Rafael Maia Uma máquina que poderá redefinir a maneira como o usuário lida com a web daqui para frente. Pelo menos é como metade dos presidentes de companhias online, dos veteranos BlackBerry ao Yahoo!, definem o calouro do mundo virtual, o Facebook. O CEO da empresa, Mark Zuckerberg, bastante sutil, para não dizer humilde, encerrou a segunda noite do Web 2.0 Summit, em São Francisco, na Califórnia, na madrugada desta quarta-feira, horário de Brasília. E deixou uma certeza no ar: a web ainda é um território não explorado.
Um pouco espalhafatoso, bem à moda Zuckerberg, o garoto fundador da companhia online vista com mais bons olhos atualmente, o Facebook, foi logo bombardeado com uma série de perguntas que iam das novas pretensões da rede social às velhas questões de privacidade.
O assunto do momento é a nova função Facebook Messages, que, ao mesmo tempo que cria um e-mail para o membro da rede social, integra uma dezena de serviços dentro de uma única página. Se isso é uma ideia inovadora? Como lembra a presidente do Yahoo! Carol Bartz, a sua companhia nasceu, no meio dos anos 90, com esse objetivo. Mas, como a recente história do universo online, a empresa de Bartz foi pouco a pouco sendo "engolida" por outras iniciativas.
A questão é que o Facebook não brinca em serviço. Mesmo. A razão para que três de cada três companhias online levantem as orelhas quando o brinquedo de Zuckerberg anuncia um lançamento é porque sua empresa alia, hoje, dois pilares básicos para uma explosão de medo entre os concorrentes: uma enorme plataforma de usuários e personalidade. E, aqui, os louros vão todos para o empresário "celebridade" Mark Zuckerberg. "No Facebook, nós temos cinco frases que nos motivam diariamente e nos fazem lembrar da nossa missão. Duas delas são: corra e seja ousado", declarou.
A ousadia do americano vai além da frase de efeito. Ao explicar a intenção do novo e-mail, ele fala que a ideia surgiu ao conversar com as amigas e com os parentes de sua namorada, em um final de semana. De acordo com ele, quando ele perguntava sobre que e-mail usavam e o que achavam do serviço, as respostas variaram de "Gmail", a "Yahoo!", a "Hotmail". No entanto, todas elas eram seguidas pelo mesmo complemento: "eles são lentos".
Ele, então, decidiu criar uma ferramenta para correio online que não era bem assim um "e-mail" convencional. A intenção do CEO ao integrar este serviço ao Facebook era tornar o "e-mail" uma comunicação informal. Estranho, à primeira vista, mas faz sentido. "Facilita para muita gente enviar mensagens como 'oi, mãe, eu estou chegando em casa' sem ter que enfrentar toda a burocracia e lentidão de uma caixa convencional de e-mail para uma mensagem tão... informal", concluiu. Vindo de Zuckerberg, não se podia esperar nada menos do que isso.
É lógico, também, que, criada a nova função, um velho companheiro voltou para tirar o sono do fundador do Facebook: o problema da privacidade. Quem terá acesso aos e-mails? Só os amigos? Só os amigos dos amigos? Um usuário aleatório poderia ver o e-mail de outro e encher sua caixa de entrada com e-mails sem sentido? Mais uma vez ele joga, inteligentemente, a responsabilidade para o usuário. "Ser amigo significa compartilhar coisas, mas a informação é sua. A minha preocupação, que é a mesma dos usuários, é se as minhas informações estarão seguras", compartilhou.
Pode parecer vago, um pouco escorregadio, da parte de Zuckerberg. Mas a intenção, segundo ele mesmo, é dar mais poder ao usuário, aquele velho "user control" de que tanto se fala na internet, mas que muito pouco se é capaz de aplicar. É, no final das contas, o próprio usuário quem deve possuir a responsabilidade das informações que dizem respeito a ele e aos seus amigos. "São discussões como esta que mantêm a graça de fazer parte de uma rede social como o Facebook", brinca o CEO.
Para além das brincadeiras, o Facebook, como Zuckerberg planeja, é a plataforma online mais completa e mais bem executada no sentido de servir de base para uma série de outras iniciativas que possam se inspirar na experiência da rede social. Não são poucos os dados que contribuem para esta afirmação. Em pouco tempo de existência, segundo o CEO, o sistema de armazenamento de fotos da rede social já é o mais importante da internet de todo o planeta. Também há uma série de iniciativas, dentro do QG da empresa, no sentido de aplicativos que possam ser usados na educação de pessoas. Em outras palavras, ele quer tornar o "negócio" da educação social.
Zuckerberg parece claramente um peixe fora d'água. Da maneira desajeitada de se expressar ao modo tímido e megalomaníaco de responder as perguntas, tudo se torna mais palpável quando ele mostra a ideia que o norteia. "A internet é um campo aberto, muito pouco explorado. É preciso arriscar, o espaço aqui é livre. Não é necessário roubar o espaço de nenhum outra companhia", afirmou. Para ele, o Facebook precisa ser uma máquina infalível e impossível de parar. E, por enquanto, é exatamente isso que ele tem conseguido criar.
Redação Terra