Mercado de laptops espera boom no ano

MARCELO SAKATE
da
Folha de S.Paulo


Fabricantes de computadores e analistas esperam um crescimento acelerado nas vendas de notebooks no Brasil neste ano, semelhante ao experimentado em 2006 pelos desktops (aparelhos de mesa). Eles aguardam novas medidas de incentivo fiscal e a escolha do modelo, pelo governo, que será levado às escolas públicas.

Depois de expectativas não-concretizadas no último ano, o governo brasileiro planeja começar a testar nas próximas semanas, em cinco escolas do país, três modelos de computadores portáteis para o seu projeto de inclusão digital.
Negociações entre governo e esfera privada também abrangem a ampliação das isenções de PIS e Cofins a laptops cujos preços sejam de até R$ 4.000. Atualmente o limite, estabelecido por decreto na época da "MP do Bem", em dezembro de 2005, está em R$ 3.000.

Para desktops, o preço-limite para incentivos passaria de R$ 2.500 para R$ 3.000.
"A mudança não ampliaria muito as vendas de desktops porque os que mais vendem hoje são aqueles que custam na faixa de R$ 1.000. Afetaria mais notebooks. É possível ampliar bastante a gama de produtos", diz Reinaldo Sakis, analista sênior da consultoria IDC Brasil.

Para Hugo Valério, diretor da área de informática na Abinee (associação da indústria elétrica e eletrônica) e de assuntos estratégicos da HP (Hewlett-Packard), os incentivos da "MP do Bem" e o programa do governo "Computador para Todos" (para o financiamento de máquinas ao consumidor) ajudaram a reduzir o tamanho do mercado cinza, de produtos ilegais, no ano passado. Segundo ele, tais máquinas migraram para faixas de preços superiores, que, com as novas isenções, teriam concorrência.

Estima-se que tenham sido vendidos 8,3 milhões de computadores no país em 2006, dado incluindo o mercado cinza. O crescimento foi de 43%. A participação de laptops deve ter chegado a 7% do total, ante algo entre 4% e 5% no ano anterior. O número está distante dos de mercados como o americano e o asiático, perto de 30%, e de emergentes como México (15%) e Chile (20%).

A expansão do segmento pode ser atribuída ainda à entrada de novos produtos a preços menores. É uma conseqüência do ganho de escala obtido com as vendas maiores na esteira da "MP do Bem" e deve prosseguir em 2007, afirma Juan Jimenez, vice-presidente da HP.

Ricardo Shiroma, gerente de produtos da Dell, diz esperar incremento nas vendas especialmente no mercado de pequenas e médias empresas e de alunos do ensino superior e de pós-graduação. O segmento corporativo representa 80% dos negócios da Dell.

Nas escolas

Em paralelo ao varejo, cresce o interesse de países em desenvolvimento como o Brasil em laptops "populares" --com preços menores e menos recursos-- com fins educacionais. Além do Brasil, Argentina, Uruguai, Nigéria, Paquistão e Tailândia, entre outros, devem começar a testar nas escolas neste ano o laptop de Nicholas Negroponte, co-fundador do Media Lab (laboratório de mídia) do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).

Lançado pelo laboratório há três anos, o "laptop de US$ 100" --como é chamado, embora o preço deva se aproximar de US$ 150-- hoje é gerido pela organização sem fins lucrativos OLPC ("Um Laptop Por Criança", em inglês), de Negroponte.
Cerca de mil aparelhos foram fornecidos ao governo brasileiro. Os testes ocorrerão em uma escola do Rio Grande do Sul e em outra de São Paulo.

Outros 800 são da multinacional Intel, e 40 foram doados pela Encore, empresa de tecnologia com sede em Bangalore, na Índia. Os testes da primeira serão em escolas de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, e os da asiática, em uma de Brasília.
Carlos Luzzi, diretor para assuntos corporativos da Intel, diz que a discussão do uso de computadores nas escolas na proporção "um por aluno" pode ser só a "ponta do iceberg". "Vai modificar a dinâmica do aprendizado. É um processo que levará tempo, mas as perspectivas são animadoras."

Segundo ele, projeções indicam existir 55 milhões de alunos nos ensinos médio e fundamental da rede pública. Além do governo federal, Luzzi diz que Estados como SP, Minas, Paraná, Rio Grande do Sul e Pernambuco demonstram interesse em adotar os modelos.

 

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