Japão: curso ensina
maridos a dizerem "eu te
amo"
Uma
associação criada por
japoneses ensina os maridos
a dizer "eu te amo" para
suas mulheres, além de
estabelecer regras para
demonstrar a devoção às
parceiras em público e em
casa.
A Nihon Aisaika Kyokai
(Associação dos Maridos
Devotados do Japão) foi
formada em 2004 e conta como
membros 150 homens de
meia-idade.
O órgão promove eventos
em que os maridos expressam
sua devoção em público, num
movimento que a entidade
define como capaz de
"colaborar para a paz
mundial", além de ajudar a
"conservar o meio ambiente".
Eventos deste tipo vêm
sendo realizados há três
anos no Parque Hibiya, um
dos maiores de Tóquio, e
numa plantação de repolhos
da localidade de Tsumagoi,
distante quase 150 km da
capital japonesa, onde se
situa a sede da entidade.
"Na época dos samurais, o
homem que mais tinha sucesso
com as mulheres era o que
não dizia eu tem amo", conta
o fundador da associação,
Kiyotaka Yamana. "O japonês
acha que há mais valor em
não dizer 'eu te amo' do que
em expressar este
sentimento. Só que, na
prática, isso não funciona.
Regras
Uma das principais
iniciativas da associação é
chamada slow life (vida
lenta, em tradução livre),
que estabelece cinco regras
que o marido pode facilmente
seguir em casa.
Contentar a esposa
assumindo para si pelo menos
uma das tarefas de casa,
expressar gratidão, ouvir as
novidades que a esposa tem
para contar em seu
dia-a-dia, livrar-se do
sentimento de vaidade
masculina e de excessiva
preocupação com as
aparências e olhar
diretamente nos olhos da
esposa ao falar com ela são
as regras estabelecidas pela
Nihon.
Além disso, o grupo
designou a data de 31 de
janeiro como o "Dia da
Esposa Amada", quando o
marido deve "mostrar na
prática seu amor voltando
para casa às 20h, jantando
com a família e dizendo à
mulher o quanto ele gosta
dela por tudo que ela faz
para ele próprio e para a
família".
O fundador, Kiyotaka
Yamana, 46 anos, que fez
carreira no setor de
publicidade e hoje trabalha
com promoções de eventos,
conta que era "viciado em
trabalho" e dava pouca
atenção à vida familiar.
Yamana lembra que um dia
sua mulher o confrontou,
dizendo que ele não se
importava com ela e que os
dois nunca conversavam.
Pouco depois o casal se
divorciou e encerrou um
matrimônio de oito anos.
Há quatro anos, o
ex-publicitário se casou
novamente, determinado a
mudar de atitude.
Ele declarou que o homem
japonês normalmente não diz
"eu te amo" para a mulher na
esperança de que, mesmo sem
ouvir estas palavras, ela
venha a perceber o que ele
sente.
Segundo o criador do
movimento, a cultura
japonesa atual não oferece
mais os elementos favoráveis
à silenciosa atitude
tradicional e, nas grandes
cidades, o tempo que o
marido pode ficar em casa é
muito curto.
"Antigamente a família
fazia as refeições reunida e
havia mais diálogo. Hoje,
com cada vez menos tempo, o
uso de palavras é mais
necessário. Muitos maridos
não querem voltar para casa
e terminam o dia no bar,
bebendo e conversando com os
colegas. Em alguns casos nem
as mulheres desejam seu
retorno", explica Yamana.
"É que o homem japonês
precisa estar ligado a uma
organização, mas muitos não
gostam nem da empresa nem do
ambiente no lar. Então
acabam se refugiando com um
grupo de colegas no bar",
conta.
Divórcio
Dados do Ministério da Saúde
do Japão mostram que o
índice de divórcios no país
aumentou 26,5% em 10 anos.
O número de divórcios
entre pessoas casadas por 20
anos ou mais chegou a 42 mil
em 2004, o dobro do
registrado em 1985.
Já o número de divórcios
entre pessoas casadas por
mais de 30 anos quadruplicou
no mesmo período. Com a
chegada da idade de
aposentadoria da geração dos
baby boomers, um número
recorde de japoneses está se
aposentando agora no Japão.