A Microsoft oferece pela primeira vez uma versão online gratuita do Office, que permitirá que as pessoas armazenem documentos na web e não em seus computadores pessoais. Se tudo correr como a companhia planeja, essa tecnologia, bem como diversos outros recursos, convencerão empresas e usuários individuais a atualizar ainda uma vez seu software Office.
"É um momento notável", disse Stephen Elop, presidente da divisão de software empresarial da Microsoft, que apresentou o Office 2010 em um evento na quarta-feira em Nova York. Segundo ele, 8,6 milhões de pessoas já estão usando o Office 2010.
O pacote já está disponível para empresas. A Microsoft informou que o Office irá variar em preço de uma versão limitada e gratuita para uso online, bancada por publicidade, a uma versão dotada de plenos recursos que custará US$ 500, e que as duas estarão disponíveis para os consumidores individuais no mês que vem.
A maioria dos analistas acredita que a Microsoft conseguirá manter seu quase monopólio sobre o software de escritório. Richard Williams, analista sênior de software da Cross Research, disse que a maioria das empresas continuaria a optar pelo Office porque é seguro e conhecido.
"Não estamos em um ciclo no qual elas venham a desistir do Windows ou do Office", ele disse. "A maioria das pessoas que toma decisões e paga contas está na casa dos 40, e conhece a Microsoft desde sempre".
Mesmo assim, diversas empresas estão roubando pequenas porções de mercado da Microsoft, quer pela oferta de versões gratuitas do mesmo tipo de software, quer recomendando aos clientes da empresa que adquiram menos cópias do Office.
"Acredito que o Office tenha saído do alcance de seus usuários", disse David Girouard, presidente do grupo de software para empresas do Google. "Toda empresa deveria ter algumas cópias do pacote, mas o software nada tem a ver com o que a maioria dos funcionários precisa".
Os usuários da nova versão do Office podem compartilhar seu trabalho ou trabalhar em grupo em documentos e apresentações via internet, e não trocando arquivos por e-mail. A Microsoft criou uma maneira de transferir arquivos do computador para a versão online do Office, o que oferece ao usuário o melhor dos dois sistemas.
Se muitas dessas funções parecem familiares, é porque Google, Adobe e companhias menores, a exemplo da Zoho, já vêm oferecendo pacotes de aplicativos para uso na web que fazem a mesma coisa. Mas esses produtos rivais pouco influenciaram as vendas do Office - um software utilizado por 500 milhões de pessoas.
Ao longo dos três últimos anos, a participação da Microsoft no mercado de software para escritório se manteve estática em 94%, de acordo com o grupo de pesquisa Gartner. A Adobe vem em segundo no software para escritório, com quase 4% do mercado, o que deixa apenas migalhas para as oito demais companhias. O grupo de software para empresas da Microsoft faturou US$ 19 bilhões no ano passado.
A imensa dimensão desse império e a crescente complexidade do software tornaram o Office um alvo popular entre os concorrentes da Microsoft, ao longo dos anos. Rivais como IBM e Sun Microsystems, agora parte da Oracle, criaram um pacote grátis de software de escritório chamado OpenOffice, que realiza quase todas as tarefas que o Office executa. Cerca de 25 milhões de pessoas assinaram para o Google Apps. O pacote online de software do Google, que oferece funções semelhantes às do Office.
De acordo com analistas, a Microsoft não tem muito com que se preocupar. Beneficiou-se das conexões entre o Office e outros softwares de negócios em seu arsenal, e como resultado conseguiu atrair os usuários a grandes atualizações combinadas. Diversos analistas de Wall Street antecipam que essa estratégia uma vez mais beneficiará a companhia este ano.
Muitas empresas optaram por ignorar versões anteriores do sistema operacional Microsoft Windows e manter em funcionamento computadores com quatro e cinco anos de uso. Os analistas acreditam que elas devam enfim atualizar máquinas e software, especialmente depois das críticas favoráveis ao Windows 7, lançado no ano passado.
"Creio que esse ciclo de atualização ganhará força na metade do ano", disse Williams. "Vai ser uma tendência forte e importante". Jason Liebich considera que isso será uma oportunidade. Ele criou uma companhia chamada Exoprise Systems, que em breve começará a vender software que monitora computadores e determina que tipos de software os trabalhadores empregam, e como. O software orientará as empresas sobre como trocar o Microsoft Office por alternativas mais baratas disponíveis online.
"O Office é um excelente produto, mas muito complicado, e as pessoas realmente não utilizam todos os seus recursos", disse. Elop acredita que a Microsoft continuará a dominar no futuro, e não aceita a ideia do Google de que empresas venham a usar Office e Google Apps simultaneamente.
"Isso mostra claramente sua falta de maturidade e compreensão do mercado empresarial", afirmou. "As empresas não gostam de misturar suas tecnologias".
Tradução: Paulo Migliacci ME
New York Times