Será que o mundo realmente precisa de mais um navegador para a
Internet?
O Google acredita que sim. Seu novo navegador, o
Chrome, foi desenvolvido em segredo e lançado na
terça-feira. A versão para Windows está disponível para download
imediato em google.com/chrome; versões para Macintosh e Linux
estão sendo preparadas e devem demorar um pouco mais.
O Google argumenta que os atuais navegadores de Internet
foram concebidos eras geológicas atrás, antes de muitos dos
desenvolvimentos que vieram a caracterizar a web atual - a
presença de vídeo em toda parte, trapaças virtuais e spyware,
vírus que ficam à espreita até mesmo em sites legítimos, jogos
que usam a web como veículo, e ambiciosos programas hospedados
na web, como o processador de texto Docs, do próprio Google.
Nas palavras do blog do Google, "compreendemos que a web
evoluiu de muitas páginas em formato simples de texto para
aplicativos ricos e interativos, e que é preciso repensar o
navegador inteiramente".
O que essa versão inicial do Chrome realiza não é exatamente
esse objetivo grandioso, mas não se pode negar que ela
representa um começo de primeira linha.
Desprovido de barra de status, de barra de cardápio e dotado
de apenas uma barra de rolagem (para os favoritos), o Chrome é
extremamente minimalista.
Há quem possa defini-lo até mesmo como "enxuto até o osso". A
versão inicial foi definida como beta, o que significa que o
navegador ainda está em estágio de teste. Por outro lado, o
Google costuma classificar quase tudo como beta - mesmo o Gmail,
lançado quase quatro anos atrás, ainda tem a classificação beta.
Mas dessa vez ao que parece a classificação tem significado
sério. No momento, por exemplo, não existe como enviar por
e-mail uma página de web, não existe recurso de tela cheia e
nenhuma forma de magnificar a página (em oposição a apenas o
texto). Tampouco existe uma página que permita organizar as
listas de favoritos. O Google afirma que todos esses recursos
estão no topo de sua lista de tarefas pendentes.
Mesmo assim, o Chrome está repleto de idéias realmente
inteligentes, que parecem ter sido inspiradas por outros
navegadores - ou roubadas deles, a depender do nível de cinismo
que você prefira empregar.
Um exemplo rápido pode ser encontrado na barra de endereços.
Quando o usuário começa a digitar alguma coisa, uma lista de
sugestões aparece imediatamente abaixo - e essa lista não é
extraída só do histórico de páginas que você tenha visitado, mas
também de suas listas de favoritos, de sugestões de busca e de
páginas populares da web que você ainda não tenha visitado. Esse
recurso já está disponível mesmo em seu primeiro uso do novo
programa, porque o Chrome importa automaticamente sua lista de
favoritos, seu histórico de sites visitados e até mesmo as
senhas armazenadas de seu velho navegador. (Veja também: as
barras de endereço semelhantes já em uso no Firefox e em fase de
teste beta no Microsoft Internet Explorer 8.)
Se você já realizou buscas em sites como o da Amazon.com,
eBay, New York Times e outros destinos muito procurados,
existe um outro atalho interessante à sua espera. Basta digitar
a primeira letra do nome do site e apertar a tecla Tab. Se você
fizer isso com a letra A, por exemplo, a barra de endereços muda
para "buscar na Amazon.com", o que permite que você realize
buscas naquele site sem que nem mesmo precise visitá-lo
inicialmente. Isso economiza uma certa dose de trabalho.
Como sua página inicial, o Chrome exibe imagens
miniaturizadas de nove páginas da web, que representam os nove
sites que você costuma visitar com mais freqüência (veja também
o recurso Speed Dial no navegar Opera).
Essa página inicial também oferece uma lista de diversos dos
sites que você visitou e das buscas que realizou recentemente, o
que faz dela um ponto de partida natural e uma nova maneira de
economizar tempo. (Também é possível adotar uma página inicial
mais convencional, se você preferir, clicando no comando Opções
que se esconde por trás de um dos dois ícones presentes no
menu.) O comando "crie atalhos para aplicativos" (igualmente
escondido no menu) gera um ícone em sua tela principal de
computador. Ao clicar nele, o site correspondente se abre sem
que você precise recorrer a botões ou barra de endereço - em
outras palavras, como se fosse um programa comum em seu
computador. Para serviços como o Gmail ou software usado na
criação de blogs, esse recurso reduz ainda mais distinção entre
software instalado em máquina e software acessível via Internet.
Baixar arquivos é realmente simples. Um botão de status
aparece na parte inferior da janela de seu navegador - não
existe uma janela de download para atrapalhar. Basta clicar no
botão e você abre um arquivo que tenha baixado, sem ter de se
preocupar em descobrir a que pasta ele foi encaminhado.
No entanto, se você acredita no Google, o melhor que o novo
navegador tem a oferecer não é aquilo que está visível. Por
exemplo, o Google escolheu como software básico, subjacente, de
processamento de páginas da mesma web o mesmo programa que faz
esse trabalho no navegador Safari, da Apple.
Como resultado, o Chrome é rápido - mais rápido que o
Internet Explorer, ainda que não tão rápido quanto o Firefox ou
o Safari. Porque o Chrome foi lançado apenas na terça-feira, eu
ainda não tive tempo de testá-lo nos 40 bilhões de páginas que
existem hoje na Internet (desisti mais ou menos na hora de
jantar). Poucos dos sites que visitei causaram problemas ao
Chrome, no entanto. O NBCOlympics.com, por exemplo, não
conseguiu reconhecer o Chrome e por isso se recusou a carregar
vídeos em suas páginas, mas isso certamente não demorará a
mudar. Ninguém ignora o Google, hoje em dia.
Também escondidos estão alguns dos recursos que o Google
considera estejam entre os mais importantes do Chrome - os
aperfeiçoamentos de segurança. O Google diz que cada tab do
programa opera em uma "caixa de areia" própria, de modo que se
existir algum spyware malévolo em operação em determinado site,
ele não terá acesso ao restante de seu computador, e nem mesmo
às demais tabs do navegador. O Google garante que isso
representa proteção muito mais poderosa do que a oferecida pelo
Internet Explorer 8, especialmente se o sistema operacional de
sua máquina for o Windows XP. (O Internet Explorer 8 só oferece
sua melhor proteção quando combinado ao Windows Vista.)
Também na categoria de segurança, existe um modo de operação
conhecido como "incógnito", no qual nenhum cookie, senha ou
arquivo em cache é salvo, e o histórico de atividades não
registra quaisquer sites visitados. (Veja também: Safari,
Internet Explorer 8.) O Google sugere alegremente que você pode
usar o modo incógnito para "planejar surpresas como presentes ou
festas de aniversário", mas eles não estão enganando ninguém com
essa definição - o apelido do recurso entre os adeptos dos blogs
já se tornou "modo pornografia".
Para mais um dos detalhes tecnológicos de segurança que o
Chrome oferece, o Google criou o que pode ser um dos mais
inovadores dos recursos que o novo navegador oferece: uma
encantadora revista em quadrinhos - sim, quadrinhos - que
explica o programa e seus recursos.
As especulações já são intensas na Internet - o Chrome vai
pegar? E quanto ao relacionamento de negócios entre o Google e
seus concorrentes? E, acima de tudo, o que exatamente o Google
está pretendendo com tudo isso?
Será que seu objetivo é construir uma plataforma que permita
a operação do software do futuro, reduzindo dessa maneira a
importância do Windows e de outros sistemas operacionais?
A resposta é sim. O Google chegou até a se encarregar de
reescrever a linguagem de programação Javascript, que serve de
base a muitos dos programas usados na Internet. De acordo com
testes de velocidade da linguagem Javascript realizados online,
a versão do Google é duas vezes mais rápida que a utilizada no
Internet Explorer 7.
Será que o Google procurará fazer com que seus serviços
funcionem melhor no Chrome do que nos demais navegadores? E isso
tudo não será parte de uma conspiração mais ampla de parte do
Google?
Nos dois casos, a resposta é um não. O Chrome é um programa
de fonte aberta, o que significa que seu código está disponível
para que todos os interessados inspecionem ou melhores - o que
inclui os rivais da empresa. Trata-se de uma imensa e muito
promissora reviravolta, que deveria servir para calar os
proponentes de teorias conspiratórias.
Por enquanto, o melhor é considerar o Chrome exatamente como
aquilo que ele é: uma alternativa promissora, moderna, enxuta,
sem inchaços e muito segura aos navegadores disponíveis. Você
deveria fazer exatamente o que a Microsoft, Apple e o pessoal do
Firefox está fazendo: experimentar o programa e ficar atento ao
seu desenvolvimento.
Porque, de vez em quando, a abordagem inovadora do Google
termina por dominar concorrentes que um dia tiveram porte muito
maior. (Veja o exemplo de AltaVista, Lycos, Ask...)
Tradução: Paulo Migliacci ME
The New York Times