Sexo não garante
intimidade em relacionamentos
Parceiros precisam
se conhecer bem além da cama, diz especialista
Colleen O'Connor
The Denver Post
Em Denver, Colorado
Metade de todos os
casamentos terminam em divórcio nos EUA --um paraíso onde os adultos
solteiros representam o grupo demográfico de maior crescimento e onde a
solidão parece epidêmica.
O problema é que
nossos corações desejam intimidade, mas temos medo de enfrentar seus
rigores, diz Matthew Kelly, autor de "The Seven Levels of Intimacy" [Os sete
níveis da intimidade].
Segundo ele, os
relacionamentos derrapam para a mediocridade por muitos motivos: falta de
objetivo comum; falta de confiança; ausência de boa orientação de um
conselheiro ou mentor espiritual. E, sim, expectativas irreais.
"Se você define um
grande relacionamento como um sem qualquer problema insolúvel, ou sem
qualquer conflito, então você está se preparando para a frustração e a
decepção", ele escreve. Entrevistamos Kelly sobre sexo, almas gêmeas e
autotraição.
The Denver Post -
Qual é o principal motivo de fracasso nos nossos relacionamentos?
Matthew Kelly - As
pessoas não sabem o que querem. Elas absolutamente não sabem! Quando
converso com solteiros, digo que eles precisam fazer duas listas. A primeira
lista deve ser inegociável, e não pode ter 97 coisas. Deve ser curta e
concisa. A segunda lista é a das coisas que seriam boas. E você tem de viver
de acordo com elas. As pessoas saem com alguém que sabem que não é a pessoa
que elas querem, mas também não querem ficar sozinhas. Então perdem a
oportunidade de conhecer as pessoas que se enquadram nos critérios de sua
lista.
DP - As pessoas
solteiras tendem a ver o casamento como o nirvana. Mas alguns casados dizem
que são realmente solitários. Isso é solidão existencial ou outra coisa?
Kelly - É diversas
coisas. Intimidade é a auto-revelação mútua, mas a realidade é que passamos
mais tempo nos escondendo, nos mascarando e erguendo barreiras. Nos
escondemos por causa desse grande denominador universal, o medo. As pessoas
pensam: "Se você realmente me conhecesse, não gostaria de mim". Todos temos
esse medo, em graus variados. Nos escondemos tanto que, apesar de estarmos
com uma pessoa, não estamos com ela. Somos apenas um fantasma. Podemos
passar a vida inteira e nunca nos sentir realmente conhecidos por outra
pessoa. Isso é deprimente e cria uma solidão incrível.
DP - O que você
acha de conceitos populares como amor à primeira vista e almas gêmeas?
Kelly - São duas
coisas muito diferentes. Acredito que algo como o amor à primeira vista
certamente é possível, mas esclareço dizendo que o amor é uma opção.
Realmente acredito que escolhemos as pessoas que amamos... A primeira coisa
que atrai duas pessoas é algum tipo de atração física. Isso é verdade. Mas
além disso precisamos de um discernimento cuidadoso.
Quanto a almas
gêmeas, realmente acredito que, nos grandes relacionamentos, as pessoas
foram criadas uma para a outra. Quando você conhece pessoas em
relacionamentos ótimos, são como duas peças de um quebra-cabeça que se
encaixam, especialmente quando você chega ao nível mais elevado de
intimidade, que é duas pessoas trabalhando juntas para suprir mutuamente
suas necessidades legítimas. Nós todos somos maravilhosos e estranhos de
muitas maneiras. É realmente um milagre que duas pessoas consigam se unir em
relativa harmonia e trabalhar para criar uma vida ótima.
DP - Você diz que
na cultura moderna a intimidade física é mais fácil que a emocional. Como
isso afeta nossos relacionamentos, especialmente no cenário da paquera?
Kelly - O mito
cultural dominante é que o sexo equivale a intimidade. Ele pode fazer parte
dela, mas sexo não garante a intimidade. Os jovens estão conscientes da
necessidade de conexão com outras pessoas. Mas por causa da força da
mensagem cultural eles gravitam para uma experiência sexual da intimidade.
Então se sentem abandonados, traídos e usados.
DP - Então, se o
maior problema nos relacionamentos é a autotraição, por que deixamos que
isso aconteça?
Kelly - Porque não
temos consciência de nós mesmos, não nos conhecemos e não sabemos realmente
quais são nossas necessidades legítimas, física, emocional, intelectual e
espiritualmente. Ficamos tão consumidos por desejos ilegítimos que nunca
recebemos o suficiente do que realmente não precisamos. Então nossos desejos
tornam-se desordenados, caprichos baseados em desejos fúteis, e não em um
verdadeiro projeto ou autoconhecimento. Se quisermos satisfação e
realização, precisamos nos concentrar em nossas necessidades legítimas, que
incluem a intimidade. Esse é o segredo.
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