A antropóloga franco-canadense Charline Poirier acredita que são as diferenças do mundo que manterão a web viva no futuro. É neste conceito que mora a beleza e complexidade do trabalho dela ao redor do planeta. Charline percorre países para saber como as pessoas usam o computador dentro da casa delas. Em entrevista ao
Terra durante o 12º Fórum Internacional Software Livre(fisl), em Porto Alegre, a estudiosa falou dos resultados e das surpresas que encontrou em diferentes culturas.
Charline faz parte da equipe da empresa Canonical, que mapeia a experiência do usuário da web pelo Ubuntu a partir do próprio usuário, e não a partir da perspectiva do fabricante, e entende que o centro da discussão deve ser o ser humano, e não a ferramenta. Somente quando se pensa no desenvolvimento de softwares pelo ponto de vista do usuário inserido em uma determinada cultura é que se conseguirá evoluir neste aspecto.
No Brasil, ela aplicou o projeto em três cidades: São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. O período de análise dos dados obtidos ainda não está finalizado, mas ela afirmou que percebeu que o usuário brasileiro é curioso. Fato diferente foi encontrado por ela na China, por exemplo. "Por uma série de questões, os chineses são mais metódicos e experimentam fazer menos coisas diferentes", afirmou Poirier ao exemplificar que, naquele país, ela observou as pessoas que participaram do estudo ficavam aflitas quando não encontravam o botão de "refresh" no Ubuntu.
A intenção da Canonical ao realizar este estudo com a antropóloga está justamente na necessidade vista pela empresa de diferenciar o software dela em diferentes partes do globo de modo que ele possa "conversar" melhor com culturas distintas.
As redes sociais segundo Charline Poirier
Nos estudos com foco em redes sociais, Charline também diagnosticou os tipos de usuários destas ferramentas. Segundo ela, existem três grupos: os "door", os "mirror" e os "room" - "porta", "espelho" e "cômodo" em inglês, respectivamente.
A estudiosa entende que os usuários do grupo "door" são os que entram no Facebook, por exemplo, para saber do que está acontecendo. "As pessoas deste grupo normalmente estão em redes sociais para saber das notícias e acompanhar as atualizações dos amigos. Por isso é bastante normal que estas pessoas usem avatares em vez de fotos pessoais nos perfis", constatou Poirier.
No grupo "mirror", estão os usuários que fazem da experiência das redes sociais um reflexo do comportamento na vida real. "Estas pessoas são bastante competitivas e, normalmente, mostram a foto em que estão mais bonitas", exemplificou a antropóloga. Já os usuários do último grupo, o "room", fazem do mundo online um mundo à parte de fato: eles constroem uma personalidade e a vivenciam virtualmente.
Para Charline, não existe um tipo ideal. "Eles são diferentes e servem aos também distintos propósitos de cada usuário. Neste sentido, cada categoria é ideal para o que procura na web", concluiu a antropóloga. A visão de Charline Poirier sobre os usuários de redes sociais exemplifica o pensamento da estudiosa sobre a evolução da web e da construção de softwares. Para ela, eles, assim como os usuários, precisam ser diferentes entre si, respeitos fatores culturais e costumeiros de uma determinada sociedade.
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