"Muitas das aldeias incluídas no programa tiveram acesso à internet antes da chegada da telefonia celular", disse à agência Efe o secretário de Assuntos Estratégicos do Pará, Maurilio Monteiro, responsável pela revolução.
O programa "NavegaPará" recebeu até agora um investimento de cerca de US$ 50 milhões, "uma soma ínfima se pensarmos nos enormes lucros gerados para muitas pessoas que jamais saíram de suas aldeias e agora têm acesso ao mundo", disse Monteiro.
Trata-se de gente que, em sua maioria, pertence às camadas mais baixas da sociedade, tem níveis de renda muito inferiores à média nacional e, portanto, não atraíam o interesse das grandes empresas operadoras de telefonia e serviços de internet, segundo o secretário.
A internet, inclusive, chegou a Prefeituras, sedes e quartéis da Polícia, centros de saúde e outros organismos públicos que antes mal contavam com um telefone fixo e agora estão interligados através da rede com todas as instituições oficiais do Pará.
"Se o Estado não assumisse esta tarefa, esta população teria ficado condenada à exclusão digital, pois, para empresas privadas, esses setores sociais não são os mais atrativos", afirmou Monteiro.
Junto aos cabos de fibra óptica, estendidos através das redes de distribuição de eletricidade, chegaram também cerca de 1,6 mil computadores portáteis que foram instalados em escolas, sindicatos e outras dependências aproximadamente 100 aldeias e municípios incluídos no programa.
Os centros de internet receberam todos os equipamentos das mãos do estado, que, além disso, estabeleceu parcerias com ONGs que colaboram na formação dos usuários e em outras tarefas, como a manutenção dos computadores. O acesso à internet nas aldeias amazônicas é totalmente gratuito, pois o estado do Pará também paga as contas de eletricidade e as despesas geradas pelos centros, explicou o secretário.
Monteiro destacou alguns casos, como o da aldeia Praia do Mangue, habitada por cerca de 150 índios da tribo Munduruku, que hoje navegam pela internet "com a mesma naturalidade" que o fazem com suas canoas pelas turvas águas do rio Tapajós.
A iniciativa deu lugar a dezenas de blogs e páginas nas quais os indígenas recuperam sua história, entram em contato com membros de outras tribos, trocam informação sobre técnicas de pesca ou cultivos ou simplesmente divulgam seus artesanatos.
Em Santarém, uma cidade de cerca de 200 mil habitantes a quase 1,4 mil km de Belém, um grupo de jovens criou um portal (www.navegatube.org.br) no qual, através de vídeos, mostram a cultura local e também suas habilidades para a dança.
Embora tudo seja financiado pelo Governo, há lugar também para a crítica e a dissidência, com o tradicional espírito de liberdade da internet, apontou Monteiro.
Citou, como caso concreto, um blog criado por um grupo de mulheres da cidade de Altamira, que através da rede manifesta sua rejeição à construção da usina hidroelétrica de Belo Monte, um dos principais projetos energéticos do Governo Lula.
EFE