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Neurônio
tem "personalidade", diz estudo
RICARDO BONALUME NETO
enviado especial da Folha de S.Paulo a Natal
As células do cérebro têm "personalidade"
própria, e essa diferença entre elas promete dar pistas
aos cientistas sobre as causas e possíveis tratamentos de
doenças mentais e do sistema nervoso.
Essas células do sistema nervoso, os neurônios, podem ser
classificadas em pelo menos 15 tipos, de acordo com seu
comportamento. "Cada neurônio tem uma personalidade
elétrica", diz o pesquisador Henry Markram, do
Instituto do Cérebro e da Mente, em Lausanne, na Suíça.
Markram fez uma palestra sobre o tema ontem no 1º Simpósio
de Neurociências de Natal, o evento que está dando o
pontapé inicial na criação do futuro Instituto
Internacional de Neurociência, que está sendo construído
em Macaíba, município vizinho da capital potiguar.
A transmissão dos sinais nervosos é um evento
físico-químico, que envolve sinais elétricos interagindo
com mensageiros químicas conhecidos como "neurotransmissores".
Os neurônios podem ser classificados por esse perfil
elétrico --por exemplo, se "disparam" rapidamente
ou se o fazem com uma pequena espera inicial--, e também
pelos genes que ativam.
Markram e colegas compararam esses dois perfis, e notaram
que havia uma correspondência entre eles --de modo que,
sabendo o comportamento elétrico, por exemplo, é possível
deduzir o padrão de ativação dos genes.
O número, o tipo, os contatos dos neurônios entre si
--"os neurônios são muito promíscuos", diz o
pesquisador--, permitem deduzir regras sobre seu
comportamento. E isso possibilita estudar "como podem
mudar em diferentes tipos de doenças", diz ele.
Já existem algumas indicações de que esses circuitos
cerebrais deficientes estariam por trás de problemas como o
autismo, diz Markram. "É como um microcomputador com
problemas, que nós tentamos descobrir quais são",
afirma o cientista.
Apesar dessa semelhança com o que acontece num computador
baleado, nenhuma estrutura computacional existente imita o
que se passa no cérebro humano, lembra ele. Uma habilidade
única é a capacidade do cérebro humano de associar
eventos acontecidos em momentos distintos --como algo
passado há dois segundos, há dois minutos ou há dois anos
simultaneamente.
Por trás dessas capacidades está a área do cérebro que
mais evoluiu e se diferenciou no homem em relação a outros
mamíferos, o chamado neocórtex, que responde por 80% do
cérebro do ser humano moderno.
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