Alex Kipman, o brasileiro que criou o
Kinect na Microsoft, conta na entrevista
a seguir como suas pesquisas vão
aposentar o mouse.
Qual é o
limite tecnológico do Kinect?
O Kinect é um conjunto de software e
hardware que funciona como pincéis e uma
palheta de tintas. Então, o limite é a
criatividade do desenvolvedor. A
indústria de games deve pegar esse
aparato e criar o que for possível, como
se estivesse fazendo trabalhos
artísticos. Dá para fazer coisas
inimagináveis com o Kinect.
O Kinect não identifica, por
exemplo, os dedos dos jogadores. Isso
não é um limite técnico?
O sistema já é capaz de rastrear os
dedos. Mas deixamos esse recurso
desativado. O motivo é simples: as
pessoas que jogam com o Kinect estão
sempre com as mãos fechadas. Basta
observar uma criança jogando para notar
que ela pula e se movimenta com as mãos
fechadas. Por isso, os jogos do Kinect,
por enquanto, não precisam identificar
dedos. No futuro, se aparecer um jogo em
que seja necessário usar os dedos,
poderemos fazer o hardware enxergar até
o dedão do pé com apenas uma atualização
no software de controle do Kinect.
A indústria de jogos está
pronta para o Kinect?
Quando apresentei o Kinect ao CEO da
Harmonix Music Systems, Alex Rigopulos,
ele disse: “O Kinect é a tecnologia que
eu esperei a vida inteira”. Sabe por
quê? Com o Kinect ele pode contar novos
tipos de histórias e ensinar os
jogadores a fazer outras coisas. O
pessoal da Harmonix criou o Dance
Central, onde o jogador usa o Kinect
para dançar. A indústria de jogos já
pegou a palheta de cores e os pincéis do
Kinect, e vai usá-los para criar jogos
com boas histórias e muita diversão.
Não vimos nenhum jogo para
Kinect com gráficos excepcionais, como
os do Call Of Duty. O Kinect funciona
com jogos desse tipo?
Sim, é só uma questão de tempo até
termos um bom catálogo deles no mercado.
Nós só não anunciamos jogos com gráficos
excepcionais ainda por uma questão de
estratégia. A Microsoft decidiu que, na
estreia do Kinect, em novembro passado,
os jogos deveriam agradar a todos os
públicos. Demos prioridade a títulos que
favorecem a interatividade e a diversão
em família. Os gráficos não eram o
objetivo principal. Mas, com o passar
dos meses, jogos hardcore, como os de
tiro em primeira pessoa, vão aparecer.
Num evento recente, apresentamos o Steel
Battalion, um jogo de guerra que usará
ao máximo os recursos do Kinect.
Agora que o Kinect ficou
pronto, em que você está trabalhando?
O Kinect é o começo de uma jornada.
Quero fazer as tecnologias evoluírem, e,
ao mesmo tempo, desaparecerem para o
usuário.
O objetivo é colocar o corpo
no comando?
Não necessariamente. O Kinect é muito
mais do que um dispositivo para usar o
corpo como controle. Ele capta também a
voz dos jogadores. O objetivo é fazer
com que a tecnologia entenda os humanos.
Quero que os sistemas fiquem mais
naturais. Eles deverão entender quem são
as pessoas, além de captar movimentos e
vozes. Quero que parem de usar o mouse.
Que resultados esse trabalho
vai trazer?
Em dez anos, as pessoas não vão
precisar mais aprender tecnologia e nem
apertar botões, digitar textos num
teclado ou usar o mouse para controlar
um computador. Vamos olhar para o mouse
e achar que é algo muito arcaico.
O Kinect chegará aos PCs?
Por enquanto, eu não sei de nenhum
plano para levá-lo a outras plataformas,
como o PC. Mas, como o Kinect é uma
revolução, ele não vai terminar sua
história no Xbox.
Os hackers já instalam o
Kinect em plataformas como Mac e Linux.
A Microsoft não está perdendo tempo?
Eles não são hackers. São entusiastas
por tecnologia e eu adoro pessoas assim.
Deixei partes do sistema abertas para
que eles brincassem e tivessem acesso à
tecnologia que está mudando o mundo dos
jogos. Gosto de inovação e sou diretor
de uma área de incubação de novas
tecnologias. Não faria sentido deixar o
Kinect totalmente fechado.