Transição para
Era Glacial
Usando análises de dados
da órbita terrestre,
além de amostras de
rochas retiradas do
fundo do oceano, a
equipe de Skinner
identificou um episódio
chamado Estágio Marinho
Isótopo 19c (ou MIS19c),
há 780 mil anos, que se
parece muito com o
presente.
Segundo eles, a
transição para a Era
Glacial foi sinalizada
por um período quando o
esfriamento e o
aquecimento se revezaram
entre os hemisférios
norte e sul, provocados
por interrupções na
circulação global de
correntes oceânicas.
Se a analogia ao
MIS19c for correta, essa
transição deveria
começar em 1.500 anos,
segundo os
pesquisadores, se as
concentrações de CO2
estivessem em níveis
"naturais".
As conclusões mais
amplas dos pesquisadores
foram endossadas por
Lawrence Mysak,
professor-emérito de
ciências atmosféricas e
oceânicas na
Universidade McGill, em
Montreal, no Canadá, que
também investigou as
transições entre as Eras
Glaciais e os períodos
interglaciais.
"A questão-chave é
que eles estão olhando
para 800 mil anos atrás,
o que é duas vezes o
ciclo de 400 mil anos,
então eles estão olhando
para o período correto
em termos do que poderia
ocorrer sob a ausência
de forças antropogênicas",
disse ele à BBC.
Mas ele sugeriu que o
nível de 240 ppm de CO2
para provocar a próxima
glaciação poderia ser
muito baixo. Outros
estudos sugeriram que
esse nível poderia ser
20 ou até 30 ppm mais
alto.
"Mas em todo caso, o
problema é como chegamos
a 240, 250 ou o que quer
que seja? A absorção
pelos oceanos leva
milhares ou dezenas de
milhares de anos, então
não acho que seja
realista pensar que
veremos a próxima
glaciação na escala
natural", explicou Mysak.
Briga
política
Grupos que se opõem à
limitação das emissões
de gases do efeito
estufa já citam o estudo
como uma razão para
apoiar a manutenção das
emissões humanas de CO2.
O grupo britânico
Global Warming Policy
Foundation, por
exemplo, cita um ensaio
de 1999 dos astrônomos
Fred Hoyle e Chandra
Wickramasinghe, que
argumentavam: "A volta
das condições da Era
Glacial deixaria grandes
frações das maiores
áreas produtoras de
alimentos do mundo
inoperantes, e levaria
inevitavelmente à
extinção da maioria da
população humana
presente".
"Precisamos buscar um
efeito estufa sustentado
para manter o presente
clima mundial vantajoso.
Isso implica a
habilidade de injetar
efetivamente gases do
efeito estufa na
atmosfera, o oposto do
que os ambientalistas
estão erroneamente
defendendo", dizem.
Luke Skinner e sua
equipe já antecipavam
esse tipo de reação.
"É uma discussão
filosófica interessante.
Poderíamos estar melhor
em um mundo mais quente
do que em uma glaciação?
Provavelmente sim,"
observa ele.
"Mas estaríamos
perdendo o ponto central
da discussão, porque a
direção em que estamos
indo não é manter nosso
clima quente atual, mas
um aquecimento ainda
maior, e adicionar CO2 a
um clima quente é muito
diferente de adicionar a
um clima frio", diz.
"O ritmo de mudança
com o CO2 é basicamente
sem precedentes, e há
enormes consequências se
não pudemos lidar com
isso", afirma.