Dave Hermansen
não tinha passarinho nem gaiola quando comprou o
site bird-cage.com, uma loja online de gaiolas, por US$ 1,8 mil
(equivalente hoje a R$ 2,8 mil), três anos atrás. O que ele viu foi um
site "muito, muito mal feito", e implorou aos proprietários para
comprá-lo. Depois, reformou o site, começou a veicular
publicidade e atraiu muito mais tráfego. Em dezembro do ano passado,
Hermansen, 30, vendeu o site por US$ 173 mil (cerca de R$ 270 mil).
Ele é parte da mais recente onda de empreendedores, a qual, como os
amadores que começaram a investir em bolsa e em imóveis em ondas
precedentes, deseja ganhar o máximo possível de dinheiro sem grande
esforço.
Eles usam pouco mais do que seus computadores caseiros e programas
gratuitos para adquirir sites dirigidos a nichos pequenos e específicos,
que depois reformam na esperança de revender por preço muito mais alto
do que o pago inicialmente.
Mas embora seus sonhos sejam alimentados por algumas histórias de
sucesso considerável - como a aquisição da Wired News pela
editora Condé Nast, em uma transação de US$ 25 milhões, a compra do
blog Celebrity Baby pela People.com ou, mais recentemente, o
acordo entre a Guardian News and Media e a PaidContent, supostamente
adquirida por US$ 30 milhões -, as ambições desse proprietários quanto
aos seus projetos são menores. Eles muitas vezes fecham vendas por
valores de centenas ou poucos milhares de dólares.
"Todo mundo que tem sites está dizendo que, se alguém fizer uma boa
oferta, eles venderiam", diz Gene Alvarez, vice-presidente de pesquisa
da Gartner, uma consultoria de tecnologia. "É o modelo lanchonete: você
constrói uma freguesia, uma comunidade, e tenta vender enquanto a coisa
anda bem".
Alguns sites começam como projetos de estimação. O Celebrity Baby
Blog, conta Danielle Friedland, foi criado por ela depois que
trabalhou na transmissão do Globo de Ouro de 2004 e sua função parecia
ser a de informar que estrela estava grávida, de gêmeos, e que estrela
havia tido bebês recentemente. Quatro anos mais tarde, o blog foi
adquirido pela People.com para atender a um nicho que não estava sendo
visado: o da "comunidade das mães jovens e apaixonadas por bebês", diz
Fran Hauser.
Hauser, presidente da People Digital, não confirma o preço de venda
do blog, mas pessoas do setor especulam que tenha sido de alguns milhões
de dólares.
As pessoas que reformam sites têm objetivos mais modestos. Elas
percorrem a
Internet em busca de sites que, na descrição de Mike Lyon, do banco
de investimento Arbor Advisors, representem "propriedades subvalorizadas"
-prejudicados por
design ruim, e com pouca visibilidade na rede.
Embora não existam dados sobre o número de pessoas que trabalham
reformando sites para venda, o número de sites vendido no eBay dobrou
nos três últimos meses, segundo o site de leilões. No mercado SitePoint,
um fórum semelhante no qual usuários podem leiloar sites, as vendas
quadruplicaram nos últimos 12 meses, disse Matt Mickiewicz, fundador do
serviço.
As mudanças na economia da web tornaram mais fácil identificar e
explorar nichos. O boom da Internet dos anos 90 gerou empresas
como a Pet.com, que eram como versões online de cadeias físicas de
varejo. Isso requer estoques de produtos e seu envio aos consumidores.
Mas esse modelo desabou com o colapso do mercado da web em 2000.
De lá para cá, construir sites que atendam a nichos se provou simples
e barato. Software gratuito, sistemas de publicidade como o do Google e
sistemas de remessa que permitem a fornecedores de produtos da web
trabalhar com prestadores externos de serviços de transporte reduziram o
custo dos negócios.
Em lugar de vender bens e serviços, dizem os analistas, a maior parte
das pessoas que reforma sites procura a maneira mais fácil de ganhar
dinheiro rapidamente, recorrendo à publicidade especializada.
Philip Kaplan, que capturou a atenção do mercado com um site cuja
diversão era celebrar o estouro da bolha da Internet, agora ajuda sites
a conseguir publicidade online, por intermédio de sua empresa, a AdBrite.
Ele declarou em entrevista que tem encorajado os donos de sites a "criar
nichos de foco estreito".
"Todos os nossos anunciantes estão dizendo que procuram tal ou qual
nicho. Jamais dizem que desejam anunciar em um site sobre nada", ele
afirma.
Hermansen, da bird-cage.com, diz que está sempre procurando por áreas
da Internet que apresentem volume elevado de buscas e baixa
concorrência. "Quando descobri o nicho dos passarinhos, sabia que era o
lugar que eu procurava", afirmou.
Antes de um site sobre gaiolas, Hermansen foi dono e operador de
sites que atendiam a nichos como o paintball, brinquedos de controle
remoto e motonetas elétricas. Em 2005, ele deixou seu emprego como
desenhista para se dedicar em tempo integral à reforma e venda de sites.
No ano passado, Hernansen diz que enfim decidiu realizar algo que
desejava há muitos anos: comprou um papagaio, Sunny. No começo deste
mês, ele e seu irmão Mike alugaram um armazém no qual começaram a
produzir e vender uma linha própria de gaiolas para pássaros.
Agora, Sunny vive em uma das gaiolas no armazém que os Hermansen
alugaram, e serve como mascote à mais recente empreitada dos irmãos na
web, o site innovativecages.com. Hermansen diz que encontrou ainda outro
vazio a preencher no mercado dos nichos especializados de Internet: o de
"gaiolas de pássaro de alta qualidade e preço elevado".
"Evidentemente", ele acrescentou, "o objetivo final da manobra é
vender o site por um bom dinheiro".
Tradução: Paulo Migliacci ME