As revelações sobre a dimensão da espionagem norte-americana na internet prejudicaram bastante o poder de negociação do país nas conversas internacionais sobre a regulamentação e a imposição da lei no ciberespaço, disseram analistas e líderes da indústria em uma conferência na terça-feira.
As revelações feitas pelo ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês) Edward Snowden sobre a grande escala da coleta de dados da agência de inteligência também estão minando os esforços dos EUA de manter a Internet como uma entidade governada por uma combinação de forças sem fins lucrativos, nacionais e privadas.
"Estamos perdendo força internacionalmente" para a China, a Rússia e para outros países que querem dar mais autoridade à Organização das Nações Unidas (ONU) e a governos, disse o professor do Hoover Institution Abe Sofaer, no quarto encontro anual sobre cooperação internacional em cibersegurança realizado pelo Instituto EastWest. "É terrível".
O ministro do Gabinete de Informação do Conselho de Estado da China, Cai Mingzhao, defendeu em um discurso um papel maior para o Grupo de Peritos Governamentais da ONU, e disse que a discussão de regras de conduta, que os Estados Unidos tentaram manter geral e sem amarras, deveria ir também para a ONU.
"Deveríamos, passo a passo, criar um mecanismo justo e transparente para o controle do ciberespaço", disse Cai.
O coordenador para Questões Cibernéticas do Departamento de Estado dos EUA, Chris Painter, respondeu com a posição norte-americana de que empresas e outras organizações não governamentais que vêm sendo chave para o crescimento da Internet seriam enfraquecidas se a ONU recebesse poder exclusivo.
A conferência na Universidade de Stanford atraiu autoridades, acadêmicos e funcionários de empresas de mais de 40 países que estão trabalhando através do Instituto EastWest em sistemas para melhorar a colaboração sobre as questões de segurança na Internet.
Mas em algumas das questões principais, incluindo o papel adequado para órgãos internacionais e direitos de privacidade, as autoridades norte-americanas ficaram na defensiva, mesmo com seus colegas europeus e representantes de empresas norte-americanas, que disseram que a perda da confiança dos usuários de Internet e possível balcanização das regras tecnológicas da Internet podiam afetar o crescimento econômico.
O vice-presidente da Microsoft, Scott Charney, por sua vez, disse que a empresa de software estava comprometida em proteger seus usuários dos ataques à privacidade por todos os países e que quando uma nação ataca outra através de buracos na segurança em seus produtos, ele não quer que nenhum dos lados vença. "Não estou do seu lado", disse Charney. "Sou neutro".
Os documentos de Snowden revelaram as práticas na Microsoft, Google, Facebook e outras empresas da Internet. Agências de espionagem usam ordens judiciais secretas para obrigar as empresas a entregar registros sobre milhares de usuários no estrangeiro. Além disso, ex-agentes federais dizem que podem achar brechas no sistema operacional Windows, da Microsoft.