SÃO PAULO - O uso intenso de PCs piora o
desempenho escolar, sugerem dados de uma
pesquisa da Unicamp.
"O resultado mais importante...
surgiu quando os estudantes disseram
sempre usar o computador. Entre esses,
não importou a classe social ou
disciplina, o desempenho foi sempre pior
do que entre os que nunca usaram", disse
Jacques Wainer, do Instituto de
Computação da Unicamp, à Agência Fapesp
(http://www.agencia.fapesp.br), que
divulgou o estudo.
Entre os alunos da 8a série, o quadro
foi semelhante. Wainer e Tom Dwyer, do
Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas, coordenaram a pesquisa.
Os resultados mostraram, por exemplo,
que na 4a série os estudantes de classe
alta que raramente usaram o computador
para as tarefas tiveram, em média, 15
pontos a menos do que os que nunca o
fizeram, tanto em português quanto em
matemática.
Já entre os alunos mais pobres que
usaram computador, mesmo que raramente,
houve uma piora mais acentuada nas notas
em relação aos estudantes que nunca
usaram PCs. Esse grupo apresentou uma
diferença média de 25 pontos em
português e 15 pontos em matemática.
A pesquisa utilizou dados do Sistema
de Avaliação da Educação Básica (Saeb),
exame aplicado em todos os Estados a
alunos de 4a e 8a séries do ensino
fundamental e da 3a série do ensino
médio.
OTIMISMO NO PLANALTO
O governo federal tem promovido
esforços para melhorar a inclusão
digital e tenta por uma segunda vez
realizar uma licitação para compra de
150 mil notebooks educacionais de baixo
custo para distribuição entre alunos do
ensino fundamental de 300 escolas do
país. A primeira tentativa não atendeu
às exigências de preço do governo.
O assessor da Presidência da
República José Luiz Aquino, que trabalha
no projeto Um Computador por Aluno
(UCA), afirmou em entrevista por
telefone que há diferenças entre o uso
de computadores em laboratórios de
informática, em que as máquinas são
compartilhadas por vários alunos, e o
projeto do governo em que os estudantes
poderiam levar para casa os equipamentos
no futuro.
"Queremos testar nas 300 escolas
ainda este ano para sabermos os
resultados (no desempenho dos alunos),
mas piora eu tenho certeza que não vai
acontecer. Nosso modelo é diferente",
disse Aquino, que preferiu não comentar
imediatamente os resultados da pesquisa.
A Secretaria de Educação à Distância do
Ministério da Educação também não quis
comentar o estudo, informando que ainda
não tivera tempo suficiente para
examiná-lo.
Apesar de o trabalho detectar uma
relação entre o uso do computador e
piora nas notas, os autores não
conseguem identificar, sem mais
levantamentos, os motivos para o quadro
nem porque o efeito da inclusão digital
entre alunos mais pobres ser mais grave.
"Nossos resultados devem inspirar
profundas interrogações entre todos
aqueles que apóiam o uso de computadores
no sistema escolar e nos lares e
telecentros da nação, em nome da luta
contra uma suposta ´desigualdade
digital"´, afirma a pesquisa "Desvendendo
Mitos: Os Computadores e o Desempenho no
Sistema Escolar", disponível em http://www.scielo.br.
"Como o computador é bom para nós,
professores, por exemplo, tendemos a
achar que ele é útil para todos. Mas ele
não é uma solução mágica para a
educação", disse Wainer à agência.