A resposta curta para a pergunta do título: não, mas
está cada vez mais próximo. Não é segredo para ninguém que a Apple
vem há anos martelando na ideia de uma era pós-PC – em que o
computador pessoal não será mais a principal máquina nos lares dos
consumidores. O discurso do presidente-executivo da empresa, Tim
Cook, durante o lançamento do novo iPad, na última quarta-feira,
foi mais um exemplo de como a empresa enxerga o futuro do mercado de
eletrônicos. Ele falou coisas como: “De diferentes formas, o iPad
está reinventando a computação portátil”; “O PC não é mais o centro
do mundo digital”; “A Apple tem os pés firmemente plantados no
futuro pós-PC”; e “O mundo pós-PC favorece os nossos pontos fortes
(a saber, iPad, iPhone e iPod)”.Um dos slides da apresentação de
Cook comparava a venda de PCs com a de tablets no último trimestre
do ano passado. A Apple vendeu 15,4 milhões de iPads, superando as
vendas de PCs das principais fabricantes de computadores, como HP
(15,1 milhões), Lenovo (13 milhões ), Dell (11,9 milhões) e Acer
(9,8 milhões).
O mercado de tablets ainda não é maior do que o de PC, mas tudo
indica que isso é apenas uma questão de tempo. Para Dan Frommer,
articulista do ReadWriteWeb, essa é a grande oportunidade da Apple:
“Criar algo maior do que a indústria de PC jamais foi. Porque o iPad
é mais barato, mais portátil e mais natural do que qualquer PC topo
de linha jamais foi, mesmo os próprios Macs da Apple. E o novo iPad
é, por uma grande margem, o melhor iPad já feito. Portanto é o mais
forte candidato da Apple a liderar essa visão da pós-PC”, escreveu
ele.
A Apple domina 60% do mercado de tablets no mundo. Se tirado da
conta o Kindle, da Amazon, e o Nook, da Barnes & Noble, vendidos
especialmente nos EUA e que geram prejuízo para as duas
fabricantes, o market share é de 80%. Se o tablet se tornar mesmo o
principal produto de computação, a Apple está posicionada para
ocupar a posição que sempre sonhou conquistar no mercado de PCs, mas
que não conseguiu com seus Macs.
Passageiro?
Há quem acredite que a onda dos tablets é passageira. Que, com o
tempo, os usuários vão se dar conta de que é apenas um aparelho para
consumir conteúdo de forma fácil, ler revista, navegar na web e ver
algum vídeo – mas impraticável para tarefas produtivas, como
recortar uma foto ou escrever um texto.
O anúncio da Apple na semana passada, porém, mostra que a empresa
está tentando fazer com que muitas das tarefas antes feitas no PC
agora possam ser realizadas no tablet. A empresa adaptou vários
aplicativos do Mac para a interface touch, como o iPhoto, para
editar fotos, o iMovie, para criar e editar filmes, e o GarageBand,
o programa para compor e gravar músicas, que agora permite que
vários usuários toquem ao mesmo tempo. Além disso, dedicou bastante
tempo da apresentação para falar de games – os grandes beneficiados
do upgrade no hardware do novo iPad, principalmente o processador e
a tela de display de retina.
Em um texto intitulado “O iPad é imbatível”, Farhad Manjoo, da
Slate, disse que “todas as tendências na indústria mostram que muita
gente quer computadores menores, mais fáceis e mais gerenciáveis
para a casa e o trabalho, e isso significa tablet”. E completou.
“Se o iPad tornar-se o futuro da computação, as fortunas de
Microsoft, Intel, Dell e, até certo ponto, Hewlett-Packard vão
começar a ruir. Enquanto isso o Google, que ganha todo o seu
dinheiro através de anúncios, vai se ver numa situação em que
precisará falar com seus clientes por meio de um aparelho
fabricado por um rival hostil.”