John Leland
As pessoas idosas cada vez mais vivem sozinhas, mas não realmente sozinhas. Elas vêm sendo acompanhadas por diversas novas tecnologias cujo objetivo é permitir que vivam de maneira independente mas evitem dispendiosas visitas a pronto-socorros ou uma vida em casas de repouso.
Bertha Branch, 78 anos, descobriu o poder de um sistema chamado eNeighbor quando caiu em seu apartamento, em Filadélfia, no meio da noite, e não tinha a sua corrente com pager de emergência à mão nem conseguia chegar ao telefone para pedir ajuda.
Um sensor sem fio instalado sob sua cama detectou que ela havia se levantado. Detectores de movimento em seu quarto e banheiro registraram que ela não havia saído da área em seu padrão normal de movimento, e transmitiram a informação a um serviço central de monitoração, o que resultou em uma ligação para o número de Branch, para verificar se ela estava bem. Na ausência de resposta, o sistema alertou um vizinho, o administrador de seu edifício e por fim os serviços de emergência, que enviaram bombeiros para derrubar sua porta. Ela estava caída há menos de uma hora quando eles chegaram.
Tecnologias como a do eNeighbor chegam com a promessa de melhor cuidado por um custo menor, e envolvem participação de grandes empresas como a General Electric e a Intel.
Mas os aparelhos, que podem ser dispendiosos, continuam em larga medidas não testados e seus custos em geral não são cobertos por planos de saúde públicos ou privados. Os médicos não são treinados para tratar pacientes com o uso de dados remotos, e não existe mecanismo que os remunere por isso. E como todas as tecnologias, os aparelhos - que incluem sensores de movimento, detectores de uso correto de medicamentos e aparelhos sem fio que transmitem dados sobre pressão arterial, peso, níveis de oxigenação e glicose - podem ter consequências inesperadas, como a substituição do contato pessoal com médicos, enfermeiras e parentes pela transmissão de dados eletrônicos.
Branch, que sofre de diabetes severo e de um problema cardíaco, disse que não pode viver sozinha sem o sistema, criado pela HealthSense, uma empresa de Minnesota. "Perdi uma amiga querida recentemente", ela conta. "Também era diabética, e caiu durante a noite. Ela não tinha os sensores, e entrou em coma". Sem os sensores, afirma Branch, "eu provavelmente estaria morta".
Histórias como a de Branch mostram o potencial de aparelhos relativamente simples para oferecer conforto e independência a uma população envelhecida que está rapidamente superando os recursos disponíveis em termos de números de médicos, enfermeiros, hospitais e verbas de saúde.
O custo do sistema básico de Branch, fornecido por uma prestadora de serviços de saúde chamada New Courtland como parte de um programa financiado pelo governo, é de cerca de US$ 100 ao mês; bem abaixo da mensalidade de uma casa de repouso, nas quais os custos para os contribuintes podem exceder os US$ 200 ao dia. Nos dois anos em que Branch vem usando o sistema, ela caiu três vezes, e ficou entalada na banheira uma vez; em todas essas ocasiões, ela não teria conseguido obter ajuda sem ele.
"Em base individual, já demonstramos que o sistema pode ser muito efetivo", disse Brent Ridge, professor assistente de geriatria na Escola de Medicina Mount Sinai, em Nova York. "Mas até que sejam lançados em base de escala ampla, não há como saber. Os médicos podem dizer que já têm trabalho demais e que não têm tempo para acompanhar todos esses dados".
Philip Marshall, 85 anos, outro paciente da Meridian Health, usa um sistema que opera com seu celular e o ajuda a lembrar de tomar seus remédios. Ele sofre de alta pressão arterial e degeneração macular, e precisa tomar dez pílulas por dia. Não consegue enxergar um relógio ou identificar os botões da maioria dos telefones, de modo que usa um Jitterbug, um celular com botões grandes e funções limitadas.
Seguir corretamente o regime de uso de medicamentos é um dos maiores problemas para os idosos, especialmente aqueles que sofrem de perdas de memória. Até que Marshall passasse a usar o Jitterbug, sua filha Melanie, 55 anos, conta que precisava sair de seu trabalho diversas vezes ao dia para ajudá-lo a tomar seus remédios. "Eu tinha de responder a telefonemas no meio de reuniões", diz. "Ele esquecia se tinha tomado uma pílula, ou se devia tomá-la".
O sistema, que custa US$ 20 ao mês, liga para ele nos horários de medicação e pergunta se ele tomou o remédio; se a resposta é negativa, o operador pergunta o motivo e envia alertas automáticos a suas filhas."Vivo preocupada", diz Melanie Marshall. "O tempo todo. Isso me dá alguma paz de espírito".
Seu pai diz que saber que vai receber um telefonema o ajuda a lembrar de tomar os remédios mesmo antes que o celular toque.
É esse o objetivo final da monitoração pessoal de saúde: conseguir que as pessoas, por saberem que estão sendo observadas, mudem seu comportamento para melhorar sua saúde.
Jeffrey Kaye, diretor das clínicas de envelhecimento, Mal de Alzheimer e avaliação de memória da Universidade de Saúde e Ciências do Oregon, diz que uma das tecnologias de saúde mais úteis é o uso de um simples pedômetro, porque o fato de que estejam usando o aparelho que mede distâncias caminhadas incentiva as pessoas a andarem mais.
Tradução: Paulo Migliacci ME
The New York Times