"Fazer sentido no mundo é o primeiro ponto", explica Kawasaki. ¿Não adianta contratar um monte de gente com MBA só pelo dinheiro. Tem que pensar que seu projeto deve melhorar o mundo também". Não falou da Apple, mas citou a Nike como um bom exemplo nisso. "O segundo ponto é tenha um mantra. Não é a missão da empresa. Nos Estados Unidos, companhias reúnem 60 pessoas por dois dias num hotel com campo de golfe e praia. Chamam alguém de fora pra conduzir a reunião, provando que não têm nenhum executivo líder, e cada um fala uma palavra. Logo, a missão tem 60 palavras, gerando algo muito longo e pouco útil". Um bom mantra corporativo, na visão de Kawasaki, tem duas ou três palavras no máximo.
O terceiro ponto é "ficar além da curva". Sua empresa tem que pensar além e inovar de tal modo para ficar à frente da concorrência. "Não é 10% ou 15% melhor, é dez vezes melhor. Um exemplo é a migração das impressoras matriciais para as laser. Ou as fábricas de gelo: primeiro removiam o gelo pronto, o gelo 2.0 surgiu com as fábricas de gelo, sendo substituído pela geladeira doméstica. A inovação real surge quando você pula para o próximo estágio sem medo", disse Kawasaki. "Fazer apostas, jogar os dados, é algo importante. Uma fabricante de sandálias, a Reef, lançou um chinelo com abridor de latas no solado. É uma grande ideia, assim como uma TV que vem com conexões sem fio. Grandes produtos são elegantes, profundos e completos", afirmou.
Para tanto, nem todo mundo é perfeito. O quinto item da lista de Kawasaki é "não se preocupe, faça errado". Na prática, ele quer dizer que alguma coisa errada pode acontecer com seu produto. "A primeira impressora laser era lenta e fazia uma página por vez. Revolucionária, mas uma porcaria. O primeiro Mac, com 128 k de RAM, sem software e sem disco rígido, era uma porcaria revolucionária". Isso leva ao sexto ponto, que é o florescimento do seu produto. "Ao lançar qualquer coisa, você vai perceber que as pessoas usam seu produto de modos que você nunca imaginou. E gente errada o compra em grandes quantidades. A primeira coisa a fazer é tirar o dinheiro delas", afirmou o investidor. "O Mac não tinha editor de texto, de planilha nem banco de dados. Mas a editoração eletrônica, que estava nascendo na mesma época, salvou a Apple".
Por ser ex-funcionário da Apple, muitos dos temas abordados por Kawasaki lembram, claro, a empresa de Steve Jobs. O sétimo item é um deles: polarize as pessoas. "É como um carro feio da Toyota, o Scion. Foi feito para jovens esportistas, mas acaba sendo vendido para sexagenários em busca da juventude perdida. Não tem que irritar as pessoas intencionalmente, mas é bom criar uma relação de amor e ódio sobre o que você faz". O oitavo ponto fala para "engrenar um modo de negação e não ouvir ninguém quando cria algo, mas após lançá-lo começar a corrigir sua inovação", e o nono pede para criar nichos para seu mercado. É aí que você vai ganhar dinheiro numa relação de valor versus algo único. "Se não é único não tem valor", disse. "Exemplos são um serviço de compra de ingressos de cinema com antecedência, uma TV fina e sem fios, um relógio que pode salvar sua vida ao chamar a emergência se você se perder no mato e até mesmo um carro que estaciona perpendicularmente à rua", afirmou.
O décimo ponto de Kawasaki é direto ao ponto contra os enroladores do PowerPoint: é a regra do 10-20-30. Uma apresentação deve ter no máximo 10 slides, para ser mostrada em no máximo 20 minutos e sempre feita com fonte tamanho 30. "Uma regrinha é observar quem é o mais velho na platéia e dividir sua idade por dois. Deve dar 30, na média".
Kawasaki fechou sua palestra com o décimo primeiro item da sua lista: não deixe os "bozos" te derrubarem. O que ele quis dizer aqui é que sempre vai ter alguém com uma ideia pessimista, do mal ou simplesmente do contra. "Existem dois tipos de bozos: o gordo ensebado, que não é perigoso, e o que se veste de preto, rico, famoso, esperto. Pena que 50% das vezes é apenas sorte, não esperteza". Ele mesmo admite já ter agido como um "bozo" na sua carreira: recebeu um convite para o processo de seleção do CEO do Yahoo!. Não foi porque era longe e ele tinha acabado de ter o primeiro filho. "E se eu tivesse ido à entrevista? Não me irrita ter perdido 1 bilhão de dólares. O segundo bilhão é que me deixa doido da vida. Eu fui um bozo, vinha do mercado de hardware e não consegui entender a internet, não vi a próxima curva", concluiu.
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