|
Internautas votam para eleger corte de cabelo
Em agosto do ano passado, quando
Sarah James, da Califórnia, estava indecisa sobre usar ou não franjas, submeteu
a questão ao mundo em seu blog de beleza, o whoorl.com.
A democracia, afinal, pôs fim ao caos e ao sofrimento em muitos países; talvez
também pudesse pôr fim ao tormento dos maus penteados, imaginou.
"Não achei que alguém fosse prestar atenção", conta Sarah, 33, que é dona de
casa. Mas no dia seguinte, quando verificou o site, mais de 700 pessoas haviam
votado em sua pesquisa. Delas, 70% favoreciam a franja. Ela adotou o penteado.
Sarah ficou feliz, assim como 492 de seus leitores.
Em setembro, todo esse amor serviu para dar origem à seção Hair Thursday, que
ela publica a cada quinta-feira em seu blog. As pessoas submetem fotos e Sarah -
que tem bom olho para penteados, apesar de não ser cabeleireira treinada -
sugere dois estilos de corte ou penteado. Os leitores do blog votam e selecionam
o preferido. A seção já mostrou 50 pessoas, e há outras 150 na lista de espera.
"Jamais imaginei que cabelos fascinassem as pessoas a esse ponto", diz Sarah.
Um número cada vez maior de usuários da Internet está recorrendo a pesquisas
online a fim de decidir sobre cortes ou estilo de cabelo, barba feita ou por
fazer. Sites abrigam centenas de fotos e vídeos de pessoas que pedem aos
comentaristas que digam o que deveriam fazer quanto a seus penteados.
Os blogueiros em geral optam por inserir no post o link de um serviço de
pesquisa, de modo que os leitores precisam apenas clicar em um botão para votar.
Uma busca no site de um serviço de blogs resulta em mais de quatro mil posts com
a pergunta "devo cortar meu cabelo?"
O site de Sarah é um dos poucos lugares em que esse tipo de consulta ganhou um
teor mais formal. Em junho, ela planeja criar um segundo site, no qual os
leitores poderão votar sobre maquiagem e roupas, além de cabelo.
No humanhairstyler.com, um site criado dois anos atrás, as pessoas podem
realizar cortes e penteados virtuais, apresentados em formato tridimensional e
depois submetidos à votação dos usuários. As imagens são criadas por Ofer Hod,
um designer multimídia de Israel. Os dois sites que ele opera, o humanhairstyler
e o baldlygo.com, onde as pessoas podem experimentar que cara teriam se fossem
carecas, receberam mais de 1,6 mil fotos até hoje. Quando Hod começou a oferecer
seu serviço de retoque capilar no baldlygo.com, em 2005, o número de visitantes
aumentou seis vezes.
Os dias em que a empresa de cosméticos Clairol perguntava em seus anúncios se
"ela pinta ou não" são coisa do passado. Em lugar disso, a questão atual é "devo
ou não devo?" As cirurgias cosméticas, no passado discutidas apenas em
murmúrios, agora são tema de conversas de jantar e programas de TV, enquanto a
escolha de penteados dos riscos e famosos cria temas incessantes para revistas e
sites.
Os dias em que o ideal era fazer com que a beleza parecesse natural também se
foram. Em lugar disso, todo mundo deseja a confirmação dos números, como se
fossem todos cantores disputando o amor de uma coleção virtual de jurados de
programa de calouros. E, ao que parece, a aprovação coletiva importa mais que a
escolha pessoal, ou os conselhos dos amigos. Sua amiga pode determinar que
brinco fica melhor com a sua roupa, mas decisões mais duradouras requerem a
segurança dos números - mesmo que isso seja o equivalente virtual de perguntar a
todos os demais passageiros que esperam o trem se você deveria ou não usar
costeletas.
Para Rand Fishkin, 28, usar as opiniões de terceiros para definir sua aparência
parecia ser uma extensão natural da prática conhecida como "crowd sourcing", sob
a qual empresas ou sites permitem que usuários criem e administrem conteúdo. Em
setembro de 2007, Fishkin, então presidente-executivo da SEOmoz, uma empresa que
faz trabalhos de otimização para serviços de busca, postou seis fotos pessoais
em seu blog, seomoz.org/blog, e pediu que os leitores escolhessem a favorita.
Mais de 400 usuários anônimos o ajudaram a escolher entre cavanhaque, barba
cheia ou rosto liso. No mês seguinte, quando ele chegou a Estocolmo para uma
conferência ostentando uma cuidadosa barba por fazer, gente que ele nem conhecia
o abordava para dizer que tinha feito a escolha certa. "Para um leitor, é
interessante ter uma conexão mais pessoal com alguém do que a simples conexão
propiciada pelo conteúdo de um blog", ele disse.
Heather Sanders, web designer e blogueira de Huntsville, Texas, começou a
consultar seus leitores no ano passado para decidir se deveria abandonar seu
corte de cabelo curto e espetado em troca de madeixas longas.
"Para mim é difícil", ela escreveu em seu blog, ohmystinkinheck.com, na
primavera do ano passado. "Tenho desejos secretos de escovar longas madeixas e
de fazer tranças em meus cabelos, mas nunca cedi a essas tentações na prática".
De lá para cá, Heather, 35, consulta os leitores sobre o estado de seus cabelos
cada vez mais longos, a intervalos de alguns meses. Em julho, ela estava tão
cansada do cabelão que só uma das sete escolhas que propunha envolviam deixar o
cabelo crescer ainda mais. No entanto, foi essa a opção mais votada, de modo que
ela perseverou.
Barry Schwartz, professor de psicologia na Universidade Swarthmore, disse que
transferir decisões a terceiros pode ser uma maneira inteligente de se sentir
bem sobre uma decisão ainda que você não aprecie os resultados dela.
"Deixar que outras pessoas escolham permite que você não fique obcecado com a
possibilidade de que tenha feito a escolha errada", ele disse. "Você talvez
continue a não apreciar o resultado, mas ficará apenas insatisfeito, e não
furioso consigo mesmo por não ter escolhido outra coisa".
The New York Times
|