Bem-vindos ao País da aventura

O Brasil é um paraíso para os viciados em esportes de ação. As férias de julho são um convite irresistível para quem quer se pendurar, remar, pedalar, voar...

Chico Silva
Colaboraram: Camilo Vannuchi e Dolores Orosco

Dizem que a Nova Zelândia é a terra da aventura. Que nos desculpem os simpáticos kiwis, como são chamados os habitantes daquela ilha. Mas nesse aspecto o Brasil é imbatível. A começar pelo território. Nos seus mais de oito milhões de quilômetros quadrados, encontra-se praticamente tudo o que um aventureiro sonha e necessita para se divertir. São selvas, montanhas, corredeiras, trilhas, baías, cachoeiras... Enfim, um diverso conjunto que une clima, biodiversidade e adrenalina. Os mais renitentes diriam: “Ah, mas falta neve.” É verdade. Só que até nisso somos privilegiados. Quem pratica esqui e snowboard está a apenas algumas horas de vôo das estações de inverno dos nossos vizinhos Chile e Argentina. O melhor é que julho vem aí e é hora de aproveitar esse gigantesco playground radical chamado Brasil.

Ainda falta um pouco de estrutura. Mas isso não impede que cada vez mais gente brinque ou leve a sério essa história de se pendurar em cordas, descer rios revoltos, passar horas, ou dias, caminhando na mata. Não há números muito precisos, mas quem vive de aventura acredita que hoje alguns milhões de brasileiros pratiquem esportes ao ar livre. A tribo é bem variada. Há os que não podem passar uma semana sequer sem doses cavalares de emoção. Há também aqueles que aproveitam as férias ou feriados para brincar de aventureiro. Apesar de parecer o contrário, praticar esses esportes não requer esforço brutal ou um seguro de vida milionário. Qualquer um pode se aventurar. Há apenas algumas restrições para quem apresenta dificuldades motoras ou tenha graves distúrbios cardíacos. É comum ver pais se divertindo ao lado dos filhos, ou vovós e vovôs recebendo algumas descargas de adrenalina. Até os outrora tranquilos acampamentos de crianças e adolescentes oferecem atividades que incluem a iniciação nos esportes de ação.

É claro que, como em qualquer atividade que requer esforço físico, são necessários alguns cuidados. Não dá para, de uma hora para outra, encarar um trekking extenso ou uma pedalada numa trilha íngreme. Vale o bom senso. “Os principais cuidados são em relação à segurança. Quem está começando deve procurar uma empresa conceituada, pois, como não há legislação e a fiscalização ainda não é a ideal, nem todas estão preparadas”, alerta Israel Waligore, diretor da Ambiental Expedições.

Segurança é uma palavra tão obrigatória quanto os “uhus uhus” que os adeptos costumam gritar assim que terminam suas provas. O Brasil vem evoluindo nesse aspecto. Acidentes acontecem. Se não fosse assim, jamais esses esportes poderiam ser chamados de radicais. Porém, o risco é calculado. As maiores operadoras têm o cuidado de contratar guias especializados e utilizar equipamentos de qualidade – os iniciantes podem alugá-los. O último quesito é fundamental. A distância entre a diversão e o acidente pode ser uma corda em mau estado de conservação ou uma bicicleta com problemas de manutenção. Outra fonte considerável de risco está nas mãos ou pés dos chamados aventureiros de final de semana. Negligenciando normas e atropelando procedimentos, eles costumam se machucar com frequência. Para que isso aconteça nem é necessário pegar a estrada. Os rapeleiros urbanos, a tribo que escala pontes e viadutos, vivem se estatelando por aí.

Algumas iniciativas estão sendo tomadas para que esses tombos não comprometam a imagem de uma atividade que ainda dá seus primeiros passos no País. O Instituto do Ecoturismo do Brasil (IEB) e os organizadores das Corridas de Aventuras, provas que aliam caminhada, rapel, bicicleta e canoagem, querem implantar, em parceria, um manual de regras e normas para a modalidade. O desejo é que a regulamentação seja seguida pelas outras categorias de esportes de aventura. “É necessário criar um código de conduta para os esportes de ação. Nosso objetivo é atingir a sustentabilidade ambiental, econômica e social. Ou seja, respeitar e preservar a natureza, integrar e capacitar as comunidades residentes nos destinos e estabelecer metas e padrões de qualidade”, diz João Allievi, presidente do IEB. Outra iniciativa é a criação do Conselho Brasileiro de Turismo Sustentável (CBTS), parceria das Ongs ambientais WWF e S.O.S Mata Atlântica, do IEB e de empresas que exploram o ecoturismo. A principal meta é a criação de um selo de qualidade, uma espécie de ISO da aventura.

A regulamentação facilitará o desenvolvimento de um mercado que começa a gerar lucro. Em 1999, a Adventure Sports Fair, a maior feira do setor no País, recebeu 125 expositores. No ano passado, o número passou para 223. Na próxima edição, em novembro, a expectativa é de que 260 exponham seus produtos nos estandes do Pavilhão da Bienal, no Ibirapuera, em São Paulo, onde o evento é realizado. Outro bom indicativo é a afluência de público. Na primeira edição, 42 mil pessoas visitaram o evento. Quatro feiras depois, 87 mil aventureiros foram conferir as novidades do setor. Há pouco menos de cinco anos, contava-se nos dedos o número de fabricantes nacionais de roupas, acessórios e equipamentos. Hoje, estima-se que haja cerca de 50 fábricas em plena atividade. Ainda é pouco. Cerca de 70% dos produtos e equipamentos são importados. “O mercado ainda é pequeno. Mas temos um potencial enorme de expansão. Há alguns sinais disso. No ano passado, os fabricantes de roupas e calçados faturaram R$ 250 milhões. É pouco, se comparado aos Estados Unidos, que no mesmo período atingiram os R$ 8 bilhões. Mas já é um indicativo de crescimento”, diz Sérgio Bernardi, diretor da Promotrade, empresa responsável pela organização da Adventure Sports Fair. De acordo com o empresário, o mundo da aventura e da ação só não cresce mais por falta de investimento e divulgação. “Necessitamos de um esforço maior para divulgar os destinos de aventura do Brasil. Lá fora, ainda somos apenas o país do futebol e do Carnaval. Os estrangeiros desconhecem nosso potencial ecoturístico.”
O brasileiro, no entanto, já despertou para isso. E, atentas a esse interesse, algumas emissoras têm investido no tema. Na Rede Globo, o tradicional Esporte Espetacular, no ar há 30 anos, tem o Caminhos da Aventura, apresentado aos domingos, das 9h às 12h. Na transmissão a cabo, o SporTV apresenta vários programas radicais: o Zona de Impacto, o Missão Radical, o Opção e o Rolé. Programas de turismo, como o Mochilão, da MTV, e o Rota 21, do Canal 21, também não deixam de lado a adrenalina. Para os que querem experimentar ou pelo menos ensaiar uma tentativa, ISTOÉ ouviu feras dos esportes de ação. Os radicais indicaram qual o seu pico, como eles chamam os lugares onde praticam seu esporte preferido.

 

 

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