Design para pensar
vs. o
excesso de informação
Opinião na contramão: o
webdesign precisa se revitalizar para ser
potencialmente criativo, envolto num véu de mistério,
de vitalidade, de força, de ilusão necessária,
de cegueira, de parcialidade.
Marcos Nähr
“Suspeito, entretanto, que (Funes) não era
muito capaz de pensar. Pensar é esquecer diferenças,
é generalizar, abstrair.” (Funes, o Memorioso, Ficções, Jorge Luis Borges).
Recentemente, lendo um livro sobre memória me
deparei com um comentário sobre o conto Funes,
O Memorioso, de Jorge Luis Borges.
Neste conto Borges descreve um personagem, Irineu
Funes, que a partir de um certo momento da vida
passa a contar com uma memória perfeita, ou seja,
tem a capacidade de lembrar absolutamente tudo.
Consegue captar os pormenores de tudo que
vivencia, sendo capaz de relembrar todos os
detalhes, por mais insignificantes que possam
parecer. Podia relembrar nos mínimos detalhes um
dia inteiro de sua vida, mesmo que para isto
levasse outro dia inteiro, até o último segundo.
No entanto o que me chamou a atenção em Funes não
foi sua maravilhosa capacidade de memorizar, mas
sim sua “incapacidade de esquecer”.
“Para pensarmos precisamos necessariamente
generalizar, e para tal é necessário
esquecer”. (A Memória de Borges, Virgílio
Fernandes Almeida).
Trazendo este relato para o mundo do design, nos
damos conta de que a internet está cada vez mais
parecida com Funes. A quantidade de detalhes e o
excesso de informação dos sites atuais sufocam
os usuários. A maioria dos sites atuais oprime e
confunde, tornando as informações descontínuas
e fragmentadas.
“Suspeito, contudo, que (Funes) não era capaz
de pensar... No mundo abarrotado de Funes não
havia senão detalhes...”. (Funes, o Memorioso, Ficções, Jorge Luis Borges).
Os webdesigners precisam se dar conta de que não
precisam “mostrar tudo” para os usuários,
abarrotá-los de informações e detalhes, já que
estes serão esquecidos com a mesma facilidade com
a qual foram percebidos.
“... (o homem) acaba por arrastar consigo, por
toda a parte, uma quantidade descomunal de pedras
indigestas de saber, que ainda, ocasionalmente,
roncam na barriga...” (Considerações
Extemporâneas, Nietzsche
A memória do homem é naturalmente seletiva. Os
seres humanos possuem uma capacidade incrível de
ver o mundo, completamente diferente do modo com o
qual Funes o fazia. Temos até a capacidade de
olharmos em alguma direção e ver o que não está
lá.
Nada se assemelha mais ao pensamento humano do que
o hiperlink. Nele, contrariamente do modelo
cumulativo de Funes, apenas conectamos, cruzamos,
escorregamos, navegamos.
O webdesign precisa se revitalizar neste sentido,
ser potencialmente criativo, envolto num véu de
mistério, de vitalidade, de força, de ilusão
necessária, de cegueira, de parcialidade.
O webdesign precisa voltar a fazer o usuário
pensar! [Webinsider]
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