Computador
pirata já ocupa 70% do mercado brasileiro
MAELI PRADO
da Folha de S.Paulo
A cada 100 computadores pessoais vendidos no ano
passado no Brasil, 70 eram clonados, ou seja,
montados ilegalmente. Em 2004, a expectativa é que
o número suba para 74. É o que revela um estudo
realizado pela IDC, consultoria especializada em
tecnologia da informação, a pedido da Abinee
(Associação Brasileira da Indústria Elétrica e
Eletrônica).
A "participação de mercado" dos PCs
ilegais vem subindo há anos: se em 2003 era de 70%,
em 99, mostra o levantamento, era de 59%; em 96,
menos de 40%. Esses números são explicados por
outros percentuais: um computador pessoal clonado,
sem nota fiscal, é 41% mais barato do que um
vendido por um fabricante oficial.
De acordo com os dados da IDC, a evolução das
vendas no Brasil por tipo de fabricante seguiu
caminhos opostos nos últimos oito anos: as dos PCs
confeccionados oficialmente por fabricantes
nacionais e internacionais caíram, enquanto as dos
chamados "cloneiros", que montam o
computador ilegal, subiram.
A ironia é que a China, país tradicionalmente
associado a irregularidades na venda de componentes,
passou de uma participação de 85% em 1999 para 73%
no ano passado. A maioria dos países pesquisados
pela IDC, no entanto, também registrou alta em seu
percentual de clonados.
Com exceção dos monitores, os demais componentes
dos PCs ilegais são adquiridos em sua maioria de
forma irregular (mais de 50% dos gabinetes, placas-mãe
e processadores, entre outros).
"Com a carga tributária crescendo, as vendas
no mercado informal também aumentam", analisa
Hugo Valério Júnior, diretor de informática da
Abinee.
Segundo a entidade, a ilegalidade generalizada faz
com que o Brasil não atraia mais novas empresas em
toda a cadeia de PCs.
O país perdeu R$ 1,5 bilhão em arrecadação em
2003 por conta desse mercado ilegal. Cerca de 62%
dos PCS comprados pelo governo também são clonados.
"Os canais são os distribuidores que vêm de
Miami ou do Paraguai. Os pequenos vendedores não
compram diretamente", afirma Ivair Rodrigues,
gerente de pesquisas da IDC.
Perfil dos "cloneiros"
A IDC fez a pesquisa com 120 "cloneiros",
pessoas físicas e jurídicas, além de utilizar no
estudo dados de outras pesquisas realizadas pela
consultoria. Dessa forma, chegou a um perfil de cada
um.
A maior parte dos "cloneiros" pessoas físicas
não paga impostos para adquirir componentes, que são
muitas vezes contrabandeados. O único custo é a mão-de-obra,
telefone e entrega, estimada em cerca de R$ 20. No
caso dos pessoas jurídicas, muitos compram parte
dos componentes oficialmente e parte ilegalmente.
O negócio é tão bom que a expectativa de vendas
dos "cloneiros" para os próximos 12 meses
é otimista: 46% e 65%, respectivamente, dos "cloneiros"
pessoas físicas e jurídicas apostam em aumento das
vendas.
Como é muito difícil falsificar componentes de PCs,
que envolvem tecnologia muito sofisticada, os
computadores clonados são na maioria das vezes
iguais aos dos fabricantes oficiais, com a diferença,
é claro, que não possuem garantia e suporte técnico.
Cerca de 99% dos clonados, no entanto, são vendidos
sem nota fiscal, ou seja, comprá-los é crime.
É por isso que as principais medidas cobradas do
governo pelo setor são redução de impostos --a
carga tributária chega a 30% do produto-- e
fiscalização mais rígida. "O governo
arrecadaria mais se baixasse a alíquota para 5%,
6%", diz Valério Júnior.
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