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Design é arte? Mais sobre a velha discussão.
Há um mundo de informação atrás de cada hyperlink. Como
colocar tudo isso na ponta do dedo que clica? Talvez esta seja uma tarefa artística
e aí, neste momento, design será arte. Ou não.
Frederick van Amstel
Essa é uma das discussões mais recorrentes dentro dos fóruns e listas de
webdesign. Tem gente que já se cansou de ouvir esse assunto. “É como
discutir se o que veio primeiro foi o ovo ou a galinha: roda, roda e não se
chega a lugar nenhum”, dizem. Como sempre se aprende com os conhecimentos
colocados à prova nas discussões, vamos tentar contribuir. Ou não.
Você pode dizer “você é muito importante para mim” ou “bela donzela,
você é a luz de minha janela”. As duas mensagens têm a mesma intenção,
porém efeitos distintos. A primeira é direta e objetiva; a segunda também é
direta, mas é mais sofisticada, digamos assim. Consideremos essas frases como o
“design” do falante. Dentro de um contexto, uma alternativa pode ser melhor
do que outra.
Agora perceba a diferença neste exemplo de frase: “O coração de um jagunço
arde como um iceberg frito”. Depois de ler, você pode ficar com a pulga atrás
da orelha tentando entender o que eu quis dizer com isso (ou não). Arte é
caracterizada pela pluralidade de interpretações, não há uma intenção
clara do artista em comunicar uma única mensagem. Essa é a graça da obra de
arte, cada um vê o que quer.
Aqui cabe um parênteses sobre a máquina computador. A psicóloga Sherry
Turckle fez um estudo com crianças no começo dos computadores pessoais (O
Segundo Eu). Chegou à conclusão de que o computador atua como o teste de
Roscharch (aquele em que psicólogos mostram uns borrões e pedem que você diga
o que significam). Cada criança tinha um relacionamento diferente com o
computador – ele podia servir como um ombro amigo, um incentivo aos estudos ou
apenas uma ferramenta sem vida (isso nos faz pensar se o computador poderia ser
considerado uma obra de arte, ou não).
As primeiras interfaces eram simples e ofereciam pouca abstração. Afinal,
havia pouca informação a ser transmitida ao usuário. Com o advento da web,
cada computador está conectado a uma infinidade de informação. Como colocar
tudo isso na ponta do dedo que clica? Steven Johson fala que essa é uma tarefa
artística no livro Cultura
da Interface. A infosfera exige uma nova linguagem que em parte se cria
junto com a nova tecnologia e em parte a partir de tradicionais formas de criar
ambientes: arquitetura, cinema, romance.
Voltando à questão do contexto, conto uma passagem interessante. Certa vez, um
estudante de jornalismo levou para a Bienal de São Paulo um quadro que ele
mesmo pintou toscamente, sem apuro artístico. Encostou-o contra a parede, no chão
ao lado de outras pinturas penduradas. Observou que as pessoas que passavam por
lá prestavam atenção àquele quadro afixado de forma diferente. A peça ficou
lá até o final da Bienal, sem que a organização do evento notasse que não
fazia parte da exposição.
A história do quadro “não-artístico” ao lado de obras em exposição
serve de exemplo de que tudo pode ser design e tudo pode ser arte, depende do
contexto. E uma coisa permeia a outra: artistas usam garrafas de Coca-Cola em
obras de arte e designers usam grafismos em interfaces.
Como disse antes, gosto de discussões e nessa não cabe ponto final. Então, envie-me
um email se você também acredita que a contradição é inerente ao homem
e deve ser discutida para que não nos acomodemos. [Webinsider]
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