A tecnologia evoluiu, os sistemas ficaram mais poderosos, contudo, ainda assim, a solução de comunicação da Microsoft mostra que ainda poderia ser facilmente substituída por uma concorrente que entre com força no mercado.
Ninguém tira o mérito da Microsoft, é claro. A solução de comunicação mais utilizada no mundo hoje se aproveitou da perda do foco do ICQ para conquistar milhões de usuários ao redor do mundo. É claro que isso não impede aos usuários que optaram por migrar de ferramenta mostrar insatisfação ou questionar recursos de sua atual escolha.
É inadmissível que até hoje a Microsoft não tenha conseguido se equiparar a tecnologias que deveriam ser básicas nos comunicadores e que já existiam no fim da década de 90 na "quase-defunta" rede ICQ. A transferência de arquivos não possui opção de continuar o envio/recebimento mais tarde e a funcionalidade de "invisibilidade" só se tornou realidade há alguns poucos meses e, talvez por isso, ainda é risível.
A cada lançamento de nova versão, basicamente são estes dois os alvos de meus principais testes. E foi assim com o novo beta lançado pela Microsoft há poucos dias. Devo dizer que, mesmo com tudo que foi anunciado e que realmente está presente no software, me decepcionei.
A primeira coisa a perturbar é o fato de que o Windows Live Messenger não "lembra" quem você é, a menos que você escolha lembrar seu nome de usuário E sua senha, o que para muitos usuários que compartilham a máquina é inviável.
A sua interface inicial também incomoda. Ela agrega à lista de contatos o conteúdo de redes sociais. A Live Spaces é a única ativa e instalada por padrão, mas é possível, clicando em um link no rodapé da janela, adicionar outros serviços como Facebook, MySpace e algumas outras redes. Quando procurei por Twitter, não encontrei. Por conta deste recurso, o novo visual padrão do Windows Live Messenger ocupa quase a tela cheia e todos que usamos o messenger durante o trabalho (e somos muitos) sabemos que isso é pouco prático. Felizmente, é possível obter o "look" antigo, este aspecto do programa nem é um problema real.
Aí chegamos ao estado "invisível". Comparado há algumas versões do Windows Live Messenger, quando ainda se chamava MSN, a evolução é evidente. O recurso que já se chamou "Aparecer Offline", antigamente sequer permitia trocar mensagens enquanto você estava "escondido". Na versão prévia à nova versão beta o recurso foi muito melhorado. Nesta, uma tentativa de acerto provocou mais um erro.
O que acontece é que o recurso parece querer "clonar" o do bom e velho ICQ. Só que o que deveria ser um imenso benefício é uma faca de dois gumes. Ao aparecer invisível, você só pode mandar uma mensagem para alguém se aceitar ficar online para esta pessoa. Até aí, tudo dentro da normalidade, afinal, se você quer contatar alguém escondido, sua invisibilidade cairá por terra.
O problema está na "lista de visibilidade", que ainda não é estável o suficiente. Em alguns testes conduzidos percebi que, ao "aparecer online" corria o risco de ser visto por outras pessoas. Outra falha é a confusão na interface: o usuário mais atento perceberá que existe a função "Aparecer online para um contato", "Aparecer online para todos os contatos" e uma terceira função "Sempre visível". A confusão é tamanha que na primeira a visibilidade durará apenas a sessão atual. Desconecte e conecte de novo e toda sua lista continuará invisível. Em computadores com resoluções menores a função "Sempre visível" sequer aparece na janela principal, ficando escondida sob uma setinha com mais funções.
A instabilidade deste recurso ainda se confirma em outros pontos. Em alguns de meus testes, mesmo mudando meu estado para Online, depois de ter me conectado insivível, eu ainda estava invisível para meus contatos. Este tipo de pequena falha deve ser corrigida até a versão final.
Confirmando a minha suspeita, a transferência de arquivos não possibilita ainda o resumo de transferência caso seja necessário sair da internet ou, em casos piores, a conexão caia.
A câmera ainda apresenta efeitos indesejados no novo Messenger. Pode ser falha do beta, pode ser incompatibilidade do messenger novo com versões mais antigas do programa, mas nem em todos os nossos testes a câmera funcionou. Outra coisa notada foi que, enquanto estava conectado com meu perfil como "ocupado", o programa ficou ao meu lado e recusou, por conta própria e sem qualquer informação a quem pedia, o envio de webcam. Pode ter sido mera coincidência, mas faz sentido, se estou ocupado, não poder participar de conferências em vídeo. Todavia, o contato que tenta requisitar a conferência em webcam recebe apenas a informação de que, quem está ocupado, recusou. Uma solução seria informar: "fulano não pode aceitar chamadas em vídeo porque está ocupado".
Outra falha vem deste recurso: muitos usuários acostumaram a ficar como "ocupados" enquanto trabalham. Isto não quer dizer que estejam fora do alcance de todos os usuários, apenas que não estão no comunicador para papo furado. A Microsoft devia estar alerta deste tipo de prática e bolar uma solução mais eficiente, neste caso.
Para não dizer que a atualização desagradou por completo, tiro o chapéu para a transmissão de webcam quando ela funciona. Preparado para as novíssimas câmeras HD, o programa agora não limita mais o tamanho do vídeo àquele pequeno espaço da janela (o que fazia muita gente preferir o Skype ao Live Messenger, no fim das contas). Agora, a janela de vídeo aparece em anexo à direita da janela de papo.
Outro recurso extremamente bem vindo é que, agora em vez de serem abertas janelas independentes para cada uma de suas conversas, os papos com seus contatos aparecem em apenas uma janelinha organizada em abas, como acontece quando você carrega diversos endereços nos navegadores modernos.
É claro, é uma versão que ainda está em testes e deve ser modificada, mas duvido que muitos dos problemas aqui mencionados serão corrigidos antes que a versão final chegue ao grande público.
E o que a gente pode concluir a partir de tudo isso? É difícil que os usuários migrem de tecnologia de uma hora para outra, mas não impossível. Na época do ICQ, ninguém imaginava que a Microsoft seria capaz de desbancá-lo, apenas aconteceu. E, quando a massa opta por um dos messengers, a migração passa a ser praticamente obrigatória, afinal, você quer se comunicar com, senão todos, grande parte dos seus amigos.
Hoje ainda temos um agravante: a maioria dos usuários tem usado programas criados por terceiros para acesso a redes sociais e comunicadores. Com isso, não importa quantos recursos extra de interação o programa disponibilize, mas sim como os recursos básicos se comportam.
Nestes dias em que estamos vivendo, menos é mais. Se a Microsoft quiser se manter na vanguarda, talvez seja hora de se manter focada em melhorar recursos básicos e indispensáveis, e não transformar o programa que deveria ter meia dúzia de aplicações de comunicação em um canivete suíço que aborde todos os aspectos sociais da web.
A Microsoft tem um concorrente de peso, que pouco a pouco mostra suas garras no campo da mensagem instantânea: o nome dele é Google Talk. Por enquanto, sua base de usuários não é tão grande quanto a do rival, mas em algum tempo poderemos ver mais uma luta entre David e Golias dos comunicadores. E, na história, a gente sabe: David pode parecer menor, mas acaba vencendo o gigante.
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