Robôs
matadores anunciam a guerra do futuro
Jörg Blech
Os robôs guerreiros já entraram em ação no
Iraque, e o exército dos Estados Unidos planeja substituir um terço de
seus veículos blindados e armas por robôs, até 2015. Essas máquinas de
matar podem um dia vir equipadas de consciência artificial - o que
poderia até dotá-las da capacidade necessária a desobedecer ordens
imorais.
Os mais recentes recrutas do exército norte-americano têm um metro de
altura, ostentam camuflagem em tons de deserto e vêm equipados com
metralhadoras M240. Movimentam-se sobre lagartas e - graças a cinco
câmeras - podem ver até mesmo no escuro.
Esses combatentes que não conhecem o medo foram colocados em ação no
Iraque, na metade de junho, sem que o grande público dedicasse muita
atenção à novidade. Trata-se de três soldados robotizados cuja tarefa é
perseguir insurgentes. Como se orientados por uma mão invisível, eles
avançam na direção de seus alvos e disparam suas metralhadoras contra
eles. Trata-se do futuro da guerra - e já está presente.
"Estamos falando do primeiro robô equipado com armas na história na
guerra", diz Charles Dean, engenheiro da Foster-Miller, a empresa que
fabrica os novos aparelhos, em Waltham, Massachusetts. Dean e os demais
70 funcionários de seu departamento estão ansiosos por saber como suas
três criaturas estão se saindo na frente de batalha. Porque os três
robôs, apelidados Swords (espadas), foram destacados para uma
missão secreta, os criadores das máquinas não sabem se foram usados para
matar combatentes inimigos no campo de batalha.
Ao que parece, é apenas questão de tempo antes que os três robôs de
combate recebam reforços. As forças armadas norte-americanas estão no
momento testando o Gladiator, um veículo de combate não tripulado
desenvolvido pelos engenheiros do Instituto de Robótica da Universidade
Carnegie Mellon, em Pittsburgh, Pensilvânia. O Gladiator pesa
mais de uma tonelada e está equipado de pneus de borracha que permitem
que galgue encostas com até 60 graus de inclinação. As forças armadas
norte-americanas já estão instalando câmeras de mira e uma metralhadora
M240 no protótipo.
"Já fizemos muitos disparos com a metralhadora", disse o coronel
Terry Griffin, comandante do programa conjunto de robôs de combate do
exército e do corpo de fuzileiros navais norte-americanos. Caso os novos
testes confirmem o sucesso, uma versão de quatro rodas do Gladiator pode
ser enviada ao Iraque no ano que vem - presumindo que ainda existam
soldados norte-americanos no país.
De acordo com Griffin, o robô de combate tem a capacidade de
dispersar grupos de indesejáveis. Há três estágios diferentes de uso
possível de força: primeiro, a máquina faz um aviso por meio de
alto-falantes; em seguida, dispara balas de borracha; por fim, começa a
usar a metralhadora.
Mais de 50 anos depois que o escritor Isaac Asimov argumentou, em seu
clássico romance de ficção científica Eu, Robô, que jamais
deveria ser permitido que um robô ferisse seres humanos, o
desenvolvimento de máquinas de matar se tornou inevitável. O Swords
e o Gladiator servem como arautos de uma nova forma de guerra, na
qual a tarefa de matar será cada vez mais atribuída a máquinas.
O exército dos Estados Unidos está desenvolvendo diversos modelos de
robôs de combate. De acordo com um memorando interno do exército,
"máquinas armadas estão encontrando lugar no campo de batalha moderno e
serão presença generalizada nos campos de batalha futuros". O orçamento
do Pentágono já inclui até US$ 200 bilhões para o desenvolvimento de um
programa de modernização conhecido como "Sistema de Combate Futuro", sob
o qual robôs substituirão um terço dos veículos blindados e das armas do
exército norte-americano até 2015.
As formas automatizadas de guerra também estão exercendo influência
em Israel, cujas forças armadas empregam robôs na fronteira de 60
quilômetros de extensão entre o país e a Faixa de Gaza. O sistema
See-Shoot desenvolvido pela Rafael, uma fábrica de armas israelense,
é estacionário e envolve metralhadoras e câmeras, com alcance de até 1,5
mil metros.
Do ponto de vista militar, existem muitos motivos para promover o uso
crescente dos soldados de aço. Para começar, eles não sentem medo ou
fadiga. Os robôs matam sem hesitar e, diferentemente dos soldados
humanos, sua perda é apenas financeira. Um novo Swords custa
cerca de US$ 150 mil. Além disso, os políticos e os generais não
precisariam mais se preocupar com protestos públicos em caso de baixas
excessivas. Quem lamentará um soldado metálico destruído?
No entanto, o controle desses soldados mecânicos cabe estritamente a
operadores humanos. Vai demorar algum tempo para que os matadores de
forma humanóide retratados em filme como Robocop e O
Exterminador do Futuro estejam disponíveis para atacar seres
humanos. "Mas não existem barreiras científicas ao desenvolvimento de
robôs de combate autônomos", diz Ronald Arkin, do Instituto de
Tecnologia da Geórgia, em Atlanta. "As partes desse todo estão sendo
desenvolvidas nesse exato momento".
Em seu escritório no instituto, Arkin, um homem grisalho e de
aparência simpática, investiga maneiras de impedir que os cenários
sombrios propostos nos filmes de ficção científica se tornem realidade.
No momento, ele vem realizando uma pesquisa via Internet para determinar
como oficiais das forças armadas, políticos, pesquisadores de robótica e
pessoas comuns se sentem sobre máquinas autônomas dotadas da capacidade
de matar.
Quais seriam as regras éticas que elas seguiriam quando enviadas à
guerra, por exemplo? Para ajudar a enfrentar essa questão, Arkin está
desenvolvendo um software que poderia ser usado para programar essas
regras na memória das máquinas, de forma a dotar os soldados de aço de
uma forma de "consciência".
Der Spiegel |