Três jovens paulistas reuniram o espírito colaborativo do software livre com o empreendedorismo para botar em prática um projeto ambicioso: disponibilizar no mercado uma impressora 3D de baixo custo e totalmente em hardware aberto e software livre. Apenas quatro meses depois de iniciar um financiamento coletivo na internet, o trio expõe no 13º Fórum Internacional Software Livre (fisl13), que acontece em Porto Alegre até sábado, a sua criação.O grupo conseguiu arrecadar mais de R$ 30 mil no site de crowfunding Catarse em março deste ano, de um mínimo de R$ 23 mil que precisava para dar início ao projeto. Com o dinheiro, eles construíram um primeiro lote de 20 máquinas, 17 delas já vendidas. O grupo comercializa a impressora 3D de duas formas: ou um kit com todas as peças necessárias para quem quer fomentar seu laboratório de hardware de garagem e montar o próprio aparelho, por R$ 2,9 mil, ou a máquina já montada, por R$ 3,7 mil.
Felipe Sanches, Rodrigo Rodrigues da Silva e Filipe Moura se conheceram enquanto estudavam na Universidade de São Paulo (USP). Segundo Sanches, foi já no primeiro ano na faculdade de engenharia que ele conheceu o movimento de software livre. "Me apaixonei tanto pela tecnologia quanto pela parte política. Virei ativista", disse. Ele viajou pelos Estados Unidos e Europa depois de largar a faculdade de engenharia por sentir falta de "por a mão de massa" e de fazer um uso mais criativo da tecnologia, e foi dessa viagem que ele voltou com a ideia de montar por aqui uma impressora 3D.
Segundo Sanches, qualquer um pode comprar uma máquina semelhante fora do País por cerca de R$ 5,5 mil, enfrentando toda dor de cabeça com importação, alfândega e correios, o que pode levar meses. Mas o projeto deles não é simplesmente vender impressoras. "Um custo relevante da máquina vem de componentes importados e nós estamos tentando nacionalizar", disse. "O nosso projeto no Catarse previa também o comprometimento de publicar um tutorial online para qualquer um montar sua própria impressora", afirma.
Metamáquina
A impressora 3D usa plástico derretido para imprimir, camada por camada, qualquer objeto em três dimensões projetado em um sofware de modelagem na tela do computador. A grande sacada da Metamáquina, a empresa fundada pelo trio, é destacar que cada impressora 3D pode imprimir as partes plásticas necessárias para a construção da próxima impressora 3D, como o próprio nome da empresa diz.
Segundo Sanches, os principais clientes da Metamáquina hoje são arquitetos, engenheiros e robistas. Até pouco tempo, esses profissionais dependiam de impressoras industruais, que custam centenas de milhares de reais ou cobram caro também para imprimir uma única peça. Para ele, a ideia de ter uma máquina mais acessível é que cada engenheiro, por exemplo, possa fazer um uso mais "promíscuo" da tecnologia.
"Muitas vezes os profissionais tinham a ideia na cabeça, mas a impressão de uma peça era muito cara. Uma impressora 3D barata muda a dinâmica do trabalho", afirma. "Eu prevejo um uso criativo das máquinas no futuro. Ela vai propiciar que qualquer 'professor Pardal' coloque em prática sua ideia", afirma. Alguns pesquisadores da área de medicina procuraram o grupo para começar a pesquisar a impressão experimental de órgãos, em um estado ainda inicial, aproveitando o custo baixo do projeto.
A impressora usa como matéria-prima dois tipos de plástico, hoje ainda importados: o ABS, feito a base de petróleo e matéria-prima das peças de Lego, ou o PLA, um polímero a base de milho que, além de ser mais sustentável, tem maior qualidade. Uma bobina de 1 kg desses plásticos custa entre R$ 150 e R$ 200. Pode parecer caro, mas eles rendem: com apenas 350 g de plástico é possível imprimir todo o plástico necessário para construir uma nova impressora 3D.
Software livre
Quando voltou do exterior e antes de fundar a Metamáquina, Sanches também foi responsável por fundar o Garoa Hacker Clube, um dos primeiros hackerspaces do Brasil. Foi depois de conhecer esses laboratórios colaborativos de troca de conhecimento na Europa que ele quis "plantar essa semente na USP".
Ele se orgulha do trabalho e de ter conseguido criar uma empresa que hoje é seu ganha-pão mas se mantém dentro do pensamento aberto do software livre, mostrando que a causa não é simplesmente. "Eu odiaria passar o dia inteiro trabalhando em software ou hardware proprietário para depois, à noite, militar pelo software livre", disse.
Durante o fisl, o grupo monstará três impressoras em Porto Alegre. A primeira delas foi comprada pelo grupo responsável pelo Ônibus Hacker, que está estacionado no evento com oficinas. Outra foi doada para a Associação Software Livre, que organiza o evento, em troca do estande onde a Metamáquina expõe seu projeto. A terceira foi vendida para um grupo de mais de 100 pessoas da cidade que fez um crowdfunding próprio para investir no projeto da Metamáquina no Catarse e ter sua própria impressora.
Além disso, eles serão palestrantes durante o evento. No sábado, às 18h, eles sobem ao palco para falar sobre impressão 3D com hardware aberto e software livre. O Fórum Internacional Software Livre acontece até sábado no Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre.
Terra Noticias