Quando um físico afirma ter uma ideia para um experimento de laboratório que pode ser capaz de detectar a existência de mundos quânticos paralelos - mais conhecidos como multiversos - a reação padrão é dar um sorriso amarelo e sair de fininho.
Mas quando o físico em questão é um ganhador do Prêmio Nobel, mais precisamente o Dr. Frank Wilczek, é provavelmente uma boa ideia não ir saindo tão rápido.
Sua ideia, ainda em estágio preliminar, é que pode ser possível detectar "vazamentos de energia" fluindo entre realidades alternativas - as "multiversalidades", como ele as chama.
Múltiplos mundos paralelos
O termo multiverso - ou multiuniverso - tem sido usado para descrever a ideia da cosmologia de que regiões muito distantes podem ser governadas por leis da física diferentes, e conteriam diferentes substâncias.
É claro que, como são ideias muito especulativas, há tantos tipos de multiversos quanto o número de físicos que pensam neles.
As ideias de Wilczek envolvem um tipo de multiverso do tipo múltiplos mundos paralelos, conforme previstos por Hugh Everett III (1930-1982) como uma reação à indeterminação do mundo quântico.
O exemplo clássico usado para explicar a ideia é o paradoxo do gato de Schrodinger, um gato fechado em uma caixa com um frasco de veneno que será aberto se um átomo radioativo decair.
Enquanto a caixa permanece fechada, o átomo existe em um estado de superposição quântica, tendo decaído e não tendo decaído ao mesmo tempo, deixando o infeliz gato preso em um limbo fantasmagórico entre a vida e a morte - sua sorte só será decidida quando um físico medir o átomo, quando então o estado superposto colapsa e o destino do gato no mundo clássico é definido.
A contribuição de Everett foi argumentar que, quando a tampa do frasco de veneno é aberta, a realidade se divide em duas: em um mundo, o gato vive, no outro, o físico é preso por crueldade contra os animais.
Lei da conservação de energia
As ideias de Everett já têm mais de 50 anos de idade, e já ganharam muitos seguidores respeitáveis. Mas, se você acredita ou não nelas parece ser mais uma questão de fé.
Pelo menos, não parece haver nenhuma experiência de laboratório que possa ser feita para testar se tais realidades alternativas, ou multiversalides, cada uma com seu próprio "você" alternativo, realmente existem.
Mas Wilczek confessa que uma ideia salvadora lhe ocorreu por uma pergunta feita por um de seus seguidores no Twitter.
A pergunta era: De onde veria a energia para gerar esses mundos paralelos? Será que sua criação não violaria a lei da conservação de energia?
O Nobel de Física passou então a se dedicar mais seriamente à pesquisa, e afirma ter chegada a uma resposta: Não, a criação dos multiversos não violaria a conservação de energia.
Vazamento de energia
Segundo Wilczek, tudo se resume ao fato de que a energia não é uma substância na mecânica quântica que seria compartilhada entre os diversos universos, mas um "operador", algo que muda um estado físico para outro estado físico.
Isso significa que não se deve simplesmente somar as energias dos universos adicionando uma à outra, como se fossem números, mas tirando uma média ponderada, que irá sempre conservar a energia total.
Então, isso significa que os universos paralelos podem trocar energia? Se eles o fizessem, poderia ser possível detectar essa troca de energia inter-universos em experimentos de laboratório.
Será que haveria uma maneira pela qual minúsculas flutuações de energia vazassem entre os mundos paralelos? E, se houver, como poderíamos detectá-las no laboratório, dado que os físicos experimentais estão ficando cada vez mais melhores em manter os efeitos quânticos em objetos cada vez maiores?
Vale a pena esperar pelas respostas, porque ninguém menos do que o Nobel Wilczek afirmou que irá se debruçar totalmente sobre estas questões nos próximos meses.
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