Algumas pesquisas são divulgadas com alarde
excessivo, enquanto outras parecem pecar pela
modéstia.
Uma bactéria vivendo à base de arsênio e um
computador do tamanho da ponta de uma agulha são
exemplos claros do primeiro caso, apenas para ficar
nos mais recentes.
Mas agora parece estarmos frente a frente com o
caso oposto - muito mais bem-vindo.
Objetos de interesse do Kepler
A primeira divulgação dos dados científicos do
Telescópio Espacial Kepler privilegiou o anúncio de
um sistema planetário com seis planetas.
Na ocasião, deu-se menos importância para o fato
de que os dados revelavam nada menos do que 54
planetas na zona habitável, com potencial para
abrigar formas de vida mais parecidas com a nossa.
E deve haver muitas outras preciosidades mais ao
fundo do baú de descobertas impressionantes que o
Kepler fez apenas em sua primeira campanha.
O exemplo mais recente chama-se KOI-730 - onde
KOI é uma sigla para Kepler Object of Interest, um
objeto celeste interessante flagrado pelo
telescópio.
E o fato de este ser o número 730 parece ser mais
uma indicação de que ainda há muitas coisas ainda a
serem reveladas.
Dois planetas na mesma órbita
Mas o importante é que o KOI-730 parece ter dois
planetas na mesma órbita, algo completamente
inesperado.
Se esta descoberta for confirmada por futuras
observações mais detalhadas, ela poderá dar
sustentação a uma teoria sobre a origem da nossa
Lua.
Acredita-se que os planetas se formem pela
coalescência de um disco de poeira cósmica que resta
ao redor de uma estrela recém-formada - veja
Astrônomos podem ter detectado nascimento de
planeta.
A teoria não coloca qualquer empecilho a que se
formem dois planetas na mesma órbita. Isto pode ser
possível graças aos chamados Pontos de Lagrange - o
próprio Telescópio Kepler está em um destes.
Quando um corpo celeste orbita outro maior - como
um planeta ao redor de uma estrela - há dois Pontos
de Lagrange ao longo da órbita do planeta, onde um
outro corpo pode orbitar a estrela de forma estável.
Esses dois pontos ficam localizados 60 graus à
frente e 60 graus atrás do planeta.
Exatamente o que os dados indicam para o KOI-730,
um sistema com quatro planetas, dois dos quais
orbitam a estrela a cada 9,8 dias, um exatamente 60
graus à frente do outro.
Nascimento da Lua
Além do ineditismo, a descoberta pode dar
sustentação à teoria que tenta explicar o nascimento
da Lua.
Segundo essa teoria, a Terra teria compartilhado
a órbita com outro planeta do tamanho de Marte, um
hipotético planeta conhecido como Théia.
Em algum momento, por algum motivo, os dois se
chocaram - e os modelos indicam que o choque deveria
ter sido em baixa velocidade, o que é condizente com
dois planetas compartilhando a mesma órbita.
Uma parte dos destroços desse choque planetário
teria formado a Lua - veja Duas sondas gêmeas, um
planeta desaparecido e a origem da Lua.
Mas será que os dois planetas do KOI-730 poderiam
se chocar para formar uma exolua? É possível,
afirmam os cientistas em seu artigo, mas os dados
indicam que o sistema ficará estável por 2,2 milhões
de anos.
Inovação Tecnologica