Chinesa
desafia fornecedores ocidentais de telecom
Quando a sede de uma empresa jovem se assemelha a uma pequena cidade, as
chances são de que seus planos sejam grandes. A maior fabricante chinesa
de equipamentos para telecomunicações, Huawei Technologies, se orgulha
de uma ampla sede com área de 11,3 quilômetros quadrados na cidade de
Shenzhen, uma área em expansão no sul da China, que abriga mais de
metade dos 24 mil funcionários que se esforçam por conquistar espaço no
cenário mundial para a companhia.
As vendas em alta
acelerada e recentes transações realizadas pela Huawei atraíram a atenção
de potenciais investidores, que estão ansiosos pela abertura de capital
do grupo, e de concorrentes preocupados com a possibilidade de que
fornecedores chineses de baixo custo obtenham espaço nos mercados
ocidentais.
No mês passado, o grupo
conquistou seu primeiro grande contrato europeu, derrotando a sueca
Ericsson e obtendo um contrato no valor de até 400 milhões de euros (US$
530,1 milhões) para a criação de uma rede de telefonia móvel de
terceira geração (3G) para a holandesa Telfort.
"Os próximos dois
anos serão muito bons para nós na Europa Ocidental. Começamos nos
mercados emergentes porque a concorrência é menor", disse Richard
Lee, porta-voz da Huawei, depois de uma visita rápida a uma série de
novas linhas de montagem e muito movimentadas.
Apoiada por negócios em
mercados como a Rússia, Oriente Médio e África, as vendas
internacionais de Huawei subiram 117%, para US$ 2,28 bilhões no ano
passado, enquanto seu faturamento no saturado mercado chinês atingia os
US$ 3,3 bilhões, depois de subir 18%.
No Brasil, a empresa deve
iniciar a produção de telefones celulares ainda este ano. A companhia
está instalada no país desde 1999, vendendo equipamentos para acesso à
Internet em banda larga, principalmente.
Próxima campeã
chinesa?
A Huawei estima que as exportações possam crescer para até US$ 4 bilhões
em 2005, à medida que a empresa se concentra em combater concorrentes
como Motorola, Ericsson e Nokia, na Europa Ocidental e América do Norte.
Os rivais reconhecem a pressão. "Onde eles competem é em preço",
disse Richard Wright, porta-voz da Lucent Technologies em Hong Kong.
"Concorrentes como esse nos forçam a trabalhar melhor para nossos
clientes."
Embora a China se saia
muito bem em produzir itens a custo baixo, suas empresas vêm encontrando
dificuldades para difundir suas marcas no exterior. Isso pode estar começando
a mudar. No mês passado, a maior produtora de computadores pessoais
chinesa, Lenovo Group fechou acordo para adquirir a divisão de
computadores pessoais da IBM por US$ 1,25 bilhão.
A fabricante de eletrodomésticos
Haier e a fabricante de televisores e celulares TCL também avançaram no
exterior. A Huawei, fabricante de custos muito baixos, exerce influência
desproporcional, estimam os analistas.
"A Huawei talvez
ainda obtenha menos receita que empresas como a Alcatel e a Siemens, mas
seu ritmo de crescimento é muito maior, de modo que seu impacto sobre o
mercado é muito maior que o seu tamanho atual", disse Bertrand
Bidaud, analista do Gartner Group.
"O próximo passo
será fechar negócio com uma grande empresa internacional. Estão
evidentemente negociando com diversas grandes operadoras, e isso lhes dará
credibilidade", afirmou.
De olho no IPO
A falta de reconhecimento da marca da Huawei é o maior desafio para que
ela penetre nos maiores mercados, disse Lee. "Vamos fazer uma oferta
pública inicial de ações, mas o cronograma ainda não está definido.
Queremos ser uma empresa de capital aberto e transparente... Isso nos
ajudará a melhorar nossa marca", disse.
O grupo não está sob
pressão financeira para abrir seu capital, acrescentou Lee, depois de
garantir uma linha de crédito de US$ 10 bilhões no Banco de
Desenvolvimento da China no mês passado.
Mas Bidaud argumenta que
quanto maior fica a Huawei, mais urgente deve se tornar a abertura de
capital. "Em dado momento, os potenciais grandes clientes da Huawei
exigirão mais transparência, o que forçará a empresa a abrir o
capital", disse Bidaud. "Abrir o capital não é só questão
financeira, mas estratégica."
Mas se a empresa planeja
fazê-lo, precisa enfrentar as percepções sobre seu passado e controle,
disse Duncan Clark, diretor executivo da BDA China, uma consultoria de
telecomunicações. A empresa não recebe com agrado as sugestões de que
está ligada ao exército chinês. Ren Zhengfei, o discreto
presidente-executivo e fundador da Huawei, criada em 1988, foi soldado no
passado.
"É uma empresa
privada. O controle está 100 por cento em mãos de seus funcionários",
disse Lee. "Não tem nada a ver com o exército."
A imagem da Huawei sofreu
abalo quando a gigante norte-americana Cisco Systems abriu processo contra
ela em 2003, acusando a empresa de violar sua propriedade intelectual e
infringir patentes. No ano passado, a Cisco abandonou o processo, depois
que a Huawei tomou medidas para dissipar suas preocupações.
"As questões talvez
não importem, mas certamente serão usadas por concorrentes
internacionais para pressionar (contra a Huawei)", disse Clark.
"O setor de telecomunicações é muito politizado."
Reuters
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