Devagar
e sempre
A Terra está girando cada vez mais lentamente, e as
marés são as principais responsáveis
Edson
Franco
"A h, se o dia tivesse mais uma hora..." Sonho de boa parte da
humanidade, essa esticada no tempo acontecerá, mas é preciso esperar
um pouco. Serão necessários 150 milhões de anos para que lojas,
restaurantes e chaveiros que funcionam dia e noite coloquem em seus
cartazes a frase "aberto 25 horas". O processo é lento e
irregular, mas o certo é que a Terra está girando cada vez mais
lentamente.
Se hoje a gente reclama
da falta de tempo, imagine se estivéssemos por aqui quando o planeta
veio à luz, há 4,5 bilhões de anos. Especula-se que naquela época
ele dava uma volta em torno do seu eixo em aproximadamente 1 hora. Desde
então, a rotação vem desacelerando devido, principalmente, a fenômenos
que alteram aquilo que os cientistas chamam de momento angular. Para
entender isso, imagine uma patinadora girando. Já percebeu como a
velocidade do rodopio aumenta na medida em que ela aproxima os braços
do centro do corpo?
Pois bem, o que ela está
fazendo nada mais é do que um deslocamento de massa que atenua a inércia.
Como fruto, a aceleração acontece para preservar o momento angular da
patinadora.
Na Terra, os
deslocamentos de massa estão provocando o contrário. E, na hora de
apontar o maior responsável, os cientistas são unânimes.
"Enquanto existirem oceanos na Terra, as marés serão os
principais fatores", resume o geofísico Wladimir Shukowsky, do
Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo.
Mas a coisa não é tão
simples como no exemplo da patinadora. Além do grande deslocamento de
massa, as marés são responsáveis por outra alteração. Benjamin Fong
Chao, chefe do Space Geodesy Branch (órgão ligado à Nasa), explica:
"É o que chamamos de fricção das marés. Trata-se de um 'efeito
colateral' que envolve o atrito da água com o fundo do oceano e as
costas. Em decorrência, há uma dissipação da energia cinética da
Terra, o que acaba motivando a desaceleração".
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