SÃO PAULO - Terminais de
autoatendimento deixam de ser
exclusividade dos bancos e se
espalham para os mais diversos tipos
de negócio.
As lojas da rede varejista Fresh
and Easy, nos Estados Unidos, são
como qualquer outro supermercado:
produtos expostos em prateleiras,
carrinhos e promoções. Mas, na
saída, há um detalhe bastante
diferente: não existem funcionários
registrando as compras nos caixas.
Os próprios clientes passam os
produtos por leitores de códigos de
barras e pagam as compras com
cartões de débito ou crédito.
Fundada no ano passado e hoje com 62
lojas, a rede — braço da britânica
Tesco — adota uma modalidade extrema
do auto-serviço. A experiência da
Fresh and Easy ilustra uma tendência
global de substituição de atendentes
humanos por máquinas. Os motivos são
os mesmos que levaram os bancos,
pioneiros no sistema de self-service,
a adotar os caixas eletrônicos:
redução de gastos operacionais e de
tempo de atendimento. Estima-se que
as companhias aéreas que adotam o
sistema de check-in automatizado
consigam cortar os custos de cada
operação em 95%. Cada passageiro
atendido no balcão por um
funcionário custa 3 dólares. No caso
dos terminais de auto-atendimento,
esse valor cai para apenas 14
centavos de dólar. Com o avanço da
tecnologia e diante de números como
esse, fica fácil entender por que
empresas de varejo e serviços estão
entusiasmadas com o sistema
self-service.
Mas a economia não é a única
explicação para essa nova onda de
automatização. Na era da web, os
consumidores já estão habituados a
fazer tudo sozinhos, seja para
comprar um livro numa loja online,
seja para dar entrada no relatório
de despesas de viagem no sistema da
empresa. O instituto de pesquisas
Gartner considera irreversível a
tendência do self-service no mundo
real: nos próximos dois anos, seis
em cada dez interações com clientes
serão automatizadas, e isso vale
para o mundo todo. “O brasileiro tem
características distintas do francês
ou do alemão. Mas as semelhanças são
muito maiores do que as diferenças”,
diz Marcelo Angeletti, professor de
pós-graduação da Escola Superior de
Propaganda e Marketing (ESPM).
“Todos eles querem agilidade e
comodidade ao consumir.” Uma
pesquisa interna da Tesco confirma:
90% dos consumidores se mostraram
satisfeitos em registrar as compras
por conta própria.
A adesão crescente do
auto-serviço por diversos segmentos
tem esquentado também o mercado de
tecnologia. A americana NCR, empresa
centenária que é conhecida por
fabricar equipamentos para o setor
financeiro, atravessa uma guinada
estratégica. “Queremos atender não
só bancos, mas também varejo, saúde,
viagens e governo”, disse a EXAME
Bill Nutti, CEO da NCR. “Nossos
equipamentos serão cada vez mais
operados pelos próprios
consumidores, e essa é uma
oportunidade mundial.” A empresa
está de olho em um mercado que
movimenta 20 bilhões de dólares por
ano. Nos Estados Unidos, mais de 100
hospitais hoje utilizam terminais
para fazer a triagem dos pacientes,
agendar as próximas consultas e
exibir as despesas hospitalares. Um
deles é o Heritage Valley Health
System, da Pensilvânia, que investiu
750 000 dólares nos quiosques e
obteve como principal resultado a
redução no tempo da triagem, de 10
para 2 minutos. A rede Hertz, de
aluguel de veículos, também começou
a testar o auto-atendimento em
setembro do ano passado, de olho em
corte de custos. O usuário pode
fazer a reserva do carro via
internet, procurar uma das máquinas
de auto-atendimento nos aeroportos,
escanear sua carteira de motorista e
seguir para o carro. O projeto
começou em Orlando, em 2007. Já é
usado em 28 aeroportos nos Estados
Unidos e mais dois na Espanha.
Além da comodidade para o
usuário, o sistema self-service
permite que a empresa destine os
funcionários para atividades mais
nobres. “Os profissionais deixam as
funções transacionais e passam a
prestar atendimento personalizado”,
diz Matt Adams, vice-presidente do
Grand Hyatt Nova York, um dos mais
de 100 hotéis da rede que adotam
quiosques de auto-serviço. A unidade
de Nova York recebe de 500 a 700
novos clientes por dia, dos quais
25% já preferem check-in ou
check-out eletrônico. Enquanto os
hóspedes não tiverem de arrumar as
próprias camas ou limpar os quartos,
a tendência do auto-atendimento
ainda tem muito a crescer.