Brad Stone
O iPod ajudou a conter os prejuízos do
setor de música. O Kindle deu motivos para
otimismo às editoras de livros em crise.
Agora, o setor de jornais e revistas,
devastado pela recessão, está procurando
pelo seu salvador, na forma de aparelhos de
leitura
eletrônicos dotados de telas grandes.
Diferentes dos celulares de
tela pequena e de aparelhos como o
Kindle, criados para exibir textos de
livros, os novos dispositivos, com telas do
tamanho de uma folha de papel comum,
poderiam apresentar boa parte do conteúdo
editorial e publicitário dos periódicos
tradicionais no mesmo formato em que estes
aparecem no papel. E isso poderia ser uma
maneira de convencer os
leitores a pagar por esses periódicos -
algo que relutam em fazer por suas versões
na web.
Essa forma de leitura eletrônica deve
chegar ao mercado no ano que vem oferecida
por diversas empresas, entre as quais a News
Corp., a editora de revistas Hearst e
a Plastic Logic, uma empresa
iniciante mas bem financiada que espera
começar a produzir jornais eletrônicos antes
do final do ano, em uma fábrica em Dresden,
na Alemanha.
Mas é a Amazon.com, fabricante do Kindle,
que parece liderar o esforço de resgate
eletrônico das empresas de mídia
tradicional. A Amazon.com planeja ainda esta
semana, dizem pessoas familiarizadas com os
planos da gigante do varejo online,
introduzir uma versão maior de seu leitor
eletrônico sem fio Kindle, adaptada para
leitura de jornais, revistas e talvez livros
escolares.
Um porta-voz da Amazon.com não quis
comentar, mas algumas organizações
noticiosas, entre as quais o New York
Times, devem estar envolvidas na
produção do aparelho, de acordo com pessoas
conhecedoras dos planos. Uma porta-voz do
jornal, Caroline Mathis, disse que não
comentaria sobre o relacionamento entre sua
empresa e a Amazon.com.
Os aparelhos da Amazon.com e de outros
fabricantes oferecem uma proposição quase
irresistível ao setor de jornais e revistas.
Permitiriam que as editoras economizassem
milhões em custo de impressão e distribuição
de suas publicações, exatamente no negócio
em que seus negócios estão sofrendo pressão
muito intensa.
"Estamos contemplando essa perspectiva
com grande interesse", disse John Ridding,
presidente-executivo do Financial Times,
jornal inglês criado 121 anos atrás e
conhecido por ser publicado em papel de cor
rosada. "O duplo problema da recessão e da
transição para a internet gerou uma urgência
que nos levou, com toda razão, a concentrar
as atenções nesses aparelhos."
Talvez o mais interessante sobre essa
nova modalidade de aparelho é a oportunidade
que oferecem às companhias jornalísticas de
repensar suas estratégias em um mundo
digital que evolui rapidamente. A decisão
dos jornais e revistas de oferecer seu
conteúdo gratuitamente na web é agora vista
por muitos observadores como um erro
crucial, que encorajou leitores a deixar de
pagar pelas versões em papel. E as
companhias jornalísticas descobriram que não
estavam preparadas para enfrentar o rápido
declínio em sua receita de publicidade com
as publicações em papel, nos últimos meses.
É possível que o setor utilize os novos
leitores portáteis como forma de retornar à
estaca zero e de alguma maneira retomar o
seu modelo de negócios original: vender
assinaturas e ampliar sua receita por meio
de publicidade veiculada em companhia dos
artigos.
A versão atual do Kindle provou que isso
é possível, ainda que de forma limitada.
Mesmo que sua tela em branco e preto de seis
polegadas tenha sido criada basicamente para
a leitura de livros, a Amazon.com oferece
aos proprietários do aparelho assinaturas de
mais de 58 jornais e revistas, entre os
quais o New York Times, Newsweek
e Wall Street Journal.
Os assinantes recebem atualizações uma
vez por dia, por meio de uma rede de
telefonia móvel. A Amazon.com e os grupos
jornalísticos envolvidos se declaram
satisfeitos com os resultados, embora não
tenham divulgado números sobre as vendas de
assinaturas.
Apesar das esperanças que os grupos
jornalísticos depositem nos aparelhos
eletrônicos de leitura, terão de enfrentar
algumas deficiências já desde o começo. A
maioria deles usa tecnologia da E Ink, uma
empresa de Cambridge, em Massachusetts,
fundada em 1997 para desenvolver tecnologias
criadas pelo Laboratório de Mídia do
Instituto de Tecnologia de Massachusetts
(MIT), cujo objetivo era produzir telas de
baixa espessura capazes de reproduzir a
legibilidade do papel comum, com o uso do
mais baixo volume de energia possível.
As telas que equipam o Kindle e o Sony
Reader não permitem imagens coloridas ou
vídeos, e atualizam imagens em ritmo mais
lento que as telas tradicionais de
computador. Isso faz com que os
profissionais do segmento de revistas,
especialmente, reservem suas esperanças até
que a tecnologia da E Ink apresente maiores
avanços.
Outro obstáculo é que alguns fabricantes
dos aparelhos de leitura eletrônica, como a
Amazon.com, desejam definir por sua conta os
preços de assinatura de publicações, e
controlar o relacionamento com o assinante -
algo a que grupo de mídia como a editora de
revistas Condé Nast objetam. Já
outros fabricantes de aparelhos, como a
Plastic Logic e a Hearst, afirmaram que
adotarão abordagem mais aberta e permitirão
que as companhias jornalísticas se
relacionem diretamente com os leitores e
definam os preços de assinatura para suas
publicações.
Tradução: Paulo Migliacci ME
The New York Times