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       Silêncio, festa 
       
      Osmar Freitas jr. – Nova York (EUA) 
       
      Baladas em que não entram música 
      e conversas altas começam a virar 
      moda nos Estados UnidosUm princípio pode parecer que não 
      há muito o que se falar sobre uma 
      “festa do silêncio”. O nome indica a premissa, e, se envolve a falta
      de som, ninguém diz nada. Mas a idéia de se unir duas situações tão
      antagônicas merece explicações. Trata-se de uma nova onda que atinge
      desde a China, passando pelo Chile, até os Estados Unidos e,
      possivelmente em breve, o Brasil. Junta-se uma centena de pessoas num bar
      onde a música é um jazz tocado baixinho, com interrupções de cinco
      minutos sem som, depois de cada seleção. Os participantes não vocalizam
      as conversas. Até os garçons apelam 
      para a mímica para receber ordens do menu. Os celulares são proibidos.
      Tem-se algo como uma convenção de surdo-mudos. E quem iria num lugar
      destes? Pessoas cansadas do barulho cotidiano, que já não aguentam mais
      papos-furados. A enorme fila formada à porta do bar Madison Bistrô, em
      Manhattan, Nova York, num sábado do mês passado, confirma o sucesso do
      programa. Ali, os zumbidos das moscas parecem gritos. 
      Os inventores desta cruzada antipoluição sonora são Paul Rebhar e
      Tony Moe, dois americanos que começaram as festas do silêncio há um
      ano. O primeiro deles sempre foi meio maluco: é um artista plástico que
      nos anos 90 pendurou uma obra sua dentro do Museu de Arte Moderna de Nova
      York. A peça foi retirada rapidamente pela curadoria do MoMa. Já o
      segundo, é sujeito insuspeitado de ter uma idéia como esta: Tony é
      cantor profissional. A dupla juntou amigos para uma reunião silenciosa,
      na qual a comunicação só poderia ser feita por meio da mímica e de
      bilhetinhos. “Os convidados gostaram e resolvemos transformar o evento
      em periódico”, diz Rebhar. Para acomodar a demanda das multidões
      carentes de quietude, era necessário melhor organização. As festas começaram
      a ser anunciadas no site montado por eles, no qual se noticiam os locais e
      datas dos encontros. “Alugamos o espaço de um bar e cobramos entrada de
      US$ 20 com direito a dois drinques”, conta Tony. 
      É surpreendente a quantidade de gente que quer ficar quieta. Na festa
      montada no Madison Bistrô, cerca de 150 pessoas se aglomeravam em duas
      salas. No ambiente onde está o bar, são permitidos cochichos e
      sussurros. Dependendo da quantidade de álcool ingerida, os decibéis
      aumentam. É quando a turma do fundo bronqueia: “Sssh!” No salão
      seguinte é tudo silêncio. As mesas são providas de papel e canetas, além
      de massinhas de modelar. A escultura pode ser o último recurso para os
      meio analfabetos. Flerte, linguagem corporal e torpedos preenchem a ausência
      de som. “Acho que por meio da escrita as pessoas se abrem mais”, diz
      Ane Rose Billings, uma bonita loira de 23 anos. Ela pode ter razão, mas
      quem não sabe escrever bem está perdido: uma paquera pode ser encerrada
      por causa de um erro de concordância. Outra mocinha graciosa, mas
      entediada, comentava: “Se é para ficar na escrita, não preciso sair de
      casa, é só entrar numa sala de conversas na internet”. O que ela
      parece não entender, é que na festa as pessoas se vêem, enquanto na
      internet aquele que parece ser um gatinho ousado é, na verdade, um senhor
      de meia-idade que gosta de se vestir com babydoll. 
      
      
       
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