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"Webisódios"
viram febre nos EUA
NEVES
da Folha de S.Paulo
No novo endereço de Adrian Monk, as fobias e neuroses do
aloprado detetive particular de San Francisco coabitam com
e-mails, mensagens instantâneas e distrações digitais afins. É
que as esquisitices do personagem-título da série cômica
americana pularam da televisão para a internet, em programetes
com duração entre um e dois minutos, filmados exclusivamente
para o meio.
No primeiro episódio --cuja versão legendada já pode ser vista
no site do Universal Channel, casa brasileira de "Monk"--, o
personagem interpretado por Tony Shalhoub entra em parafuso
quando o seu psicólogo tenta mudar a data da sessão seguinte.
As outras três "pílulas" por enquanto só estão disponíveis na
versão original (sem legendas), no site oficial da série (www.usanetwork.com).
A mais engraçada é a terceira, "Monk e o Exame de Sangue", em
que, antes de ser submetido ao procedimento, o detetive é
deixado sozinho em um consultório por uma enfermeira. Ele decide
"ajustar" a posição dos objetos que há ali, o que inclui nivelar
a altura de sangue em tubos com testes alheios. Preste atenção
ao último quadro, quando um médico dá uma notícia bombástica a
uma senhora de idade.
Quiçá para alívio do investigador obsessivo-compulsivo, a
vizinhança digital ganhará novos inquilinos em breve: os
engravatados da versão americana da comédia "The Office"
(exibida no Brasil no canal FX).
A NBC, emissora que transmite o programa nos EUA, oferecerá
gratuitamente em seu site, a partir de 13 de julho, dez "webisódios"
de dois minutos. A trama girará em torno do sumiço de US$ 3 mil
do departamento contábil da Dunder Mifflin, empresa de papel da
Pennsylvania gerenciada pelo extravagante Michael Scott (Steve
Carell, de "O Virgem de 40 Anos"). Mas quem responderá pelo
humor nonsense nessa "webtemporada" será o elenco coadjuvante,
segundo informações preliminares.
A "corrida digital" dos canais de televisão tem fundamentação
científica: um levantamento divulgado no início deste ano por um
instituto de pesquisa especializado em tecnologia revelou que,
na média de 2005, os americanos dedicaram à internet as mesmas
14 horas semanais que consagraram ao zapping televisivo.
As conclusões desse relatório vêm repercutindo para além do
circuito comercial. Na cena alternativa dos "webisódios" (sim,
ela existe!), a percepção de que a supremacia da TV na difusão
de conteúdo audiovisual pode estar com os dias contados
movimenta amadores que têm boas idéias, mas pouco dinheiro.
É dessa arena que vem "Hero Envy" ("Inveja de Herói"), série
escrita e atuada por uma turma de amigos fissurados em HQs de
super-heróis, com trama baseada em um roteiro que nunca
encontrou financiamento para se converter em longa-metragem. A
produção caseira começou a ser rodada no ano passado e já gerou
sete episódios de dez minutos.
Mensais, as histórias (que podem ser conferidas no site
www.glintofhope.com) focalizam
a rotina de dois amigos de longa data que dividem um apartamento
alugado no interior do Massachusetts.
Na mesma linha, mas abrindo espaço à improvisação, há "The Eric
and Ray Show" (http://ericandrayshow.com),
que registra o comportamento à la "Jackass" de dois guris um
tanto desajustados.
"Mobisódios"
Os "webisódios" já têm companhia na relação de corruptelas do
formato tradicional da TV: são os "mobisódios", feitos
especialmente para celulares. O primeiro seriado a ser
transplantado para o serviço de telefonia móvel foi "24 Horas",
no ano passado.
Liberados a conta-gotas (um por semana) para os fãs de 23 países
--incluindo o Brasil--, 24 segmentos de um minuto acompanharam a
investigação, por um agente da unidade anti-terrorismo da CIA,
da morte de um oficial do governo. Mas quem esperava seguir a
correria de um Jack Bauer (Kiefer Sutherland) ainda mais afoito
(em com menos tempo!) para desmantelar conspirações e escapar da
morte se decepcionou: ele foi substituído por um certo Martin
Kail nas "aventuras móveis".
Não é o que acontecerá no fim do ano, quando o megasucesso "Lost"
migra para os celulares americanos. Com duração entre dois e
três minutos, os "mobisódios" trarão os mesmos personagens da
matriz televisiva. A direção de marketing da Disney (produtora
da série) no Brasil informou já ter iniciado conversas com
empresas de telefonia para distribuir o conteúdo no país. No
entanto, não há previsão de lançamento.
Procuradas pela reportagem por meio de suas assessorias, as três
maiores emissoras de TV (Globo, SBT e Record) disseram ainda não
ter planos de gravar "webisódios" ou "mobisódios" de seus
programas.
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