Especialistas prevêem que em breve o Brasil vai enfrentar um
"tsunami" de lixo eletrônico, formado por restos de computadores,
impressoras, televisores, aparelhos de som, celulares, impressoras,
entre outros. O País desconhece quanto desse tipo de resíduo, altamente
poluente, é produzido por ano e aonde vai parar. Sem leis, boa parte é
depositada em lixões, com risco de contaminação do solo e das águas,
potencializando problemas de saúde pública. "Lamentavelmente, há 17 anos
o Congresso aprecia o projeto de lei n.º 203/91, que trata do assunto,
sem uma solução", diz Sílvia Martarello Astolpho, coordenadora do
Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da Associação Brasileira de
Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
Trabalho desenvolvido pelo setor de Toxicologia Humana e Saúde
Ambiental da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) da
Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo informa a existência
de alguns componentes presentes em computadores que, ao serem
descartados de forma inadequada, podem provocar problemas como câncer,
são eles: chumbo, níquel, berílio, cobalto, cromo, cádmio, selênio,
arsênio. A situação fica mais complicada quando se considera que 37% dos
computadores negociados no mercado são provenientes do chamado mercado
cinza (contrabando). Há dois anos, o porcentual estimado era de 76%.
Segundo especialistas, o potencial poluidor desses aparelhos é maior do
que o do de empresas conhecidas.
Problema de curto prazo - Mesmo sem saber o volume de lixo
eletrônico produzido e sua destinação, é possível imaginar o tamanho do
problema que País enfrentará no curto prazo pelos números do consumo. De
acordo com a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee),
somente neste ano, devem ser comercializados no mercado interno 12
milhões de computadores, ante 10 milhões em 2007 (o tempo para
obsolecência de um computador é calculado em até 4 anos), 48 milhões de
celulares, ante 45 milhões em 2007 (calcula-se que o mercado já tenha
140 milhões de aparelhos em operação). A Associação Nacional dos
Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) informa que devem
ser vendidos entre 9 e 10 milhões de televisores, ante 10 milhões em
2007. O avanço na produção de bens como liquidificadores e batedeiras
deve chegar a 7%. O que poderia ser oportunidade de negócio acaba se
tornando um problema, cuja solução certamente vai passar pelo bolso da
população brasileira.
Ausência de leis - "Legisladores, Estados, União e municípios
têm desprezado o problema. O Brasil carece de leis que definam
responsabilidades, coleta e reciclagem de produtos descartados.
Lamentavelmente, há 17 anos o Congresso brasileiro aprecia o projeto de
lei n.º 203/91, que trata do assunto, sem uma solução", diz Sílvia
Martarello Astolpho, coordenadora do Departamento de Pesquisa e
Desenvolvimento da Associação Brasileira de Limpeza Pública e Resíduos
Especiais (Abrelpe).
Sílvia explica que o País tem apenas um balisador que trata da
questão do lixo eletrônico que é do século passado, de 1999. "Trata-se
de legislação que limita o uso de substâncias tóxicas em pilhas e
baterias. Seu objetivo era o de limitar o uso desses materiais e remeter
aos produtores a responsabilidade do descarte. Enquanto a União Européia
definiu normas claras sobre o chamado lixo eletrônico, nós paramos no
tempo."
Primeiro mundo - No caso da Europa, por exemplo, diretriz do
IEEE (sigla em inglês, Instituto dos Engenheiros Elétricos e
Eletrônicos) estabelece critérios para desempenho ambiental de PCs,
notebooks e monitores e estipula a redução ou eliminação de materiais
prejudiciais ao meio ambiente como cádmio, mercúrio, chumbo, cromo
hexavalente; seleção de materiais, projeção do fim da vida útil, com o
mínimo de 65% de material reciclável; aumento da longevidade do produto,
previsão e possibilidade de atualização (upgrade); conservação de
energia, gerenciamento do final da vida, com retorno ao fabricante;
auditoria dos parceiros de reciclagem; reciclagem de baterias;
existência de política corporativa ambiental consistente com a ISO 14001
e embalagem 90% reciclável ou reutilizável.
No Brasil, a situação é classificada como caótica. "Mesmo nos casos
em que se estabeleceu necessidade de coleta (pilhas e baterias de
celular, por exemplo), não há fiscalização", lamenta a coordenadora da
Abrelpe. No caso do celular, o aparelho deve ser levado à loja e ela
encaminhará ao fabricante para descarte. As dificuldades de mobilizar o
consumidor para mudar a situação atual está no que os especialistas
chamam de a mágica do lixo. O consumidor põe o lixo na porta da
residência e ele desaparece. "Aquilo não tem mais a ver com ele."
De acordo com a representante da Abrelpe, como não há lei, o Brasil
não desenvolve a infra-estrutura necessária para atender à demanda,
impulsionada pela renovação tecnológica, crédito e aceleração do
consumo, com a entrada no mercado das classes menos favorecidas. O
aumento na produção do lixo eletrônico agrava ainda mais os problemas
nas grandes cidades, uma vez que já não existem áreas próximas dos
centros urbanos que possam ser usadas para descarte. "Em São Paulo
somente 40% do lixo, aí incluso o eletrônico, é enviado para aterros
sanitários. Os 60% restantes são enviados para os chamados aterros
controlados", diz Sílvia.
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