Leonard Kleinrock, professor e pesquisador da Universidade da Califórnia (Ucla) e conhecido mundialmente como um dos "pais da internet", acredita que a grande rede mundial dos computadores, apesar de estar completando 40 anos, está apenas chegando na adolescência, e que, no futuro, poderá se tornar uma espécie de "sistema nervoso global". Ele também alerta para o que ele chama de "lado negro" da sua criação.
Em 29 de outubro de 1969, Kleinrock coordenou a transmissão da primeira mensagem enviada entre dois computadores da antiga Arpanet, predecessora da internet, a partir do seu laboratório na Ucla para outro computador em um laboratório na Universidade de Stanford, marcando o que seria considerado posteriormente como o nascimento da internet.
"A internet está se aproximando da adolescência. Ainda há muito mais por vir, e muito mais para nos surpreender. Ela já penetrou 25% da população mundial e ainda há um longo caminho até atingir os alguns bilhões de habitantes deste planeta", afirma Kleinrock em entrevista ao portal Terra.
Kleinrock também afirma que "não é mais possível voltar atrás para o mundo pré-internet". "A internet é o que move a sociedade de informação do século XXI. Ela já penetrou nossas instituições e mudou nosso comportamento e nossas atitudes de maneira crucial. Mais de 1 bilhão de pessoas no planeta usam a internet hoje. As gerações mais jovens não conseguem mais conceber o tempo em que não era possível dividir fotos na internet, falar com os amigos, baixar vídeos ou comprar pela web".
A filosofia dos fundadores da internet "de abertura e comunidade", conforme lembra Kleinrock, foi a responsável "pelo tremendo crescimento da web nos seus primeiros anos". "O segredo do poder da internet está no fato de que ela envolve e motiva todos a contribuirem com suas idéias criativas, conhecimentos, trabalhos, além de ficarem a disposição de outros para interagir na rede", afirma.
Quando ainda era estudante de graduação no Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), entre 1960 e 1962, Kleinrock desenvolveu a teoria da comutação por pacotes de dados, teoria matemática base da internet que utilizamos até hoje.
Durante a experiência com a Arpanet, no final dos anos 60, já como pesquisador da Ucla, Kleinrock estabeleceu algumas das principais especificações técnicas para o funcionamento da rede predecessora da internet e também publicou diversos estudos de fundamental importância, como o clássico texto sobre "teoria das filas" (queueing theory) e o primeiro livro descrevendo o funcionamento da internet.
O lado negro da internet
No entanto, Kleinrock tem uma teoria própria sobre o que ele define como "lado negro da internet", que inclui todo o tipo de spam, vírus, fraudes, golpes e invasões de privacidade, pornografia, pedofilia, entre outros problemas.
Ele alerta que para combater este "lado negro" da web será preciso criar fortes sistemas de autentificações para usuários e arquivos. "Infelizmente, estas autentificações não estavam na arquitetura inicial da internet e será muito difícil instalá-las na internet invasiva de hoje", alerta.
A internet como "sistema nervoso global"
Kleinrock mantém ideias e conceitos sobre o futuro da web bem conectados com o fenômeno de crescimento que a rede mundial de computadores representou nos últimos anos. Na sua opinião, a internet será, no futuro, "essencialmente uma infraestrutura invisível que servirá como um sistema nervoso global", graças ao papel dominante dos "softwares inteligentes".
Kleinrock enxerga os usuários da web utilizando a internet de modo onipresente em suas vidas, "a qualquer momento, de onde quer que eles estejam, com qualquer equipamento que eles tenham". Nesse sentido, Kleinrock vê "softwares inteligentes espalhados pela internet", explorando e agindo sobre o enorme tráfego de dados na rede, "observando tendências, realizando tarefas de forma dinâmica e se adaptando ao ambiente destes dados".
Para ele, estes dados, que já cruzam a internet instantaneamente, preencherão os "sofisticados sistemas de controle e apoio à decisão da nossa sociedade", se constituindo, assim, no que ele chama de "sistema nervoso global".
Leonard Kleinrock continua a desenvolver e aprimorar novas teorias como professor e pesquisador universitário junto ao Departamento de Informática da Ucla, em Los Angeles. Em 2007, recebeu a Medalha Nacional de Ciência, o mais alto reconhecimento para cientistas nos Estados Unidos.