A Índia ameaçou a fabricante do BlackBerry, a canadense Research in Motion (RIM), afirmando que poderia bloquear os serviços do dispositivo caso, antes de 31 de agosto, não tivesse garantido acesso a e-mail e chat entre usuários, alegando motivos de segurança.
O Governo informou há três dias que o bloqueio foi adiado por dois meses depois que RIM fez "propostas" para facilitar o acesso de dados aos serviços de inteligência.
"As conversas ainda continuam, temos 60 dias para tentar encontrar uma solução para isto", disse nesta quarta-feira, em entrevista coletiva televisada, o secretário indiano de Interior, G.K. Pillai, que se negou a dar mais detalhes até que o caso seja encerrado.
Quase um milhão de residentes na Índia têm telefones BlackBerry, e o emergente mercado indiano representa um grande potencial para a RIM, o que reduz a margem de manobra para suas negociações com o Executivo, ao contrário do que acontece em outros países.
Os e-mails enviados pelos BlackBerry são codificados, e o Executivo insistiu, no início, em obter "a chave-mestra" para poder decodificar e ler as mensagens, algo que a companhia assegura que não pode fazer.
Agora o Governo parece querer atacar precisamente sobre este flanco: sua intenção é que os operadores tenham seus servidores na Índia para poder controlar a informação.
Alguns fabricantes de dispositivos móveis que oferecem serviço de e-mail já ficaram atentos, como a Nokia, que garantiu que em 5 de novembro terá servidores no país asiático para facilitar a supervisão da informação.
Pillai reiterou que todas as empresas que venham a oferecer "serviços de comunicação" na Índia deverão ter servidores no país e dar carta branca às agências de segurança.
"Isto foi deixado claro à BlackBerry e a outras companhias", afirmou o secretário de Interior, sem dar mais detalhes.
Fontes oficiais informaram à agência de notícias "Ians" que isto afeta provedores como Skype ou Gmail (do Google) e todos aqueles que oferecerem chamadas ou chats através da internet.
Uma fonte do Ministério do Interior consultada pela agência Efe insistiu que todas estas companhias deverão garantir acesso às agências de segurança.
"Todas. Está muito claro o que foi dito por Pillai, não há, portanto, nada mais a dizer", afirmou.
O Executivo se propõe assim a controlar as redes privadas virtuais e ter acesso às trocas de informações que ainda estão sendo feitas sem controle, já que chamadas de telefones fixos ou móveis em território indiano podem ser interceptadas.
Desde o atentado terrorista de Mumbai, em novembro de 2008, o Governo tomou várias medidas para tentar ter um maior controle sobre as comunicações.
A Polícia descobriu que os terroristas usaram telefones via satélite e outros sistemas de comunicação, e parte da imprensa afirmou os chefes do grupo terrorista usou aparelhos BlackBerry.
No conflituoso vale muçulmano da Caxemira, por exemplo, o Governo impôs "por motivos de segurança" em 2009 um bloqueio sobre os cartões de celulares pré-pagos, medida suspensa em janeiro deste ano.
Desde o ataque em Mumbai, que causou a morte de 166 pessoas, o Governo indiano, liderado pelo Partido do Congresso, restringiu também a entrada e estadia de turistas e trabalhadores estrangeiros na Índia, endurecendo sua política de vistos.
Agencia EFE