obama conseguiu
levantar doações de dezenas de
milhões de dólares em seu site, a
maioria baixas quantias de pequenos
doadores.
Os limites para a Internet seriam
os mesmos fixados para outros
veículos, com a mesmas leis para
injúria, calúnia e difamação, entre
outras infrações.