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Fones personalizados são sensação
nos EUA
Rob Walker
Vocês se lembram da época em que fones de
ouvido brancos serviam como símbolo de status? Jonathan Hall lembra. Mas
hoje em dia, como ele e seus colegas de trem na região de Nova York bem
sabem, os fones de ouvido do iPod, que no passado conferiam distinção
instantânea aos seus usuários, se tornaram tão comuns quanto um terno
cinzento.
Cerca de dois anos atrás, Hall, 29 anos, e sua mulher, Kate, 29 anos,
decidiram que devia haver uma maneira de lucrar com essa virada de
tendência. Os acessórios para iPods, entre os quais estojos e "peles",
já se haviam tornado um grande negócio, mas esses itens serviam apenas
para decorar o aparelho, que normalmente fica escondido em um bolso,
invisível.
Agora, os Hall já venderam dezenas de milhares de peças de seu "Emotibud",
um acessório de borracha flexível que pode ser afixado ao fone de
ouvido, quase como se fosse um brinco. Cada par (o casal vende três
pares por US$ 12) ostenta o desenho sumário de um rosto, em forma de
emoticon.
Há grande variedade de rostos básicos disponíveis, apresentados sobre
fundos de cores brilhantes e com expressões que correspondem a humores,
por exemplo "sonhador" ou "a fim". Recentemente, os Emotibuds tomaram
parte no concurso Next Big Thing, da loja online de design FredFlare.com
e, embora não tenham vencido, a loja teve de reabastecer seus estoques
do produto pelo menos quatro vezes, para atender à demanda.
Histórias como essa fazem com que o design para consumidores cada vez
mais interessados em personalizar aquilo que usam pareça incrivelmente
simples, mas os Hall tiveram de enfrentar uma série de obstáculos.
Quando a idéia primeiro lhes ocorreu, não sabiam nada sobre como
fabricar um produto. Contactaram um fabricante de peças plásticas
injetadas, mas não estavam habilitados a produzir os planos detalhados,
milimétricos, que esse método de produção requer.
Hall comprou um manual básico sobre o tema e, depois de algumas
tentativas infrutíferas, eles começaram a enviar os planos do produto e
a receber estimativas de preço - e foi só então que perceberam que
precisariam de um investidor. Para surpresa de ninguém, os potenciais
investidores desejavam saber se os Hall dispunham de pesquisas de
mercado que sugerissem que haveria consumidores interessados.
Assim, o casal divulgou os desenhos do seu produto em um site, e enviou
mensagens a cerca de 10 especialistas na identificação de tendências, na
esperança de que isso ajudasse a avaliar o interesse. Eles montaram o
site em fevereiro de 2006 "e os resultados foram nulos", conta Hall. Os
dois mantiveram seus empregos diurnos (Jonathan é consultor de educação,
Kate é pintora), e decidiram adiar por algum tempo os planos quanto aos
Emotibuds.
Subitamente, passados oito meses, Hall começou a receber e-mails de
pessoas interessadas em saber onde poderiam comprar os Emotibuds. E só
então ele descobriu que um dos sites de tendências que contactara havia
decidido - tardiamente - postar um link para o site do produto.
Os Hall não dispunham de produto, claro, e por isso decidiram que, com a
ajuda de um tio, bancariam o primeiro lote de produção por conta
própria. No começo deste ano, o Emotibud começou a encontrar espaço no
ecossistema de pequenos produtos charmosos, que inclui empresas de
varejo como a loja online Shana Logic e o boletim Daily Candy,
distribuído por e-mail.
No mundo de que estamos falando, a loja de design FredFlare.com merece o
adjetivo "venerável", já que existe há quase 10 anos. Os fundadores,
Chris Brick e Keith Carollo, criaram sua loja online para vender
produtos que, para empregar adjetivos representativos que ouvi em
conversa com o animadíssimo Carollo, sejam "fofos", "adoráveis",
"gracinha" e "superfofos".
Produtos que venceram edições anteriores do concurso Next Big Thing
promovido pela loja terminaram sendo colocados à venda em grandes
cadeias de varejo como a Urban Outfitters, Anthropologie e outras lojas
que se esforçam por acompanhar de perto as tendências. Os produtos
indicados para este ano incluíam uma panela modular para brownies
fabricada pela Baker Edge (que mais tarde seria tema de reportagem na
revista Real Simple) e roupas da Supayana, uma empresa têxtil que
atraiu seguidores fanáticos no eBay (e venceu o concurso).
Com seu aspecto brilhante, e um certo jeitinho de Hello Kitty, os
Emotibuds se enquadram bem à estética de otimismo incansável promovida
pela FredFlare.com. "Você sabe quando a gente é criança e nossa mãe
decide nos levar ao supermercado e a gente não consegue nem acreditar o
quanto tudo que existe nas prateleiras é deslumbrante, e fica meio
surtado de alegria?", diz Carollo. "É exatamente esse o pique que nos
atrai".
É fácil ceder à tentação do cinismo diante da compulsão de personalizar
objetos inanimados. Mas cinismo é um sentimento que não dura muito
quando exposto ao entusiasmo de Carollo. Ele teoriza que os brinquedos
tecnológicos se tornaram objetos de personalização obrigatória para
pessoas que fazem compras em lojas como a sua, porque os celulares e os
iPhones são "mais ou menos como se fossem os nossos animais de
estimação", hoje em dia. daniel.branco Hall está evidentemente feliz com
o sucesso de vendas dos Emotibuds, mas continua a encarar o episódio
todo como uma espécie de projeto colateral, de aprendizado. Cautelosos
quanto aos inúmeros obstáculos industriais, os Hall decidiram expandir
sua linha de imagens - agora sob a marca Emotibles - para o mercado de
roupas de bebê, e estão começando a testar a idéia de cartões de
felicitações usando temas semelhantes. Carollo, eu nem precisaria dizer,
está muito otimista. Os Emotibuds, ele me sugere em mensagem de e-mail,
"são o equivalente de colocar um :) em seu iPod. E eu tenho certeza de
que o mundo seria melhor se tivéssemos mais :), hoje em dia".
Tradução: Paulo Eduardo Migliacci ME
The New York Times
Magazine
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